Após semanas de tensão e imposição de tarifas bilaterais, Brasil e Estados Unidos iniciam um processo de reaproximação. Para o ex-embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deixou de ser prioridade na relação bilateral, mas as sanções aplicadas a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) permanecem inalteradas.

A trégua diplomática teve início após o presidente Donald Trump se encontrar com Luiz Inácio Lula da Silva na Assembleia Geral da ONU, em setembro, e elogiar o brasileiro. Desde então, os líderes retomaram conversas por telefone, e assessores planejam um encontro presencial — possivelmente na Malásia, durante uma cúpula da Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático).

A mudança de postura de Trump marca uma guinada significativa: em julho, ele havia imposto tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e condicionado a normalização das relações à suspensão do julgamento de Bolsonaro, seu aliado político.

Em entrevista à BBC News Brasil, o ex-embaixador dos EUA no Brasil Thomas Shannon aponta que a reviravolta se deve a dois fatores principais. Primeiro, Trump percebeu que não conseguiria interferir no processo judicial de Bolsonaro. “Trump sabe que sua tentativa de proteger Bolsonaro da prisão e garantir que ele pudesse disputar eleições fracassou”, afirmou o diplomata. Mesmo após sanções e tarifas, Bolsonaro foi condenado pelo STF a 27 anos e 3 meses de prisão por golpe de Estado e outros crimes.

O segundo fator, segundo Shannon, é que as tarifas impostas aos produtos brasileiros prejudicariam empresas e consumidores americanos. “Acho que o presidente foi exposto, por meio do setor privado americano, a um curso intensivo sobre o impacto dessas tarifas no dia a dia de muitos americanos”, disse.

Para o ex-embaixador, a reaproximação mostra a habilidade diplomática de Trump: transformar um impasse bilateral em um encontro pessoal positivo, alterando o tom da relação entre os dois países.

No entanto, Shannon destaca que a melhora nas relações não significa a reversão das sanções contra ministros do STF e outras figuras políticas. “As negociações devem se concentrar em questões econômicas”, explicou.

Diplomata de carreira, Shannon foi embaixador dos EUA no Brasil entre 2009 e 2013, ocupou altos cargos na chancelaria americana e hoje atua como assessor sênior de Política Internacional no escritório Arnold & Porter, contratado pelo governo brasileiro para tratar das tarifas.

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