Pesquisa revela que quase um ano após alta 60% dos pacientes ainda apresentam sintomas da Covid-19
24 julho 2021 às 17h28
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Cinco meses depois de vencer a Covid-19, Gracia Baccarin ainda apresenta sintomas da doença, como falta de ar, dificuldade de dormir, dores pelo corpo, principalmente, nas articulações. Além do uso de medicações e fisioterapia após receber alta
A psicóloga Grácia Coutinho Baccarin, 44 anos, testou positivo para Covid-19 em fevereiro de 2021, à época ficou 15 dias internada, teve 75% do pulmão comprometido. Segundo ela, a doença fragiliza muito. “A sensação de falta de ar é muito grande, náuseas, diarreia, foram os principais sintomas. Foi uma experiência muito difícil, principalmente, pelo isolamento, e pelo alto nível de estresse da equipe médica porque estavam muito sobrecarregados”, relata.
Cinco meses depois de vencer a Covid-19, Grácia Baccarin ainda apresenta sintomas da doença. “Ainda persiste a falta de ar, dificuldade de dormir, dores pelo corpo, principalmente, nas articulações. Precisei de fazer uso de medicações e fisioterapia após receber alta”. A psicóloga perdeu o pai, vítima da Covid. Após 21 dias internação, ele faleceu.
Os sintomas persistentes da psicóloga confirmam uma pesquisa o Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP. Os pesquisadores descobriram que 60% dos pacientes que estiveram internados com Covid-19 até agosto do ano passado apresentam sintomas como falta de ar, fadiga e fraqueza por um longo período após a alta médica. Os efeitos da doença persistem num período de seis a 11 meses após a internação.
Os resultados — ainda preliminares e que devem ser publicados em revista científica — são fruto de questionários aos quais 750 pacientes, homens e mulheres, na média dos 65 anos de idade, foram submetidos pela instituição dentro de uma grande pesquisa multidisciplinar. O grupo esteve internado no hospital, na capital paulista, em leitos de UTI ou enfermaria até agosto de 2020. A maioria, porém, precisou de cuidados de terapia intensiva.
“Tínhamos a hipótese (inicial) de que a doença fosse restrita ao sistema respiratório, aos pulmões. Depois, fomos vendo que, com a disseminação do vírus na corrente sanguínea, era possível ter reflexo desde as meninges (na cabeça) até a circulação das pernas”, diz o coordenador do trabalho, Carlos Carvalho, diretor da UTI respiratória do Instituto do Coração (InCor), do HC.
Carvalho explica que há progressão positiva no quadro de saúde dos pacientes. Mas, apesar da melhora, é possível caracterizar a Covid-19 como uma doença de duração estendida. “É a primeira vez que vemos uma doença com essa extensão e tantas formas de acometimento”, diz Carvalho.