Por trás da etiqueta: Amanda Daher transformou expressão pessoal em marca de joias contemporânea

05 setembro 2025 às 13h00

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O cenário da moda em Goiás pulsa criatividade, e, para acompanhar essa efervescência, o Jornal Opção apresenta mais um episódio da série dedicada a profissionais que fazem da moda uma linguagem cultural, fortalecendo o nome do Estado no circuito nacional. Depois de abrir a série com a estilista Leticia Salvagni, hoje o destaque é para a artista, designer e joalheira Amanda Daher, que desde julho de 2019 dá vida à marca que leva seu nome: Amanda Daher Adornos Contemporâneos.
Formada em Design pela PUC-GO em 2011, Amanda trilhou um caminho de descobertas até se firmar no universo da joalheria. De início, não cogitava trabalhar nesse campo, mas a vida foi costurando experiências que a levaram a enxergar na ourivesaria uma forma potente de expressão. Ao longo de mais de uma década, construiu identidade própria, equilibrando técnica, sensibilidade artística e um olhar voltado para a experimentação de materiais. Hoje, é referência em joalheria autoral no Estado.
Ao Jornal Opção, Amanda compartilhou que seu vínculo com a moda começou de forma íntima, antes mesmo de qualquer decisão profissional. “A moda sempre foi uma forma de comunicação para mim. Por ser uma mulher grande achava poucas roupas que me identificava, então os acessórios e jóias me contemplavam, sempre me expressei com elas. Mas nunca havia pensado em trabalhar com algo relacionado.”

Essa relação pessoal, ao longo dos anos, transformou-se em um caminho artístico. Durante a faculdade, teve contato direto com o universo das joias ao trabalhar como assistente de uma joalheira contemporânea. Mesmo que naquele período o ofício ainda lhe parecesse distante, a experiência deixou marcas e abriu horizontes.
Do design ao encontro com a joalheria
Amanda recorda que, ao se formar, seu foco estava no design de mobiliário. A graduação, segundo ela, abrangia várias áreas – gráfico, interiores e produto –, mas não oferecia profundidade em um segmento específico. “Meu foco era o mobiliário, mas saí com pouco repertório e um mercado de trabalho muito difícil.”
De volta à cidade natal, Anápolis, encontrou o curso técnico de joalheria no antigo Instituto de Gemologia, no Distrito Agro-Industrial de Anápolis (Daia). A experiência foi transformadora. “Ali a plasticidade do processo da joalheria me encantou. E também conseguir materializar minhas ideias com minhas próprias mãos. Soube que trabalharia com isso.”
Daí em diante, vieram cursos complementares em Brasília, com Guillermo Teolier, e em São Paulo, no antigo Espaço Mix. Atualmente, participa de grupos voltados para a joalheria contemporânea, como Algures e Núcleo, sempre em busca de novos diálogos criativos.

Ao revisitar o início da trajetória, Amanda lembra que o grande desafio estava em educar o público sobre a joalheria autoral. “Há mais de 10 anos atrás, o grande desafio era a formação do cliente/público. Não sabiam o que diferenciava a joalheria autoral de uma bijuteria ou semi jóia. Até hoje essa dúvida é comum. Mas a joalheria de bancada se popularizou muito na última década e hoje encontramos várias marcas de joalheria autoral.”
Esse movimento permitiu que criadores como ela encontrassem espaço para desenvolver um trabalho reconhecido, onde exclusividade e identidade são os pilares. Foi após oito anos trabalhando para diferentes marcas que Amanda percebeu a necessidade de assumir seu próprio caminho. “Eu reconheci meu potencial único de criação e identidade. Percebi que deveria seguir um caminho que pudesse expor meu pensamento.”
Três vertentes, uma mesma essência
No ateliê, Amanda equilibra diferentes frentes criativas. Desenvolve linhas comerciais de fácil reprodução, produz peças exclusivas em ouro e pedras preciosas e, ainda, mergulha em um trabalho mais artístico, explorando a joalheria contemporânea com materiais não convencionais. “Já usei tanto tecido, quanto parafina e slime. A experimentação de materiais faz parte do meu processo de criação. O material é parte da comunicação. Mas o metal sempre estará lá, quando não for o ator principal estará sendo suporte ou elemento de ligação.”
Sua obra tem como pano de fundo uma curadoria intuitiva de referências. A infância em contato com a natureza, o universo das fábulas, desenhos animados, elementos da cultura pop e a herança árabe da família moldam seu repertório. “Reconheço minha ancestralidade árabe, no gosto desde sempre pelos adornos, uma certa mística e um olho para padrões.”
Seu trabalho vai além da estética, mergulhando no simbólico. “Olhar para tudo isso com as lentes da psicanálise é algo que me desperta. Faço muito essa investigação do inconsciente através das formas.”
O processo de criação de Amanda começa longe da bancada, no papel. “Sempre começo um projeto pelo desenho livre, bem solto e intuitivo, com pastel, lápis de cor ou tinta, e dessas formas que surgem vou reconhecendo os padrões do que quero materializar. Depois penso em como colocar isso numa tridimensionalidade e qual material usar.”
A investigação do inconsciente é parte base de seu trabalho. Ao revisitar memórias, símbolos e repetições, ela constrói uma linguagem própria. Não à toa, cita o poeta Manoel de Barros para explicar como consolidou sua identidade criativa: “Repetir, repetir… até ficar diferente. Repetir é um dom de estilo.”
Embora ainda planeje desenvolver projetos que dialoguem mais diretamente com a cultura goiana, Amanda acredita que sua marca já reflete o Estado em sua essência. “Creio que carrego nossa cultura na maneira da marca se comunicar com clientes, fornecedores e paridades. Sempre levo nossa cultura a eventos.”
Esse compromisso com a autenticidade, segundo ela, é o que diferencia seu trabalho. “Acredito que quando se tem compromisso com a autenticidade, seu trabalho vai se diferenciar.”
Aprendizados e resiliência
O percurso até aqui trouxe lições valiosas. Amanda reflete que, para alcançar resultados, foi necessário lidar com as dificuldades de maneira prática. “O caminho sempre aparece conforme se anda. E há uma grande caminhada ainda. Mas aprendi a fazer com o que se tem e não ficar esperando as condições ideais.” A fala revela uma filosofia de trabalho que se traduz em cada peça criada no ateliê.
Apesar do crescimento da marca, Amanda ainda vive a fase de usar múltiplos chapéus. “Ainda estou naquela fase de fazer um pouco de tudo.” Mas o crescimento é palpável. O que começou sozinha agora é um coletivo. “Hoje conto com pessoas na produção, na comunicação e na parte contábil. Tenho 5 colaboradores fixos”, compartilha, orgulhosa da equipe que faz a engrenagem girar.
Projetos e perspectivas futuras
Os próximos meses prometem novas conquistas. Amanda se prepara para expor no Brazil Jewelry Week, evento de destaque da joalheria contemporânea no país. “Irei expor uma parte mais conceitual e artística do meu trabalho.”
Mas seu olhar também está voltado para casa. “Tenho vontade de trazer esse tipo de evento para Goiânia.” E, num movimento de expandir e compartilhar conhecimento, anuncia: “Farei workshops de processos criativos no novo ateliê que estou montando no Parthenon Center.”

Em seu ateliê, onde o som do metal sendo trabalhado se mistura com a concentração criativa, Amanda personifica em cada anel, colar ou broche a conclusão de um diálogo interno que começou com um desenho solto e intuitivo. Com sua trajetória, Amanda Daher reforça a potência do universo fashion goiano e se soma a um movimento crescente de profissionais que tornam a moda de Goiás cada vez mais relevante no Brasil e no mundo.
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