Porangatu, na Região Norte de Goiás, está na fase final de uma operação ambiental inédita de retirar todos os jacarés e capivaras da Lagoa Grande, um dos principais pontos turísticos e de lazer da cidade. Desde 2021, 110 jacarés e 78 capivaras foram translocados para rios próximos, após um crescimento descontrolado das populações e um grave acidente envolvendo uma criança.

Ao Jornal Opção, o secretário do Meio Ambiente, Igor Guimarães Pinheiro, afirmou, nesta sexta-feira, 31, que os jacarés são nativos da Lagoa Grande, que é uma lagoa natural. “Ela já existia nesse ponto, só que no decorrer do tempo foi se urbanizando os arredores. Hoje é uma das regiões mais valorizadas da cidade. Acabou que se gerou uma pressão social sobre esses animais”, explicou.

Com o avanço urbano e a ausência de manejo anterior, os jacarés ficaram ilhados na lagoa e se reproduziram naturalmente. “No ano de 2021, chegaram a ter 150 animais. Houve uma superpopulação associada à área urbana, e começaram os conflitos entre sociedade e fauna. No período de chuva, era comum os animais saírem da lagoa e adentrarem comércios. Tinha que haver resgate e retirada”, relatou.

O episódio mais marcante foi o ataque a uma criança de um ano e oito meses, que teve o braço amputado. “Graças a Deus, essa criança não foi a óbito, mas foi um acidente trágico. Na época não era essa equipe que conduzia a fauna, mas com esse acidente se viu a necessidade de acelerar o procedimento”, disse Igor.

O município já havia solicitado autorização ao Ibama, mas o acidente agilizou a emissão da licença. Desde então, o controle vem sendo feito gradualmente. “Esses animais possuem uma reprodução alta. É natural. O jacaré é muito rústico, topo de cadeia, não é predado por outros animais na lagoa. Vai se reproduzindo com facilidade”, explicou o secretário.

A Lagoa Grande é também um espaço de visitação e lazer. “Hoje é um dos principais pontos turísticos de Porangatu. As pessoas usam para esporte, lazer, caminhada, corrida. Temos o centro cultural, o sindicato rural, o bosque da lagoa com área para crianças. É um ponto turístico e social da cidade”, apontou.

A iniciativa de retirada partiu do próprio município. “Para qualquer manejo de fauna, mesmo com corpo técnico, precisamos de autorização do Ibama. A gente chama de translocação. Vamos inserir o animal em um novo ecossistema, então o Ibama acompanha. Não foi obrigação, o município solicitou a licença de manejo”, disse.

Questionado sobre o acidente de 2021 com um bebê, o secretário apontou que desde o acidente, não houve novos registros de ataques. “Só aquele. É o único registro que existe. Inclusive, anteriormente também não tinha nenhum”, afirmou.

Agora, todos os jacarés estão sendo retirados. “Estamos na fase final do projeto. Envolvia também o manejo de capivaras, que também tinham superpopulação. Restam só quatro jacarés, pelo último censo. Só um é de porte maior. A gente faz monitoramento constante, porque a lagoa tem canais que ligam a outras lagoas. Novos animais podem chegar”, disse.

Sobre os números, Igor detalhou. “Jacarés foram 110 retirados desde 2021. As capivaras, preciso confirmar, mas chegamos a ter 78 animais”, destacou. Após a entrevista, o secretário confirmou o número à Reportagem.

Os animais são levados para rios próximos, com critérios rigorosos. “São rios autorizados pelo Ibama, para não gerar desequilíbrio. A licença obriga que não divulguemos o ponto específico, para evitar predação e perturbação. Na soltura, fazemos análise de comportamento, tamanho, sexo. Animais maiores vão para um ponto, menores para outro. Coletamos dados biológicos: tamanho de crânio, corpo, sexo. Conforme a morfologia, damos a destinação adequada”, afirmou.

O manejo é considerado sustentável. “O ideal é que tivesse sido iniciado antes, para não chegar à superpopulação. Pela lagoa ser muito urbanizada, esse manejo é adequado e favorável ao ecossistema. Como são animais topo de cadeia, pode gerar desequilíbrio abaixo. Retirando eles, temos mais facilidade de cuidar do ecossistema”, apontou.

Relembre o caso

Uma criança de 1 ano e 8 meses foi atacada por um jacaré, na manhã do dia 23 de junho de 2021, em Porangatu (GO), enquanto alimentava tartarugas na orla de uma lagoa. O animal a puxou repentinamente, mas a babá conseguiu impedir um desfecho ainda mais trágico ao abrir a boca do réptil e resgatar a criança. Após o ataque, a vítima foi atendida pelo Samu e transferida para o Hospital Estadual de Urgências de Goiânia (Hugol), onde passou por cirurgia para amputação do braço afetado.

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