Lobista teria recebido R$ 19 milhões para atuar em processo ligado à JBS, aponta PF

11 outubro 2025 às 12h36

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A Polícia Federal anunciou que abrirá uma nova linha de investigação para apurar possíveis vínculos entre o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves e o grupo JBS. A medida foi mencionada em relatório parcial do inquérito que apura suspeitas de venda e vazamento de decisões judiciais em gabinetes do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Andreson é apontado como um dos principais articuladores do suposto esquema. Em mensagens interceptadas pela PF, ele teria afirmado ter recebido R$ 19 milhões para atuar em um processo ligado à companhia controladora da JBS, a J&F Investimentos.
O relatório menciona ainda a advogada Mirian Ribeiro, esposa de Andreson, que recebeu valores da empresa sob investigação do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Segundo a PF, os pagamentos foram feitos por meio do escritório dela.
Em um diálogo de 2020, Andreson teria se referido ao “pessoal do senhor Zé Mineiro”, em alusão a José Batista Sobrinho, fundador da JBS e pai dos empresários Joesley e Wesley Batista.
A análise dos investigadores indica que o lobista teve acesso indevido à minuta de um voto da ministra Nancy Andrighi, documento que ainda não era público e tratava justamente de um processo envolvendo a J&F. Um servidor do gabinete da magistrada, Márcio Toledo, foi exonerado após as suspeitas virem à tona. Nancy Andrighi, no entanto, não é alvo da investigação.
“A circunstância reforça que Andreson detinha acesso privilegiado a minutas de decisão no âmbito do Superior Tribunal de Justiça”, diz o relatório da PF.
A corporação informou que, devido à complexidade e à quantidade de indícios sobre a relação entre o casal e o grupo empresarial, será instaurado um procedimento autônomo para aprofundar a apuração.
A JBS declarou, por meio de nota, que os pagamentos feitos ao escritório da advogada se referem a honorários por êxito ou pró-labore, devidamente comprovados nos autos, e afirmou que não mantém mais vínculo profissional com o escritório.
A defesa de Andreson e Mirian Ribeiro não se manifestou. O lobista cumpre prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica em Primavera do Leste (MT).
A ministra Nancy Andrighi divulgou nota dizendo acompanhar com “perplexidade” as denúncias e que seu gabinete está à disposição das autoridades para colaborar com a investigação.
O relatório, assinado em 6 de outubro pelo delegado Marco Bontempo, foi o último elaborado antes de sua saída do caso, alegando motivos pessoais. O inquérito tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), sob relatoria do ministro Cristiano Zanin.
Segundo a PF, o ministro manteve a investigação no STF para evitar nulidades e garantir que possíveis diligências dentro do STJ não sofram interferências externas.
O documento também recomenda a manutenção das medidas cautelares e o afastamento de servidores investigados, “a fim de impedir a reativação do esquema e o uso da estrutura estatal para fins criminosos”.
A apuração sobre a suposta venda de decisões teve início após a morte do advogado Roberto Zampieri, em Cuiabá (MT), no fim de 2023. No celular da vítima, a PF encontrou mensagens trocadas com Andreson que indicavam relações entre empresários, magistrados e servidores de tribunais.
As suspeitas levaram à Operação Sisamnes, que encontrou minutas de votos de ministros do STJ em poder dos investigados. Até o momento, um servidor foi exonerado pelo tribunal.
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