Deputados e senadores goianos citados por revista confirmam a destinação de emendas no “orçamento paralelo” de Bolsonaro e dizem que “é normal”

14 maio 2021 às 18h35

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A verba do “orçamento secreto” é destinada para alguns ministérios e distribuída de acordo com o interesse de parlamentares escolhidos pelo Executivo em troca de apoio no Congresso Nacional
Cinco parlamentares goianos aparecem na lista dos citados em reportagens do Estadão e Revista Crusoé como beneficiários de “Orçamento Paralelo” do governo Bolsonaro. No domingo, 9, o jornal O Estado de S. Paulo revelou um esquema montado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), para aumentar sua base de apoio no Congresso.
A verba do “orçamento secreto” foi destinada para alguns ministérios e distribuída de acordo com o interesse de parlamentares escolhidos pelo executivo em troca de apoio no Congresso Nacional.
Em nota, o deputado goiano Vitor Hugo (PSL), líder no governo na Câmara Federal, afirmou, em resposta ao pedido de informações do jornal O Estado de S. Paulo, que o Parlamento indica recursos por meio da chamada emenda de relator-geral (RP9) do Orçamento, que foi criada pelo Congresso Nacional em 2019. As indicações são feitas com a disponibilização do valor e da ação orçamentária disponível no Ministério.
Dentro do orçamento paralelo, o deputado destinou ao município de Alexânia um milhão e meio de reais. Segundo Vitor Hugo, a reportagem usa como referência uma tabela com preços de dois anos atrás, que não reflete os valores reais. “A cartilha não considera as variações de preço que os equipamentos podem sofrer, em cada Estado, e não leva em consideração a inflação e o momento econômico. Ainda ressalto que os valores das motoniveladoras citados na reportagem estão ainda abaixo do preço constante da tabela atual da Codevasf, de R$ 860.000,00.”
O deputado José Nelto (Podemos), também citado pela reportagem. destinou quase R$ 30 milhões do “orçamento secreto” aos municípios goianos. Além da Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco) e da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).
A companhia estatal é responsável pela compra de tratores e equipamentos agrícolas por preços até 259% acima dos valores de referência fixados pelo próprio Governo. José Nelto disse que “isso é normal”. E confirma que fez indicações junto ao governo de Bolsonaro de “mais de 100 munícipios do Estado de Goiás para receber patrola, trator, retroescavadeira, patrulha agrícola. Tem três anos que estou indicando. Essa é a minha obrigação”.
O senador Vanderlan Cardoso também confirma a destinação de emendas viabilizada através dos ministérios do Governo Bolsonaro e disse que não sabe ao certo o valor, mas que a verba veio para os municípios de Goiás. “Não tenho o total, mas foi muita coisa. Destinei quase, se eu não me engano entre R$30 ou R$40 milhões para máquinas e equipamentos destinados aos municípios. Principalmente, para os arranjos produtivos locais”.
Vanderlan é citado na matéria da Revista Crusoé como autor do repasse enviado a cidade de Betim, em Minas Gerais. Dois sobrinhos do prefeito de Betim aparecem como donos da LLM Locação de Veículos, que teria recebido da Codevasf R$633,5 mil à pedido do senador. A matéria da Revista Crusoé cita ainda a participação de um outro senador goiano, mas não confirma a identidade deste. Em nota, ele negou participação e não ter qualquer relação com Betim.
Também listado pelas reportagens, o deputado Célio Silveira (PSDB) que destinou para o munícipio de Valparaíso de Goiás o montante de mais de R$ 2 milhões e para Itapaci cerca de um milhão e meio de reais. A reportagem do Jornal Opção procurou o deputado, mas não retornou as ligações.
Na reportagem do Estadão, o senador Luiz do Carmo (MDB-GO), junto com o Weverton (PDT-MA), teriam indicado R$ 31 milhões do orçamento secreto. A assessoria do senador informou ao Jornal Opção que ele não poderia falar porque está isolado em uma fazenda, após a morte do irmão vítima da Covid-19 e cuida de problemas de saúde da esposa.
Durante sessão na Câmara dos Deputados na última terça-feira, 11, o senador Jorge Kajuru (Podemos) comentou o fato e disse que os senadores deveriam fazer um pronunciamento sobre a “matéria investigativa”, se referindo ao jornal O Estado de S. Paulo. “Trata-se de um dos maiores escândalos da história do senado. Como senador de um estado pequeno, já enviei em verbas R$ 277 milhões. Então, se calar o senado federal diante de uma reportagem dessa é lembrar ‘quem cala consente ‘”.
Confira abaixo, a íntegra da nota enviada pela assessoria do Senador Vanderlan Cardoso:
NOTA OFICAL
O senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO) informa a este veículo de comunicação que todos os recursos liberados foram exclusivamente destinados a municípios goianos.
O parlamentar reitera que não conhece e não tem nenhuma relação com entes da cidade de Betim/MG. O senador vai pedir uma investigação para apurar porque o nome dele está sendo citado nestes dois repasses apontados pela revista.
Assessoria de Imprensa
Senador Vanderlan Cardoso (PSD)