Os aniversários de Jucelino Kubitschek: na democracia e na ditadura

12 setembro 2025 às 10h15

COMPARTILHAR
O Juscelino Kubitschek de 1976 nem de longe se parecia com o Juscelino Kubitschek de vinte anos antes, quando assumiu a Presidência da República. O sorriso do “Presidente Bossa Nova” deu lugar ao triste político cassado pela ditadura militar. Em meados de 1976, surgiu um boato de que Juscelino tinha m0rrido. Ao saber disso, ele disse “sou mais util ao Brasil morto do que vivo”. Para quebrar o clima ruim, a amiga Vera Brandt perguntou: “Juscelino, seu aniversário está chegando. Já pensou o que pretende fazer nesse dia?”. Nem a lembrança do dia do seu nascimento o animou: “Pela primeira vez na minha vida eu não pensei no que vou fazer no meu aniversário”. Nascido na mineira Diamantina, em 12 de setembro de 1902, JK não tinha mais o que comemorar.
O exílio, a cassação dos direitos políticos, os inúmeros Inquéritos Policial Militar pesaram na alma de Juscelino. As fotos do ex-presidente no período pós-cassação mostram o olhar triste, semblante abatido. Para aqueles tempos difíceis, ele era página virada na história. Mas, quando o Brasil era uma democracia e os Presidentes eleitos pelo voto popular, a coisa mudava de figura. Quantos 12 de setembro ele comemorou com Dona Júlia, sua mãe, Dona Sarah, sua fiel esposa, suas filhas, Márcia e Maria Estela. Quantos 12 de setembro ele comemorou no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, quando era Governador de Minas Gerais. Quantos 12 de setembro ele comemorou no Palácio do Catete quando era Presidente da República. Imagine 12 de setembro de 1960, seu primeiro aniversário em Brasília.
Em tempos democráticos, o político aniversariante é paparicado, recebe presentes, lembrancinhas, abraços, apertos de mão. O telefone não para de tocar. Em tempos ditatoriais, o político cassado é abandonado, os que se diziam amigos não mandam mensagens. O telefone raramente toca. Juscelino sentiu na pele o amargo gosto do exílio. Imagine para ele passar o seu aniversário longe do país que ele tanto amou e serviu. A cassação é uma punição política que ressoa na alma.
O acidente na Via Dutra impediu Juscelino de voltar a ver o Brasil democratizado e comemorar seu aniversário com a alegria de 1956.
Leia também: As duas vezes que Goiânia ficou sem desfile de 7 de setembro