Número representa 40 milhões de brasileiros vivendo com até R$ 89 por mês. Além desse expressivo grupo, 2,8 milhões de famílias vivem em pobreza, com renda entre R$ 90 e 178 per capita mensais

Em abril deste ano, 14,5 milhões de famílias registradas no CadÚnico (Cadastro Único do governo federal) viviam em extrema pobreza. Esse é o maior patamar da miséria no Brasil desde o início dos registros disponíveis do Ministério da Cidadania, agosto de 2012, e representa mais de 40 milhões de pessoas. Antes da pandemia, em fevereiro de 2020, havia 1 milhão a menos: 13,4 milhões.

Segundo o Governo Federal, é considerada família vivendo em extrema pobreza aquela com renda per capita de até R$ 89 mensais. No geral, são pessoas que vivem nas ruas ou em barracos de favelas. Além desse expressivo grupo, 2,8 milhões de famílias vivem em pobreza, com renda entre R$ 90 e 178 per capita mensais.

Recessão e queda

Segundo o professor e pesquisador na área de economia popular Cícero Péricles de Carvalho, da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), o aumento no número de famílias na extrema pobreza pode ser explicado pela recessão e pelo baixo crescimento da economia, aliados aos limites das políticas sociais do governo.

“A situação atual do mercado de trabalho explica parte desse crescimento: são 14 milhões de desempregados, 6 milhões de desalentados [trabalhadores que desistiram de procurar emprego] e mais 7 milhões de subocupados, num total de 27 milhões de brasileiros sem renda ou com renda parcial do trabalho. Esse conjunto tem quase o mesmo número das famílias inscritas.

Para Carvalho, isso amplia a desigualdade do Brasil, o que gera uma massa de pessoas não só em extrema pobreza. “Temos ainda mais 2,8 milhões de famílias pobres, ou seja, mais 8,5 milhões de brasileiros com uma renda entre R$ 89 e R$ 178. Parece algo incompreensível, no sentido econômico, para um país que é a oitava economia mundial”, diz. O cenário para os próximos meses, diz, ainda é incerto por conta da pandemia. Mas Carvalho espera uma redução nos números da Covid-19 deve aliviar a situação da pobreza.

Bolsa família

Por causa do maior número de necessitados, o Bolsa Família bateu recorde de beneficiários em maio, com 14,69 milhões de famílias atendidas em calendário que vai até o dia 30. Dessas, 9,9 milhões foram elegíveis para receber o novo auxílio emergencial e tiveram um aumento no valor pago.

O Ministério da Cidadania informou que existe um trabalho de “aprimoramento do conjunto de programas sociais do governo federal, que vai além do Bolsa Família”.

“O objetivo é ampliar o alcance das políticas sociais e atingir, com maior eficácia, a missão de superar a pobreza e minimizar os efeitos da desigualdade socioeconômica em nosso país”, disse, em nota publicada no último dia 14.

Segundo o governo, a reestruturação dos programas tem o foco na “emancipação do cidadão”. A fala tem relação com o discurso do presidente Jair Bolsonaro, na semana passada em Maceió, onde defendeu a ideia de “libertar” os beneficiários de prefeituras.

Hoje, o cadastro é controlado pelos municípios. A ideia do governo federal é criar um aplicativo em que o cidadão possa fazer o cadastro diretamente para solicitar o benefício. “A experiência adquirida com o pagamento do auxílio emergencial em 2020, e replicada neste ano, possibilitou o atendimento a uma ampla parcela da população que, até então, era considerada ‘invisível’.