Pai do ministro das Relações Exteriores teria dificultado extradição de nazista
12 fevereiro 2019 às 12h56
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Henrique Fonseca de Araújo foi procurador-geral de Justiça no governo de Ernesto Geisel, na Ditadura Militar
O jornal Folha de São Paulo apurou que ex-procurador-geral da República, Henrique Fonseca de Araújo, dificultou a extradição de um nazista responsável por 250 mil mortes entre 1942 e 1943. Ocupante do cargo no governo de Ernesto Geisel é pai do chanceler e ministro das Relações Exteriores de Jair Bolsonaro (PSL), Ernesto Araújo.
Morto em 1996, o ex-procurador deu pareceres negativos à extradição de Gustav Frans Wagner, que era subcomandante do campo de concentração de Sobibor, na Polônia, ocupada pela Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial.
De acordo com relatos, a prática de canibalismo no campo era comum, porque os soldados davam restos mortais para os presos comerem. Um depoimento da sobrevivente, Esther Raab, conta, ainda, que ele metralhou de um bebê que estava no colo de sua mãe.
Segundo ela, ele era conhecido como “besta humana”. O autor de O Campo da Morte de Sabibor, Chris Webb disse à Folha, que Wagner era considerado um dos nazistas mais temidos da região.
Ele fugiu após o fim da guerra e foi encontrado no Brasil em 1978. Países como Polônia, Áustria, Alemanha e Israel pediram por sua extradição, mas sem sucesso. O pedido do último ainda foi preterido pelo ex-procurador, que disse que Israel não tinha competência para fazê-lo, por não ser reconhecido como Estado à época.
O argumento para as outras negativas era de que os crimes haviam sido prescritos de acordo com a Lei brasileira. A Alemanha, então, juntou novas provas e o pedido foi atendido quando Geisel sai do Poder e entra João Figueiredo, com seu novo procurador Firmino Ferreira da Paz, que atendeu à solicitação com a ressalva de que ele não poderia ser condenado à prisão perpétua ou à pena de morte, devido à legislação brasileira.
Em 1979, no entanto, o Superior Tribunal Federal (STF) indeferiu a autorização de Firmino por maioria com os mesmos argumentos de Henrique Araújo. O então ministro Carlos Thompsom Flores foi um dos que votou pelo indeferimento. Ele é avô do atual presidente do Tribunal Regional da 4ª Região (TRF-4), Carlos Thompsom Flores Lenz.
O nazista foi preso no Dops e morreu em Atibiaia em 1980, com uma facada no coração. Antes disso, ele tentou se suicidar quatro vezes.
Além desse caso, Henrique Araújo também foi responsável por pareceres de censura a livros, jornais e peças de teatro durante o período de Ditadura Militar. Um dos alvos foi o cantor e compositor Chico Buarque, que teve a peça Calabar, o Elogio da Traição vetada.