Pressão de 12 por 8 é reclassificada como pré-hipertensão; entenda como isso afeta o estilo de vida dos pacientes

19 setembro 2025 às 13h29

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Profissionais de saúde em todo o Brasil devem adotar um novo parâmetro para interpretar a pressão arterial dos pacientes. A partir de agora, pessoas com pressão de 12 por 8, antes considerada normal e até mesmo a “ideal”, passam a ser classificadas como em estado de pré-hipertensão. A decisão foi anunciada nesta quinta-feira, 18, durante o 80º Congresso Brasileiro de Cardiologia, realizado em São Paulo.
A atualização foi formalizada em uma diretriz elaborada em conjunto pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), pela Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) e pela Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH).
O que muda com a nova classificação
Até então, a pressão arterial considerada normal era de até 12 por 8. A partir de agora, valores entre 12 por 8 e 13,9 por 8,9 (120-139 mmHg sistólica e/ou 80-89 mmHg diastólica) passam a ser classificados como pré-hipertensão.
O objetivo da reclassificação é reforçar a prevenção, ampliando o olhar médico para pacientes que ainda não desenvolveram a hipertensão de fato, mas que já apresentam um risco maior de complicações como infarto, AVC e insuficiência renal.
Em entrevista ao Jornal Opção, o cardiologista Dr. Arthur Pipolo explica os impactos dessa mudança. Segundo ele, “não é doença, é um sinal amarelo. Quem está em 12 por 8 não precisa de remédio, mas deve reforçar hábitos saudáveis. É uma fase de prevenção para não virar hipertensão de verdade.”
O médico explica ainda que estudos recentes demonstraram maior risco de eventos cardiovasculares em pessoas que, mesmo dentro dessa faixa antes considerada normal, não mudaram seus hábitos. Agora, antes que a hipertensão esteja instalada, os médicos passam a identificar e orientar pacientes nessa zona de risco. “O paciente não precisa se desesperar, mas deve encarar como um aviso: se não cuidar agora, pode virar hipertenso mais cedo. 12 por 8 não é mais ‘nota 10’, é um alerta.”

Já o cardiologista Dr. Marcos Perillo reforça que a decisão acompanha a tendência internacional. Ele lembra que as diretrizes europeias já haviam endurecido o conceito, chegando a adotar valores ainda mais rígidos.
“A diretriz europeia, que foi uma autorização mais recente, ela já trouxe valores mais baixos inclusive até 12 por 6. Então, seguindo essa tendência mundial, a sociedade brasileira com seus dados e estudos, concordou com essa ideia de alertar a população num momento mais inicial da doença cardiovascular. O grande objetivo da cardiologia é prevenir”, afirma ao Jornal Opção.
Segundo ele, o grande divisor está em compreender que, acima de 12 por 8, já começam a surgir alterações nas artérias que, ao longo do tempo, podem evoluir para doenças cardiovasculares graves. “O cardiologista precisa agir e o paciente precisa se conscientizar que essa faixa requer medidas para não deixar ela chegar em um 14 por 9 e não colher os problemas que vão acontecer a médio e longo prazo.”
Ajuste nas metas de tratamento
A nova diretriz não altera apenas o conceito de pré-hipertensão, mas também redefine as metas de controle para quem já possui diagnóstico de hipertensão. Antes, o objetivo era manter os níveis abaixo de 14 por 9. Agora, o patamar foi reduzido para 13 por 8, reforçando a necessidade de ajustes nos tratamentos já existentes.
“Esse 13 por 8 é a meta para quem já está diagnosticado, né? Então para o paciente não ficar confuso, a meta para quem não é hipertensivo é abaixo de 12 por 8 e para quem já toma medicação, para quem já tem o diagnóstico, a gente vai ajustar a medicação até a gente chegar nesses valores abaixo de 13 por 8”, explica Dr. Perillo.

Ele também destaca os avanços na chamada polipílula, que reúne duas ou até três substâncias em um único comprimido, facilitando a adesão ao tratamento. “Hoje a gente consegue dar esses três medicamentos em uma tomada só. Em um comprimido pela manhã, é algo que a gente está conseguindo implementar e o paciente tomando certinha medicação, aderindo ao tratamento, ele consegue trazer essa meta para 13 por 8.”
A diretriz também traz orientações sobre o início do tratamento medicamentoso. Quem registrar valores entre 13 por 8 e 13 por 9 por três meses consecutivos, sem resultados a partir de mudanças no estilo de vida, pode ter a indicação para começar o uso de medicamentos. Já aqueles com pressão a partir de 14 por 9 devem iniciar a terapia medicamentosa imediatamente.
Pressão e prevenção no dia a dia
Os médicos explicam que a mudança de classificação vai exigir maior vigilância, especialmente por parte dos profissionais da atenção primária. “O médico de família será a linha de frente dessa mudança. Eles vão identificar pacientes já em pré-hipertensão e reforçar cuidados de prevenção. A conduta não é medicar mais, mas orientar melhor”, diz o Dr. Pipolo.
Na prática, o acompanhamento deve ser mais frequente. Se antes muitos pacientes retornavam ao consultório apenas a cada seis meses ou um ano, agora a recomendação é de consultas a cada quatro semanas até estabilizar os níveis de pressão. Dr. Perillo ressalta que o primeiro passo é ajustar a alimentação e reduzir o consumo de sal e alimentos ultraprocessados.
“A gente precisa manter a pressão do limite para baixo. Então quando chegar no 12 por 8 a gente já vai começar a tomar medidas não farmacológicas, não medicamentosa, então a gente vai começar a pedir para o paciente reduzir a ingestão de sódio, do sal, de comidas industrializadas em geral, pedir para aumentar a ingestão de potássio, por exemplo, o que todo mundo conhece, banana, mas existem folhas verdes escuras, tudo isso tem muito potássio, isso ajuda na regulação da pressão”, explica.
Além da dieta, ele destaca a importância de seguir o modelo DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension), validado por sociedades médicas em todo o mundo. “Ter uma dieta à base de oleaginosas, que são as castanhas, farelos, aveia, linhaça, chia, azeite extra virgem, mais carne e evitando gordura saturada, e em geral menos gordura também, faz parte dessa dieta DASH.”
Outro ponto citado pelo Dr. Marcos Perillo é a prática de exercícios físicos. “A recomendação atual é, no mínimo, 150 minutos de exercício moderado na semana e o que está super na moda, é o tratamento da obesidade. A obesidade hoje não é uma doença que a gente pode tolerar também, tem que ser tratada assim que diagnosticada porque a gente sabe que isso pode levar a uma irregularidade na pressão na maioria dos casos”, reforça o cardiologista.
Evidências científicas e risco cardiovascular
A decisão das sociedades médicas foi baseada em evidências científicas que mostram que valores menores de pressão arterial estão associados a menor risco de lesão nos órgãos-alvo, como coração, rins e cérebro.
“Pesquisas que vêm comparando as medidas de pressão vêm mostrando para a gente que valores menores são melhores, são mais adequados para a gente prevenir o que a gente chama de lesão arterial e consequentemente a lesão dos órgãos alvos”, destaca o Dr. Perillo.
Quando a pressão se mantém controlada em níveis como 11 por 7, há proteção vascular e menor desgaste desses órgãos. “Mesmo que a gente não esteja ali no 14 por 9, que é o hipertenso clássico, a gente já começa a ter um grau de desgaste dessas artérias e desses órgãos alvos. Então a gente com essa meta mais rigorosa, digamos assim, a gente está pensando lá na frente, para que esse paciente, na hora que ele chegue ali nos seus 70, 80, 90 anos, ele tenha menos lesão de órgão alvo possível e com isso ele consiga ter, além de uma diminuição de mortalidade, uma maior longevidade, que é viver mais e melhor.”
O Dr. Arthur Pipolo complementa que a mudança reflete a evolução da medicina. “A medicina evolui conforme as evidências. Mesmo em 12 por 8 já existe mais risco de infarto e derrame. O foco é prevenção.”
Estima-se que cerca de 30% da população adulta brasileira já viva com pressão alta diagnosticada, e o número pode ser ainda maior se considerados os casos não diagnosticados. Para o Dr. Perillo, o cuidado precisa ser levado mais a sério pelos pacientes.
“A hipertensão é uma doença que acomete um terço da população no Brasil e é a doença que está diretamente relacionada a todas as doenças cardiovasculares que é o que mais mata no mundo. Então, assim, a hipertensão é uma doença que não é muito levada a sério como a gente gostaria, porque é ela que se for pegar no pé da letra, ela é a doença que mais mata no mundo.”
O grande desafio agora está na aplicação dessas mudanças no cotidiano dos atendimentos. “A mudança não é para assustar, mas para conscientizar. Quanto antes a pessoa adotar hábitos saudáveis, menor a chance de precisar de medicamentos e maior a chance de proteger o coração e o cérebro. Cuide da pressão cedo para não precisar de remédio depois”, finaliza o Dr. Pipolo.
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