“Pequenos incêndios por toda parte” aborda racismo e suposta rivalidade feminina
24 abril 2021 às 12h22
COMPARTILHAR
Série da Amazon supreende com clima de mistério e temas polêmicos
“Pequenos incêndios por toda parte” é uma série produzida pela Hulu, disponível no catálogo da Amazon Prime, e baseada em um best seller homônimo de Celest NG.
A série começa pelo fim, que é um grande incêndio na casa de uma das protagonistas, Elena, interpretada por Reese Witherspoon. É isso mesmo que você leu: uma das protagonistas. Esta é uma série que gira em torno de mulheres, mães e filhas, e seus relacionamentos com outras pessoas e umas com as outras.
Assim como o nome da série, a história é repleta de pequenos incêndios, nem sempre literais, mas muitas vezes representam situações desastrosas que essas mulheres protagonistas precisam controlar, precisam aprender a lidar. A série é curta e possui apenas oito episódios. Dá para assistir em uma maratona. Ela aborda, em especial, duas famílias que representam o exato oposto uma da outra.
A família de Elena (Witherspoon) é branca e classe média. Supostamente vivem o sonho americano. Ela é uma jornalista que demonstra uma falsa perfeição e esbanja mais status do que uma real harmonia dentro do lar. O marido de Elena é um advogado interpretado por Joshua Jackson e, juntos, eles têm quatro filhos. A mãe parece sempre insatisfeita com a mais nova, Izzy, uma adolescente que se sente a ovelha negra. Com o passar dos episódios, o público vai entendendo como funciona essa relação problemática entre mãe e filha.
Do outro lado, temos a família de Mia Warren, vivida por Kerry Washington. Ela é uma mãe solteira, afro-americana, artista, pobre e itinerante. Sempre rodando o país com sua filha adolescente, Pearl. Apesar do relacionamento das duas parecer perfeito, a gente sempre tem a impressão de que algo está prestes a se quebrar. Mia esconde um segredo desconhecido até mesmo para sua filha e que mais para frente também desvelado.
Essas duas mães, Elena e Mia, vivem uma constante tensão um com a outra. Ao mesmo tempo, elas parecem atraídas, algo como uma empatia feminina, uma compreensão de mãe. O outro lado dessa tensão é um racismo encoberto, uma demarcação de superioridade, rivalidade e desconfiança recíproca. Ao mesmo tempo em que elas parecem se aproximar e se tornar grandes amigas, quando viram as costas uma para outra, algo parece estranho e mal resolvido. Palavras não ditas pairam entre elas.
Elena tenta, de todo modo, ajudar Mia e sua filha. Aos poucos a série mostra que essa “ajuda” é talvez a jornalista querendo mostrar para outras pessoas o quanto ela é superior, bondosa e caridosa. Mesmo assim, não sabemos quem é Mia. O que ela esconde? Por que ela é tão fechada e desconfiada o tempo inteiro? Seu segredo também é obscuro. Nessa atmosfera, é interessante como a série constrói personagens que não são maniqueístas. Ninguém é vítima, ninguém é bandido. Afinal, todos são humanos.
O público acompanha uma atmosfera de intenso suspense e se assemelha ao estilo de Big Little Lies, série da HBO que também trata de temas feministas e femininos e muito atuais, ainda abrange sexualidade, racismo, aborto e privilégios e, acima de tudo, a suposta rivalidade e cumplicidade feminina.
Conforme a história se revela, o público se surpreende com os segredos que são contados. Conforme esses mistérios são descobertos, vemos discussões e reflexões muito atuais. Melhor ainda, é que a série mostra os dois lados da moeda. Essa dualidade humana que nos permite ser bons e ruins ao mesmo tempo.