Para se adequar à lei , escolas goianas se preparam para lecionar educação financeira
11 janeiro 2020 às 16h30
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Disciplina vai entrar na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e será adotada em todos os níveis de ensino em 2020, por redes públicas e privadas
Após decisão do Ministério da Educação (MEC) no final do ano passado, escolas públicas e privadas precisarão adotar uma nova disciplina em seus currículos. Já a partir do ensino básico, a matéria de “educação financeira” irá compor a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Em Goiás, educadores afirmam concordar com a demanda e iniciam preparação para se adaptar ao novo quadro.
A economia nos acompanha desde os primeiros anos de vida: na compra de uma guloseima ou na companhia aos pais durante as compras do mercado. Pensando nisso, educar a população financeiramente não é só demanda, como também uma necessidade real, afirma o professor de matemática Elber Silva. “No contexto geral a população não entende o básico de educação financeira, que vai além de poupança”, destaca o educador.
Conforme determinado no BNCC, as escolas brasileiras deverão trabalhar assuntos como taxas de juros, aplicações financeiras, impostos e inflação. Para a secretária de Educação de Aparecida de Goiânia, Valéria Pettersen, o tema é de fundamental importância para que os alunos compreendam noções do mercado financeiro desde infância. Dessa forma, segundo a educadora, as habilidades desenvolvidas na escola poderão ser aplicadas em suas realidades.
Exemplos goianos
Em 2019, Elber Silva foi destaque em premiação nacional do Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) exatamente por uma disciplina de educação financeira. O professor do Colégio Estadual Santa Luzia, de Aparecida de Goiânia, idealizou junto aos alunos um mercadinho dentro da escola. Com as atividades de compra, venda, planilha de custos e controle de finanças os jovens puderam colocar em prática a matemática financeira.
Reconhecido pela mesma premiação, o professor Ferdinand Tokarski Persijn desenvolveu métodos de empreendedorismo aplicados à uma feira anual da Escola Interamérica. Assim como Elber, Ferdinand utilizou conceitos de matemática financeira, aplicando teoria à prática. “Nós vemos esse tipo de tema ser muito cobrado em vestibulares e no Enem [Exame Nacional do Ensino Médio] mas pouco nas grades curriculares”, destaca Ferdinand.
Preparação
Em Aparecida de Goiânia, um projeto que leva o tema para as escolas foi testado em quatro unidades de ensino no ano passado. De acordo com a secretária Valéria Pettersen, a experiência colabora para nortear os trabalhos da gestão com a nova diretriz. “Quando se propõe agora uma previdência privada em que eu tenho que investir, se eu não tenho informações sobre educação financeira como eu faço previdência?”, provoca Valéria sobre a necessidade da aprendizagem sobre o tema.
“A matemática estava muito distante da vida. A ideia é que os filhos passem a ajudar os pais na feira, por exemplo. A educação financeira também irá ajudar a criança entender sobre consumismo”, afirma a secretária, que diz que compra de itens fúteis serão vistos pelas crianças como desnecessário. Ainda de acordo com a Valéria, para preparar os educadores da cidade, a secretaria irá promover treinamento em formato EAD, com cursos à distância.
Em Anápolis, maior cidade fora de região metropolitana, a gestão municipal também já trabalha o tema em forma de projeto experimental. O plano de ensino do município que integra educação fiscal composto pelos projetos Olimpíada Digital de Educação, Trilhas e AlunoTec levou o município a ser reconhecido entre as cinco melhores secretarias de educação do País pela Federação Brasileira de Associações Fiscais de Tributos Estaduais.
“São várias atividades para trabalhar educação fiscal e tributária. Os alunos têm quem entender além da parte fiscal a tributária, de forma que ele se aproprie desses conhecimentos”, afirma a diretora de Tecnologia da Secretaria de Educação de Anápolis, Mary Marcon.
Desafios
Para os professores pioneiros nos trabalhos sobre o tema, a disciplina carrega desafios. Segundo Ferdinand, apesar da abstração da matemática também ser necessária, uma dinâmica aplicável às realidades, como no caso da educação financeira será o determinante para o bom desempenho dos estudantes.
O professor Elber concorda, para ele, o processo dependerá, também, dos recursos disponíveis. Em analogia, o educador exemplifica: “Podemos comparar com a confecção de um simples bolo de cenoura. Você pode fazer um bolo de cenoura delicioso, sem cobertura de chocolate, sem chocolate granulado, mas com certeza poucas pessoas farão desse bolo sua primeira opção. Ao contrário, se esse bolo tiver todos os demais itens que o façam ficar atraente, a maioria da pessoas desenvolverá interesse em prová-lo. Da mesma forma é a disciplina proposta, se não houve meios de a tornem atraente, será apenas uma extensão ‘chata’ da temida matemática”.
Apesar da ponderação, o professor se diz esperançoso. “Se bem desenvolvida, essa disciplina pode fazer muita diferença na vida desses alunos, sem sombra de dúvida muitos serão beneficiados, e tenho a esperança de vê-los bem sucedidos e ter feito parte desse processo”, finaliza Elber.