Pastora missionária, cantora evangelista, escritora, compositora e artista visual. Esse é o currículo da baiana nascida em Salvador em 1993. Ventura Profana reivindica os títulos de pastora por direito, ela é uma das organizadoras da Congregação Batista, em Catu, na Bahia. Suas criações artísticas estão expostas no Museu de Arte de São Paulo (Masp).

A travesti busca existências que fogem aos controles tradicionais de gênero e de sexualidade são possíveis e edifica novos imaginários sobre religião e fé. Ela procura criar obras que acolhem pessoas LGBTQIAPN+ e proclama um “evangelho do fim”. As informações foram divulgadas pelo jornal O Globo.

Artista descaracteriza linguajar típico dos evangélicos para falar sobre a fé | Foto: Reprodução

Suas obras já foram apresentadas na Bienal de São Paulo no ano passado e ela foi selecionada pelo Prêmio PIPA, uma das principais premiações de arte contemporânea do país. “Assim como aprendi com a dedicação das mulheres da minha família às suas igrejas, elas aprendem comigo a olhar de outra maneira para a fé, a não interpretar a Bíblia com uma política de ódio, mas com amor ao próximo, a si mesmo e a Deus. Para mim, Deus é sinônimo de vida”, diz a artista.

Reprodução de vídeo exibido na mostra

É uma missão que faz parte do que Ventura chama de teologia da transmutação, um pensamento que busca transformar aquilo que é destinado aos corpos negros, indígenas e LGBTQIA+. Como afirma a artista: “se nos dão o esquecimento hediondo, a morte, a dor e o desprezo, com intensidade equivalente faremos brotar videiras”. Essa mostra apresenta quatro vídeos inéditos: A maior obra de saneamento (2024), O poder da trava que ora (2021), Procure vir antes do inverno (2021) e Para ver as meninas e nada mais nos braços (2024).

Sala de vídeo

No primeiro vídeo, A maior obra de saneamento, a destruição é o ponto de partida para uma reflexão sobre a perecibilidade das coisas terrenas e sobre a morte como um novo início, mediado pela fé e pelo exercício da oração. Este exercício está presente em O poder da trava que ora; nele, a artista aparece prostrada, misteriosa e nua, em uma posição que é ao mesmo tempo de oração e de prazer. No terceiro vídeo, Procure vir antes do inverno, a artista dialoga com sua avó sobre as dificuldades de escolher um caminho religioso. A conversa se desenrola enquanto vemos Ventura, Bianca Kalutor e Rainha F. construindo seu próprio templo juntas. No último trabalho, Para ver as meninas e nada mais nos braços, esse mesmo espírito de irmandade está presente na sequência de imagens de celebração do amor, da vida e da existência travesti.

A artista também publicou o livro A cor de Catu e participa da Antologia Jovem Afro, fez shows em La Mutinerie (Paris), em eventos como a Virada Cultural de São Paulo e a 22ª Parada LGBT de Belo Horizonte, e em espaços como o Circo Voador (RJ). Seu disco de estreia Traquejos Pentecostais para Matar o Senhor foi lançado em 2020 em parceria com Podeserdesligado. Também realizada em parceria com Podeserdesligado, a performance Cântico dos Cânticos foi premiada na categoria Melhor Performance no Prêmio de Artes Cênicas Negras Leda Maria Martins, em 2019.

Leia também:

Mês do orgulho: presídios e alas destinadas a população LGBT+ garantem melhores condições do cumprimento de pena

Mês do orgulho LGBT+: conheça Laura de Castro Teixeira, primeira delegada trans de Goiás