Praça Cívica: a última madrugada dos operários

24 outubro 2015 às 04h28

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Imagens mostram bastidores do trabalho noturno de homens de diferentes estados do País — e até do Haiti — para deixar cartão de visitas da capital pronto para inauguração

Texto e fotos: Marcello Dantas
Uns gritam Vila Nova, outros não sabem se foram convidados para a inauguração. Um acende cigarro, outro tira a poeira das mãos. Enquanto o Setor Marista bomba com boates ao som de músicas sertanejas e eletrônicas, trabalhadores do Maranhão, Pará, Tocantins e até do Haiti — são quatro — dão o tapa final nas obras de requalificação da Praça Cívica, no Centro de Goiânia. É a última madrugada.
Tem aqueles que estão labutando desde as 7 horas de sexta-feira, 23. É a véspera da inauguração da esperada revitalização. É para deixar o coração da capital mais bonito. Enquanto Raimundo acha que vai cumprir horário até as 10 horas, o colega ao lado diz que o trabalho vai parar ao meio-dia. “De virar a noite assim foi só em agosto”, relembra.
O importante é ter força no braço para continuar. Afinal, é a grande obra: sai o estacionamento e entram as pessoas. “É ganhar o dia com os 50% da hora-extra”, sussurra um operário da firma. Sabem que a restauração não será entregue por completa.
Outro grita “refri, coca, coca”, mas o haitiano insiste em mandar o companheiro “te catar”, com sotaque pesado. Talvez só queira um banho frio e um suco de maracujá com abacaxi. Refrescar a cabeça e pensar em, quiçá, tirar um cochilo para ver a festa que vai mostrar a nova Praça Cívica, no fim da tarde de 24 de outubro.
Douglas, negro, com olhos avermelhados e dedos calejados, olha e lapida sem muito entender o quê. É a prateada e reflexiva obra, talvez prima, de Siron Franco.
São 82 anos de Goiânia, mas uma só madrugada de ralação dura. Até o fim. Quem vigia é a lua entre as nuvens. Pedro Ludovico Teixeira está lá, em seu cavalo pomposo, negro. Vultuoso. É a última lua e madrugada que separam a praça, antes estacionamento, de um novo e velho espaço de referência.