Perícia da PF revela: corpo encontrado é do repórter Dom Phillips
17 junho 2022 às 18h51
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Trabalho segue para tentar identificar também os restos mortais do indigenista Bruno Pereira, 41, que desapareceu com o jornalista britânico
A Polícia Federal informou nesta sexta-feira, 17, que parte dos restos mortais encontrados na região do Vale do Javari dois dias atrás é do jornalista britânico Dom Phillips, de 57 anos. A confirmação ocorreu a partir de exame de odontologia legal, combinado com antropologia forense.
“Encontram-se em curso os trabalhos para completa identificação dos remanescentes, para a compreensão das causas das mortes, assim como para indicação da dinâmica do crime e ocultação dos corpos”, disse a corporação, em nota.
A PF realiza as perícias também para identificar os restos mortais do indigenista Bruno Pereira, 41, que desapareceu com Dom no domingo, 5.
De acordo com a PF, o pescador Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, indicou às autoridades onde havia enterrado os corpos, bem como ocultado a lancha em que viajavam Bruno e Dom. Agora, a corporação aguardará os resultados de perícias para identificar se os restos humanos encontrados são deles.
A perícia também vai determinar a causa da morte e a arma utilizada no crime. Segundo a PF, Pelado disse que as mortes ocorreram com disparo de arma de fogo.
De acordo com Eduardo Alexandre Fontes, superintendente da PF no Amazonas, os corpos foram encontrados a mais de três quilômetros mata adentro. Segundo ele, não teria sido possível encontrar os restos humanos nesse período de tempo caso não houvesse a confissão de Pelado.
Mais cedo, a PF afirmou em nota que as investigações indicam que não existem mandantes nem facções envolvidas e que os executores agiram sozinhos. “As investigações prosseguem e há indicativos da participação de mais pessoas na prática criminosa. As investigações também apontam que os executores agiram sozinhos, não havendo mandante nem organização criminosa por trás do delito”, afirmou.
O comunicado indignou a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). De licença não remunerada na Fundação Nacional do Índio (Funai), Bruno Pereira trabalhava como fomentador da vigilância indígena na instituição. “O requinte de crueldade utilizado na prática do crime evidencia que Pereira e Phillips estavam no caminho de uma poderosa organização criminosa que tentou a todo custo ocultar seus rastros durante a investigação”, afirma a entidade indígena.
A Univaja afirma que o grupo criminoso é formado por caçadores e pescadores profissionais e foi descrito em documentos enviados ao Ministério Público Federal, à própria PF e à Funai.
Oseney de Oliveira, o Dos Santos, é irmão de Pelado e foi preso na terça-feira (14). Ele é considerado suspeito de participação no crime.
Dos Santos disse não ter participação no assassinato. Pelado também nega que seu irmão tenha agido no caso, segundo fontes ouvidas pela Folha.
Investigadores que atuam no caso têm afirmado reservadamente que as evidências e provas até o momento reforçam a hipótese de que as atividades ilegais de pesca e a caça na região são o pano de fundo do caso.
O porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Ned Price, pediu que o governo brasileiro preste contas da morte de Bruno e Dom e garanta que a justiça seja feita. “Nossas condolências às famílias de Dom Phillips e Bruno Pereira, assassinados por apoiar a conservação da floresta tropical e dos povos nativos. Nós pedimos por prestação de contas e justiça —devemos fortalecer de forma coletiva os esforços para proteger defensores do meio ambiente e jornalistas”, escreveu no Twitter o porta-voz da diplomacia americana.
* Com informações da Folha de S.Paulo.