Desde 2018, quando o governo Michel Temer (MDB) aprovou a legalização das apostas esportivas on-line no Brasil, o setor explodiu, criando um mercado bilionário que movimenta altos valores mensalmente. A partir da liberação, a publicidade das chamadas “bets” dominou os intervalos comerciais, especialmente em transmissões de futebol.

No entanto, o impacto desse fenômeno vai além do entretenimento: segundo dados do Procon Goiás, o crescimento vertiginoso das apostas tem contribuído para o aumento do endividamento de muitas famílias brasileiras. Além disso, a facilidade de acesso e a promessa de ganhos rápidos têm levantado preocupações em relação à dependência psicológica e aos impactos nas relações pessoais e sociais.

O impacto financeiro nas famílias

Apesar do apelo publicitário e da promessa de lucros, o cenário real para muitos apostadores é desafiador. O superintendente do Procon Goiás, Marco Palmerston, alerta que as apostas on-line têm afetado de forma desproporcional a população de menor poder aquisitivo.

Segundo ele, as pessoas mais vulneráveis financeiramente, que muitas vezes não têm acesso a informações adequadas, acabam sendo atraídas pelo marketing agressivo das empresas de apostas, impulsionadas por influenciadores nas redes sociais.

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“São pessoas que nem deveriam estar jogando de acordo com seu poder aquisitivo”, afirma Palmerston, destacando que esses consumidores, por influência da publicidade, acabam comprometendo recursos que não poderiam gastar, agravando ainda mais sua situação financeira.

O mercado bilionário das apostas on-line

Com o aval da lei, o mercado de apostas esportivas online no Brasil se consolidou rapidamente. Dados da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) mostram que, mensalmente, os consumidores movimentam cerca de R$ 6 bilhões apenas neste setor. Entre janeiro e novembro do ano passado, os brasileiros gastaram cerca de US$ 11,1 bilhões (aproximadamente R$ 54 bilhões) em apostas online, com remessas sendo enviadas para empresas do exterior que dominam esse mercado.

Hoje, de acordo com o Ministério da Fazenda, 89 empresas estão autorizadas a operar no Brasil, administrando um total de 193 plataformas de apostas esportivas. Com tantas opções disponíveis, o consumidor brasileiro encontra uma variedade imensa de ofertas, bônus e promessas de lucro rápido, o que, para muitos, torna o mundo das apostas uma tentação constante.

Como evitar o endividamento com apostas on-line?

Para aqueles que já se veem em uma situação de dívida causada pelas apostas, a recomendação do Procon Goiás é clara: é fundamental reconhecer a gravidade do problema e agir rapidamente. O primeiro passo é mapear todas as dívidas, incluindo os montantes, juros e prazos. Ao identificar claramente o cenário financeiro, torna-se possível elaborar um plano de ação para priorizar as dívidas com juros mais altos ou prazos mais curtos, evitando que o endividamento se torne insustentável.

Além disso, a renegociação com os credores é uma estratégia importante. Muitos apostadores acabam se afundando em dívidas por não buscar alternativas, como a renegociação de prazos ou condições de pagamento. O Procon Goiás, por exemplo, oferece assistência a consumidores que precisam de ajuda para calcular suas dívidas e se proteger contra cobranças abusivas, auxiliando na renegociação e recuperação do controle financeiro.

Publicidade enganosa e práticas abusivas

Outro fator que preocupa órgãos de defesa do consumidor é a forma como as empresas de apostas online operam no Brasil. A ausência de informações claras sobre as regras dos jogos, a publicidade agressiva e, em alguns casos, enganosa, e a falta de canais de atendimento adequados são práticas que podem ser consideradas abusivas. O Procon Goiás já monitora essas questões e estuda formas de regulamentar e fiscalizar de maneira mais rigorosa as atividades dessas plataformas.

“Empresas que não informam corretamente os consumidores, ou que criam falsas expectativas de ganho, podem ser autuadas por práticas abusivas. É fundamental que as regras sejam transparentes e que os consumidores tenham um canal eficiente de atendimento para tirar dúvidas e resolver problemas”, ressalta Marco Palmerston.