Polícia conclui que não houve peculato em retirada de trator da prefeitura de Formosa; prefeita comemora decisão
11 dezembro 2025 às 14h30

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Após semanas de embates políticos e suspeitas de desvio de patrimônio público, a Polícia Civil de Goiás (PC-GO) encerrou, nesta quarta-feira, 10, o inquérito sobre a retirada de um trator da prefeitura de Formosa e descartou a existência de peculato. O relatório, que identificou apenas irregularidades administrativas, foi celebrado pela prefeita Simone Ribeiro (UB), enquanto a Câmara decidiu abrir uma CPI mesmo assim.
O Inquérito Policial nº 2506490360, conduzido pela 1ª Delegacia de Polícia de Formosa, analisou depoimentos, documentos, laudos e até celulares apreendidos de servidores. O relatório final apontou falhas administrativas, mas descartou qualquer intenção criminosa.
Entenda o caso
No dia 6 de novembro de 2025, o vereador Marquim Araújo recebeu a informação de que um trator da Prefeitura estava sendo carregado por uma carreta pertencente a uma empresa de reciclagem. Ao chegar à garagem municipal, constatou que a máquina havia sido retirada.
A situação gerou imediata repercussão política. O Superintendente de Transporte, Vandir Ferreira Dias, afirmou que o trator havia sido levado “por engano”. Ele telefonou ao servidor responsável pelo embarque, Kayê de Oliveira Caixeta, e determinou o retorno imediato do equipamento, o que ocorreu poucas horas depois.
A retirada ocorreu durante a execução de um convênio entre a Prefeitura e a OSCIP Construindo Amanhã, autorizada pela Lei Municipal nº 1.105/2025. A organização transforma sucatas em cadeiras de rodas e equipamentos ortopédicos destinados a pessoas com deficiência.
Trator já era considerado obsoleto
Documentos anexados ao inquérito mostram que o trator Caterpillar D7 estava parado havia mais de dois anos e tinha manutenção estimada em mais de R$ 100 mil. Antes mesmo de ser doado ao município, o Estado de Goiás já havia classificado o equipamento como ocioso, obsoleto e antieconômico.
Falhas administrativas, mas sem dolo
A investigação apontou que Kayê Caixeta, então Gerente de Frotas e presidente da Comissão de Avaliação de Bens Inservíveis, acompanhou o embarque e assinou sozinho a saída do trator, sem laudo formal da comissão e sem autorização superior. Ele admitiu ter incluído o trator na lista de sucata por conta própria e acionado o presidente da OSCIP para enviar a carreta. As irregularidades levaram à sua exoneração.
Apesar disso, a Polícia Civil concluiu que:
– não houve dolo específico, requisito essencial para o crime de peculato;
– a conduta de Kayê configurou irregularidade administrativa, não crime;
– o trator foi devolvido imediatamente, impedindo qualquer desvio efetivo;
– não houve tentativa de ocultação ou vantagem pessoal.
A perícia nos celulares de Kayê e de Vandir não encontrou mensagens, ligações ou indícios de planejamento para desviar o bem público.
O ex-secretário de Infraestrutura, Mário Célio (“Trela”), afirmou acreditar que ambos agiram de má-fé, mas suas declarações não foram confirmadas por provas ou outros depoimentos.
Com isso, a Polícia Civil recomendou o arquivamento do inquérito, que agora segue para análise do Ministério Público.
Prefeita comemora
Em entrevista ao Jornal Opção, a prefeita de Formosa, Simone Ribeiro (PL), afirmou ter recebido com tranquilidade o resultado da investigação. Segundo ela, o relatório da Polícia Civil foi “categórico” ao apontar que não houve apropriação indevida, desvio ou benefício pessoal envolvendo a administração municipal.
A prefeita classificou o episódio como uma falha administrativa já corrigida internamente e criticou o que chamou de “ataques irresponsáveis” e “denúncias sem fundamento”.
“Tentativas deliberadas de distorcer os fatos vêm acontecendo há muito tempo. Esses ataques vão sendo desmentidos, como agora, pelo relatório oficial da Polícia Investigativa”, declarou.
Simone Ribeiro afirmou ainda que ela e sua família foram expostas injustamente e que o objetivo dos ataques seria gerar desgaste político.
CPI é aberta mesmo após conclusão da Polícia
Apesar da conclusão da Polícia Civil, vereadores decidiram abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o caso. Para a prefeita, a iniciativa tem motivação política.
“São pessoas que sempre atacaram a nossa gestão, de maneira pessoal. Optaram pelo caminho da acusação e da mentira. Agora terão de lidar com a verdade, apresentada por um órgão de investigação apropriado”, disse.
Ela afirmou que não permitirá que “interesses políticos suspeitos” comprometam o trabalho da administração.
“Eu jamais vou levar uma caneta da prefeitura para minha casa. Essa é a minha verdade categórica”, apontou.
Gestão e desafios
Simone Ribeiro também destacou os desafios enfrentados pelo município, especialmente o alto endividamento.
“Eu pago quase R$ 2 milhões de dívida para limpar o nome. Formosa é o segundo município mais endividado. Temos problemas em todas as instâncias. Venham somar”, afirmou.
Ao final, reforçou seu compromisso com a cidade. “Eu amo meu município, e por isso me dediquei a estar prefeita. Temos mais três anos de muita luta, mas as portas estão abertas para quem quer contribuir”, finalizou.
Câmara de Formosa
A Câmara Municipal de Formosa decidiu instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar fatos relacionados ao caso, mesmo diante da conclusão do inquérito. A decisão gerou questionamentos sobre a necessidade de prosseguimento das apurações no Legislativo.
Ao Jornal Opção, o vereador Marquim Araújo (MDB) explicou que, até o momento da votação, não havia recebido oficialmente qualquer documento da Polícia Civil confirmando o encerramento. “Saiu essa conversa, mas nós não recebemos ainda o encerramento. A Polícia Civil não emitiu nota e não entregou isso para a Câmara. A Câmara entendeu que tinha que abrir e hoje foi aberta. Agora, nós temos 60 dias para divulgar o trabalho”, afirmou.
Ao Jornal Opção, o presidente da Câmara, Filipe Vilarins Lacerda (MDB), reforçou que a decisão foi tomada antes da divulgação do suposto relatório. “Esse encerramento foi depois, no caso. Eu também não recebi não, só ouvi falar. Antes disso não tinha arquivamento. Então, seguimos os ritos do STF e vamos apurar. Fizemos o dever, né? Agora é tocar pra frente”, disse.
Segundo Vilarins, a CPI terá prazo de dois meses para apresentar suas conclusões, podendo requisitar documentos e ouvir testemunhas. “A gente vai seguir os ritos, apurar e dar transparência”.
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