Pela primeira vez, número de crianças com obesidade é maior do que jovens desnutridos
09 novembro 2025 às 17h53

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Um levantamento recém-concluído pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostra que o número de crianças com obesidade cresceu em relação a jovens com desnutrição. Entre 2000 e 2025, os índices de desnutrição passaram de 13% para 9,2%. No mesmo período, a quantidade de crianças com obesidade triplicou, passando de 3% para 9,4%.
A inversão é histórica e tem se disseminado entre países ricos e pobres. Aqui no Brasil, o cenário não é sido diferente. Dados do Ministério da Saúde trazem que mais de 7 milhões de crianças e jovens de até 19 anos receberam diagnóstico da doença apenas no ano passado.
A combinação entre a oferta de uma alimentação calórica e ultraprocessada e uma rotina sedentária tem contribuído para o aumento vertiginoso do número. A biologia também explica: nosso corpo – que por um tempo foi programado para sobreviver à escassez – hoje é cercado de calorias baratas, altamente palatáveis e embaladas em pacotes coloridos – tudo o que tem chamado atenção aos mais jovens. Esse padrão, segundo estudos, tem favorecido um desequilíbrio metabólico.
Antes realidade de países mais desenvolvidos, como os Estados Unidos e a Rússia, hoje o modelo também já está se tornando presente na América Latina e na Ásia. Entretanto, os estudos mostram que isso não é apenas a combinação entre comer demais e exercitar de menos. Mães que apresentam obesidade ou diabetes gestacional tendem a dar à luz crianças com maior risco de engordar no futuro por uma alteração demarcada geneticamente.
A ciência traz ainda que o parto cesárea, a falta de aleitamento materno e o uso desmedido de antibióticos na infância têm influenciado mecanismos que, em último grau, desregulam o balanço energético. Ainda mais recente, há os chamados disruptores endócrinos, substâncias presentes em embalagens plásticas, que chegam a interferir nos hormônios e contribuir para o acúmulo de gordura.
Percepção do problema
Um dos maiores desafios do combate à obesidade é enxergar o problema. E isso muitas vezes acontece em casa. Uma pesquisa nacional mostra que 62% dos pais de crianças com sobrepeso acreditam que elas estão na faixa adequada. Se esse cenário não mudar, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, até 2030, os custos globais associados ao excesso de peso podem atingir trilhões de dólares por ano e, se o ritmo continuar, a conta pode chegar a 18 trilhões de dólares até 2060.
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