Padre usa arma de brinquedo para cometer três assaltos

05 março 2021 às 09h38

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O padre Elizeu Lisbôa Moreira foi preso com 1,5 mil reais, produtos de higiene e alimentos
Há histórias da vida real que seriam mais bem contadas por escritores, como P. D. James ou Ruth Rendell, do que por repórteres, seres apressados, às vezes de mentalidade justiceira, o que não raro prejudica a exposição das nuances e ambiguidades da vida, do ser. É o caso da história do jovem padre Elizeu Lisbôa Moreira.

Padre Elizeu é um homem modesto e tímido — o que, segundo o arcebispo Rodolfo Luís Weber, é apreciado pelos fiéis de Tapejara, município do Rio Grande do Sul, nas proximidades de Passo Fundo.
O padre discreto, de uma religiosidade a toda prova, um dia “surtou” e começou a assaltar. Na terça-feira, 2, foi preso pela polícia de Passo Fundo depois de cometer mais um assalto (ao todo, foram três). Ele usava uma arma de brinquedo para roubar estabelecimentos comerciais. Seu método era simples: entrava na loja, pegava alguns produtos e, em seguida, anunciava o assalto. Depois, fugia num automóvel da Igreja Católica.
Como um jovem pacato de repente começa a assaltar, como é a transição? As reportagens não explicam. “O mais chocado sou eu, claro. Na igreja o padre não é controlado diariamente pelo bispo e cada um tem suas atividades e responsabilidade individual. Nesses cinco anos que o conheço, ele nunca apresentou nenhum traço ou algo que pudesse levar a desconfiar de algo”, disse Dom Rodolfo Luís Weber à revista “Época”. De fato, há algo de insondável em cada ser. Seus “sofrimentos” às vezes são revelados apenas aos psicólogos, psicanalistas e psiquiatras — quando são.
Rodolfo Luís Weber revela que Elizeu Lisbôa Moreira passou por tratamento psiquiátrico, há pouco tempo. Mas parou, por conta própria, de tomar seus medicamentos, o que pode ter provocado o “surto”. “Assim como muitas pessoas, ele realizava um tratamento e tinha um traço mais melancólico”, afirma o arcebispo.

Elizeu Lisbôa Moreira está preso, em caráter preventivo, na Penitenciária de Passo Fundo. Mas o que fazer de fato com o religioso? A sanha persecutória certamente concluirá: cadeia para servir de exemplo. Mas não funcionará. O padre não tem nenhuma passagem pela polícia e precisa mais de tratamento e acolhimento do que de prisão.
O delegado contou que, ao ser preso, o religioso estava com 1,5 mil reais e produtos de higiene e alimentos. Ele estava com uma arma de plástico. “Não dá nem para dizer que é um simulacro. É uma arma de plástico oca, acho pouco provável que ele tenha comprado para isso”, assinala o policial. “A única coisa que relatou foi que ele teve um momento de loucura e que fez algo errado. Parece que a ficha dele não tinha caído sobre o que fez”, acrescenta. O que o delegado informa sugere que, ao falar em “momento de loucura”, a “ficha caiu”, de algum modo. Mas também sugere, insista-se, que o padre precisa mais de tratamento do que de cadeia — lugar em geral violento, nada propício para pessoas frágeis como ele.
O arcebispo afirma que a Igreja Católica poderá “reintegrar” ou afastar definitivamente o padre. Vai depender da investigação da polícia. Sobretudo, dom Rodolfo deveria examinar o que dirão psiquiatra e psicólogo a respeito de Elizeu Lisbôa Moreira. Jogá-lo no meio das turmas que dominam os presídios (na verdade, deve responder o processo em liberdade) ou abandoná-lo ao deus-dará será desumano. Acolhê-lo é o melhor — um santo — remédio. Talvez seja melhor retirá-lo da região e, se ele quiser, enviá-lo para outro Estado. O padre, tudo indica, é um ser perfeitamente recuperável — se contar com apoio apropriado e decidido.