PCC embolsa R$ 4,9 bilhões por ano e preocupa autoridades europeias
04 setembro 2023 às 13h32
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Deixando o posto de facção para se tornar uma máfia, conforme o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo (MPSP), o Primeiro Comando da Capital (PCC) alcançou faturamento anual de R$ 4,9 bilhões. Presente em pelo menos 26 países, a maior organização criminosa da América do Sul tem preocupado autoridades internacionais, inclusive, do outro lado do Atlântico devido a colaboração mútua com facções europeias.
O Gaeco paulista estima que o PCC fatura, desde 2020, cerca de US$ 1 bilhão (R$ 4,9 bilhões) ao ano. A arrecadação se refere ao tráfico de drogas em São Paulo e ao lucro, sobretudo, da cocaína comercializada para países de outros continentes como a Europa.
Dois terços do faturamento do PCC são exclusivamente do tráfico internacional, de acordo com as investigações. O setor da organização criminosa responsável pela atividade ficou conhecido como “Tomate”. Isso porque, segundo o Gaeco, a cocaína saía do país por meio de carregamentos de tomates.
Exportação de cocaína
O volume de cocaína exportado pelo PCC a outros países aumentou nos últimos anos. Segundo o Gaeco, em 2016 e 2017, cerca de 200 kg a 300 kg de droga eram colocados em cargas para deixar o país por mês. Já em 2021, as investigações demonstravam que a facção despachava, mensalmente, no mínimo uma tonelada de cocaína.
Com a expansão do tráfico, as outras formas de arrecadação financeira utilizadas pela facção criminosa acabaram perdendo força, segundo autoridades que investigam a organização. Desde 2002, por exemplo, o PCC arrecadava R$ 5 milhões por ano.
O dinheiro era proveniente do setor chamado “Progresso”, responsável pelo tráfico de drogas, das rifas e da “cebola”, a mensalidade cobrada de integrantes em liberdade. A partir de 2018, o PCC aboliu a rifa, a mensalidade e outras formas de obtenção de lucro em São Paulo. Desde então, a arrecadação passou a se concentrar integralmente no tráfico dentro e fora do país.
Entre 2010 e 2012, uma prática utilizada pela facção para guardar dinheiro eram as casas-cofres. Os valores eram enterrados em um cofre em uma casa administrada por membros da organização.
Esquema
Integrantes da organização criminosa paulista compram a droga produzida na Bolívia e no Peru. Parte da substância entra em território nacional pela fronteira com o Paraguai e o produto final é escoado principalmente pelo Porto de Santos, em São Paulo.
Na Europa, não há lideranças do PCC, mas alguns integrantes da organização são responsáveis pelas movimentações financeiras. Nos países europeus, há operadores e doleiros que trabalham para a facção e recebem um percentual do valor da venda.
O fluxo do tráfico e do lucro obtido com o comércio ilegal de drogas também se sofisticou ao longo das três décadas de história da organização criminosa. A droga chega aos países europeus por diferentes portos. Quando os pontos de entrada pela Europa estão sob maior fiscalização, a ordem é para que as substâncias passem antes pelos países africanos e asiáticos.
Em abril de 2020, um dos principais nomes do PCC, Gilberto Aparecido dos Santos, de 49 anos, o Fuminho, foi preso em Maputo, capital de Moçambique. Segundo investigações, ele planejava controlar o crime no sul da África.
O dinheiro movido pelo tráfico internacional passa também pela China. Um dos integrantes do PCC, investigado pelo Gaeco por envolvimento com roubo a banco, teve o dinheiro recebido na Holanda. Depois, o valor passou pela China, chegou ao Brasil e saiu para o Paraguai, segundo o Gaeco. O rastreamento, porém, depende de cooperação internacional e acordos entre países.