O presidente da Câmara de Palmas, José do Lago Folha Filho (PSDB), convocou o suplente de vereador Mauro Mota (PSL) para ocupar uma cadeira no Parlamento a partir desta terça-feira, 13. Mauro irá para a vaga deixada pelo vereador Márcio Reis (UB), que assume a presidência da Fundação Municipal da Juventude a convite da prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB). A decisão terá reflexo na disputa pela prefeitura da capital em 2024.

Uma pequena alteração no plenário do Legislativo pode representar uma grande mudança no cenário político com vistas a 2024. Com essa decisão, a prefeita consegue ao mesmo tempo ampliar sua base de apoio, tendo em vista que possui maioria apertada no plenário – na última eleição para a mesa diretora da Câmara, o candidato governista obteve apenas 10 dos 19 votos – e, ao mesmo tempo, aponta para o futuro. A mudança mostra que prefeita trabalha para ampliar sua capacidade de influenciar na escolha do próximo gestor ou gestora de Palmas.

Ao optar por convidar o vereador Márcio Reis para ocupar cargo no Paço Municipal, na prática a prefeita busca uma aproximação com a deputada Vanda Monteiro (UB), mulher do vereador e nome certo nas eleições de 2024 como candidata a prefeita. Vanda disputou as eleições de 2020 e terminou em 5º lugar, tendo conseguido 11.079 votos, o que equivale a 8,68% dos votos válidos. 

Sai um adversário e entra um aliado. De quebra, a prefeita atrai a deputada Vanda Monteiro para a base, o que sinaliza com a possibilidade de entendimento para 2024. Vanda era uma das principais vozes de oposição à prefeita, tendo disputado as eleições de 2020 fazendo duras críticas à gestão da prefeita. Agora pode ser tornar uma aliada estratégica.

Em Brasília, o deputado federal Ricardo Ayres (Republicanos) acompanha com atenção os desdobramentos políticos de Palmas. O deputado é o grande beneficiário da aproximação da prefeitura Cinthia com a deputada Vanda Monteiro, até então adversárias e inimigas políticas. Ayres, tido como o nome preferido do governador Wanderlei Barbosa pode ser ungido por uma frente ampla que inclui o Palácio Araguaia e o Paço Municipal. Cinthia estaria dando sua colaboração para fortalecer a frente incluindo líderes com peso político em Palmas.

Vanda é aliada de primeira hora do governo Wanderlei Barbosa (Republicanos), mas não era próxima à prefeita. Com esse gesto de aproximação, ganha força a frente governista com Wanderlei Barbosa, Cinthia Ribeiro, Ricardo Ayres e Vanda Monteiro, numa articulação mais à direita e que terá como principal adversário alguém do campo de esquerda ou centro-esquerda. O nome mais provável numa eventual polarização com a direita é o do ex-prefeito Carlos Amastha (PSB), que, embora filiado a um partido socialista, faz questão de dizer que não é de esquerda, mas socialdemocrata.

Direita unida
Ainda é cedo para se falar de uma aliança entre Cinthia e Vanda em 2024. Em tese, a prefeita, que não pode disputar a eleição, anda tem a ganhar ou perder com a união ou não de pretensos candidatos a prefeito. Na prática, faz muita diferença o envolvimento da prefeita na articulação de uma estrutura partidária para disputar a prefeitura da capital. Principalmente quando essa estrutura partidária servir para aprofundar os entendimentos entre ela e o governador Wanderlei Barbosa.

Lembremos que, em 2026, o governador Wanderlei será candidato a senador, com grande possibilidade de se eleger. Pelo prestígio de hoje, não apenas se elege como pode contribuir decisivamente para levar o companheiro de chapa, já que serão duas cadeiras em disputa para o Senado. A prefeita da capital é vista como um nome à altura dessa missão, a de compor chapa com o governador para o Senado. Esse projeto começa a ser testado na eleição para a prefeitura de Palmas, onde ambos estarão no mesmo palanque pela eleição do candidato em comum.

Uma eventual aliança entre Cinthia e Vanda, como se especula a partir da posse do vereador Márcio Reis na Fundação da Juventude, aponta para mudança importante no cenário de 2024. Vanda é um dos nomes emergentes da direita em Palmas, que surgiu e cresceu fazendo em oposição à prefeita. Surge em 2016 como vereadora eleita em Palmas; em 2018, na onda bolsonarista, se elege deputada estadual. Em 2020 disputa a Prefeitura explorando voto evangélico e de direita. Não se elegeu, mas conseguiu fazer seu marido, Márcio Reis, vereador e o irmão Zorivan Ribeiro (Solidariedade), suplente de vereador.

Vanda pode ajudar a dividir os votos evangélicos e de direita que, segundo analistas, representam quase 30% do colégio eleitoral da Capital. Nesse caso, é um nome importante para isolar outro nome da direita evangélica que vem crescendo de forma assustadora: a deputada Janad Valcari, por conta de promoções, como o caminhão de prêmios da deputada Valcari, no Dia das Mães, que a transforma em deputada “boazinha” que distribui presentes para as donas de casa. Um tipo de ação que os adversários chamam de compra de voto, mas que continua sendo realizada, sem nenhuma restrição.

É cedo para falar em aproximação, mas o caminho está aberto. O entendimento entre Cinthia e Vanda, também tem um viés ideológico. Em tese é uma aproximação entre direita e esquerda. Cinthia não chega a ser de esquerda, mas durante as eleições, como se opunha ao bolsonarismo, era tida como tal. Na verdade, as duas líderes representam segmentos diferentes em Palmas. Elas, juntas, incomodam tanto a direita quanto a esquerda, pois tiram votos dos dois lados. Talvez seja esse o aspecto novo nesta aproximação: a formação de uma frente que seja competitiva tanto no campo da direita como no da esquerda.