Enquanto a média mundial de mortalidade é de cerca de 50%, no Brasil esse percentual sobe para 83,5%; na região Centro-Oeste do país, a taxa é de 83,6%

Paciente intubado com máscaras de mergulho adaptadas para ventilação respiratória em Aparecida de Goiânia. | Foto: Claudivino Antunes

Dados do Ministério da Saúde compilados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), entre os meses de novembro a março de 2021, mostram que, a cada dez pacientes que foram intubados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) para tratar a Covid-19, oito foram a óbito. Enquanto a média mundial de mortalidade é de cerca de 50%, no Brasil esse percentual sobe para 83,5% e fica entre as maiores do mundo.

Os dados sobre a taxa de mortalidade da doença foram obtidos através do Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe), do Governo Federal, e foram compilados por pesquisadores da Rede Brasileira de Pesquisa em Medicina Intensiva, coordenada por Fernando Bozza.

A primeira do pesquisador da Fiocruz dele sobre mortalidade de pacientes de covid-19 foi publicada na revista médica The Lancet Respiratory Medicine e mostrou que quase 80% dos doentes intubados no Brasil entre 16 de fevereiro e 15 de agosto de 2020 morreram. Nessa época, o percentual já era superior ao do Reino Unido (69%), da Itália (51,7%), da Alemanha (52,8%) e do México (73,7%).

Para esse levantamento, em que a compilação foi finalizada no segundo semestre de 2020, foram analisados dados de 254 mil internações.

Explicação da alta mortalidade

Segundo especialistas, a explicação para os elevados números de óbitos de infectados que necessitam de ventilação mecânica está relacionada, principalmente, a baixa quantidade de profissionais da saúde treinados, aos problemas de gestão e a longa fila de espera por leitos em hospitais, que acaba agravando o quadro dos pacientes com a doença.

Para a coordenadora da Rede Brasileira de Pesquisa em Medicina Intensiva, Fernando Bozza, a alta mortalidade das UTIs brasileiras também está relacionada à política errática do governo federal em relação ao combate ao coronavírus. “O Brasil perdeu muito tempo em 2020 com irrelevâncias, como a implementação de medicamentos sem eficácia. Isso impactou na chance de incorporar as melhores práticas e políticas que são de fato eficientes, como treinar equipes de UTI e reduzir a transmissão”, explica Fernando.

Fernando ainda acrescenta que, apesar de dados de morte por intubação em 2021 não estarem consolidados, as informações disponíveis sobre morte hospitalar apontam para um aumento significativo da mortalidade.

Covid-19 no Centro-Oeste

Ainda segundo os dados exclusivos obtidos pela BBC Brasil, o percentual de morte de pacientes intubados com Covid-19, na região Centro-Oeste do país é de 83,6%. Apesar de estar atrás da porcentagem das regiões Norte (86,7%) e Nordeste (83,7%), o número permanece acima da média.

Em Goiás, apesar na estabilização da lista de espera para leitos de enfermaria e UTI Covid-19, em decorrência da suspensão das atividades consideradas não essenciais estabelecidas em decreto por duas semanas, a taxa de ocupação permanece alta, e a de infectados que esperam por atendimento, também.

No momento, das 543 UTIs Covid-19 existentes no estado, somente 27 estão disponíveis, o que resulta em 95,03% de ocupação. Já nas enfermarias, esse número cai para 83,49%, com 122 unidades vagas. A grande porcentagem de ocupação, agrava o quadro dos contaminados que se encontram lista de espera, o que resulta no aumento da taxa de mortalidade de pacientes com o novo coronavírus que são intubados.