Poesia para se ler no exílio
06 junho 2021 às 00h00
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Docente da UFSCar e vencedor do Prêmio Jabuti, Wilson Alves-Bezerra, está lançando “Malangue Malanga”
O docente do Departamento de Letras (DL) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e poeta vencedor do Prêmio Jabuti na categoria Poesia de 2016, Wilson Alves-Bezerra, está lançando novo livro, “Malangue Malanga – 30 poemas para ler no exílio”.
“O livro ‘Malangue Malanga’ nasceu como um poema, em 2010. Um poema que misturava português e francês e que fez parte de meu primeiro livro de poesia, ‘Vertigens’, publicado em 2015. A proposta era deixar quem o lesse na errância entre dois idiomas, a partir de um eu-lírico afetado por estar fora de lugar”, explica o autor.
E complementa: “Sem me propor muito a isso deliberadamente, fui escrevendo, ao longo da última década, outros poemas como aquele inicial: misturando espanhol, francês, inglês, com personagens que são migrantes, exilados, sub-empregados, que são solitários e que não contam com nada nem ninguém, nem com a própria língua materna. Em 2018 decidi que o exílio geográfico, social e linguístico seria o mote do livro, daí o título e o subtítulo: ‘Malangue Malanga – 30 poemas para ler no exílio'”.
O livro consiste em um conjunto de textos que revisitam a tradição cosmopolita do modernismo, porém sob a ótica dos migrantes e exilados. “É o modernismo que coloca na poesia a viagem e o movimento como me interessava trabalhar. O argentino Oliverio Girondo, por exemplo, escreveu ’20 poemas para ler no bonde’, um livro de viagem composto por vinte cartões postais, digamos. Mas Girondo viajava na primeira classe. Haroldo de Campos, com suas ‘Galáxias’, é outra referência importante, principalmente porque há ali mistura de línguas. Outro modernista inescapável é o James Joyce, de ‘Finnegans Wake'”, comenta Alves-Bezerra.
A outra particularidade do livro é trabalhar com poemas escritos em línguas inexistentes, uma mistura de português, espanhol, inglês e francês, que coloca em cena o exílio e a invenção. O poeta explica: “‘Malangue Malanga’ parte da linguagem, de uma ideia poderosa do psicanalista Charles Melman de que ‘o inconsciente não é nacionalista nem xenófobo’ e de que, portanto, não há barreira entre as línguas. Explorar isso liricamente é muito poderoso. E isso permite inclusive desmontar a língua portuguesa, misturar registros da língua portuguesa do Brasil e da peninsular. A linguagem é tomada como espaço de invenção, definitivamente.”
Ao ser questionado sobre se estamos exilados em nossa própria pátria, Alves-Bezerra responde: “Somos nômades. O livro quer mostrar ao mesmo tempo a força do racismo em nossas sociedades, o subemprego e a desumanização a que é submetido o migrante, ao mesmo tempo como a força da invenção pode subverter isso, tornando o precário em algo forte”. “O livro pode ser lido como uma odisseia da solidão, do desarraigo e da perda. Ao mesmo tempo, a linguagem aparece como uma possibilidade lúdica de construir uma outra coisa, à margem dos estados e das nacionalidades, um território onde o sujeito se inventa de outro modo”, completa o autor.
O livro é publicado pela Iluminuras, editora na qual o escritor já publicou dez títulos, entre traduções, romance e poesia. “Malangue Malanga” pode ser adquirido neste link.