Pesquisadores brasileiros descobriram pela primeira vez que as jiboias possuem uma “voz” única, utilizada para afastar predadores. Quando ameaçadas, essas serpentes abrem a boca e emitem um som alto ao puxar e soltar o ar. Este comportamento, identificado como um ruído branco, é inédito na pesquisa sobre serpentes.

“Começamos esse estudo em 2019 e avaliamos seis jiboias diferentes, algumas em vida livre e outras que viviam em cativeiro. Todas apresentaram esse som característico quando nos aproximávamos a partir de uma distância de 1 metro e meio e identificamos que se tratava de ruídos brancos”, explica ao G1 a bióloga Nathalie Citeli, autora principal do artigo, que confirma o pioneirismo do estudo com essa espécie.

“Nossa hipótese é que a jiboia faça isso para conseguir ser ouvida por diferentes predadores que escutam em diferentes frequências, como aves e mamíferos. Dessa maneira, ela incomoda todo mundo”, diz. “É um som de defesa, não serve como comunicação entre as jiboias, apenas com outros animais”, acrescenta Nathalie.

A pesquisa revelou que cada jiboia tem uma variação sonora própria, funcionando como uma espécie de “impressão digital”, o que permite distingui-las umas das outras, mesmo dentro da mesma espécie. O estudo foi publicado recentemente na renomada revista científica Behaviour.

“O que a gente detectou foi tipo a voz. Cada pessoa tem a sua própria voz e foi a mesma coisa que reparamos nas serpentes. Todos fazem o ruído branco, mas com características únicas que podem variar por conta da tamanho da boca, quantidade de ar, etc”, relata.

As jiboias estudadas foram coletadas de diversas regiões do Brasil, incluindo Brasília, Rio de Janeiro, Ceará e Pernambuco, abrangendo as subespécies Boa constrictor e Boa atlantica.

De acordo com a bióloga responsável pela pesquisa, o ruído branco emitido pelas jiboias é um chiado sem padrão, que oscila em frequência. Esse som é gerado quando a serpente assopra, resultando em um volume mais alto, mas também pode ser ouvido em um tom mais suave durante a inspiração.

O estudo constatou que as jiboias podem emitir de quatro a doze sons por minuto. Os pesquisadores estão agora focados em analisar a morfologia das jiboias para entender as variações anatômicas que influenciam a produção do ruído branco. Além disso, planejam realizar experimentos para investigar como diferentes predadores reagem a essa tática sonora das jiboias.

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