Jornadas exaustivas, o risco de acidentes e, principalmente, o alto valor dos combustíveis fez com que o número de motoristas de aplicativo caísse 50% desde 2020, em Goiás. Se há cinco anos – início do ápice da pandemia – o número de motoristas era 40 mil, atualmente esse dado está em torno de 20 mil, conforme previsão da Associação dos Motoristas de Aplicativos do Estado De Goiás (Amago).

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A categoria diz que o preço dos combustíveis – que atingiram em janeiro o maior preço em dois – é o principal motivo da evasão. Em Goiás, a gasolina é comercializada, em média, por R$ 6,44, enquanto que o álcool é vendido a R$ 4,44, conforme informado pelo site da Petrobras. O valor é o terceiro mais caro do Brasil.

“O consumo de combustível é muito grande por conta do trânsito pesado, com muito semáforo, congestionamento. Muitos motoristas antigos já migraram para motos ou voltaram a trabalhar de carteira assinada”, explica o motorista de app e um dos representantes da Amago, Daniel Augusto. 

Daniel conta que o número de carros trabalhando em aplicativos como Uber, 99Pop e inDrive pode ser ainda menor, visto que há casos de motoristas que usam as plataformas como “bico” (renda extra) e não como trabalho fixo. O fato preocupa a categoria, que chegou a tentar criar o próprio app de transporte em Goiás. O projeto, no entanto, teve baixa adesão dos próprios trabalhadores e clientes. 

Outro cenário que tem impactado diretamente os condutores de carros é o crescimento da frota de entregadores e/ou motoristas de motos. Buscando se manter como “chefe de si mesmo”, os motoristas têm deixado o carro na garagem e até mesmo os vendido para se aventurar no transporte por duas rodas – uma opção mais barata e rentável. 

“De carro, a gente ganha pouco mais de R$ 1 real por km rodado. Mas ainda tem a manutenção do carro, a parte da plataforma. Trabalhar como motorista de app hoje está difícil”, exaltou. 

Terceiro combustível mais caro do país 

Goiás comercializa a terceira gasolina mais cara do Brasil entre os 26 estados brasileiros, com um preço médio de R$ 6,44, de acordo com a Petrobras. Porém, o território goiano também é responsável por comprar o 2º líquido mais caro vendido pela empresa.

O valor do produto enviado pela Petrobras chega aos dutos do Terminal de Senador Canedo a R$ 2,33 (sem impostos). É apenas R$ 0,10 centavos mais barato do que o vendido a Mato Grosso (R$ 2,43). 

“A Petrobras não informa porque vende a gasolina a esse valor. Há lugares muito mais remotos, que não têm o transporte por duto (que tem no estado), que é o mais barato que existe. Goiás não é o lugar mais distante que tem de refinaria para justificar esse preço”, diz o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo no Estado (Sindiposto-GO), Márcio Andrade. 

Márcio afirma que, na análise de mercado, a única justificativa plausível para o valor da gasolina vendida pela empresa é a baixa competição com produtos importados no estado. Ou seja, há menos players vendendo para as distribuidoras. 

A falta de concorrência, de acordo com o presidente do Sindiposto, faz com que a Petrobras fique livre para vender o produto a um preço acima da média nacional – atualmente com o litro, sem impostos,  cotado a R$ 2,21.

“A Petrobras não tem transparência nos preços, no sentido de que a gente possa realmente analisar como no posto. O posto é obrigado a informar o preço médio de compra, de produto, preço médio do imposto. Já a Petrobras não tem isso”, concluiu.

Vale ressaltar que o preço dos combustíveis é afetado diretamente pelo valor do barril de petróleo, o dólar e também o transporte. O Jornal Opção procurou a Petrobras para que se posicionasse, mas não obteve retorno.