No mês da Consciência Negra, o Orum Aiyê – Quilombo Cultural ocupa o Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás (UFG) com duas mostras afro-referenciadas: “Iyá Agbá – As Matriarcas”, de Raquel Rocha, e “Entre Olhares, Raízes e Memórias”, coletivo que reúne artistas negros do Centro-Oeste. As exposições abrem no dia 15 de novembro, às 19h, integrando o Festival de Artes Negras, iniciativa que simboliza o compromisso do quilombo cultural com a memória, a resistência e a produção artística negra.

Orum Aiyê Quilombo Cultural: arte, memória e resistência

Fundado em 2020, durante a pandemia, o Orum Aiyê nasceu da união das trajetórias de Raquel Rocha nas artes visuais e de Marcelo Marques no teatro e no circo. “Foi um encontro de dois sonhos”, recorda Raquel. O espaço funciona como casa, terreiro e centro cultural, estruturado a partir da filosofia iorubá que dá nome ao quilombo: orum (céu) e aê (terra).

“O orum, na cosmovisão iorubá, está aqui do nosso lado. Não está longe. Nós estamos no Aê em luta, mas não estamos sozinhos: estamos acompanhados desses orixás e desses ancestrais que lutaram antes e continuam lutando através da gente”, afirma a artista.

Essa concepção orienta todas as ações e projetos do espaço, que articula circo, teatro, dança, música, literatura, economia criativa e artes visuais, sempre pela perspectiva afrocentrada e antirracista. “O quilombo cultural é um forte. E nossas formas de nos armar hoje são por meio da arte e da cultura”, resume Raquel.

As Matriarcas: arte como memória, culto e resistência

A exposição “Iyá Agbá – As Matriarcas” apresenta novas obras da série homônima, iniciada em 2024 e ampliada em 2025. As pinturas em acrílica, produzidas sobre peneiras bordadas com 16 búzios que representam o merindilogun, fazem um levantamento histórico de grandes Mães de Santo brasileiras. As obras são acompanhadas de quartinhas suspensas, preenchidas com omí (água), simbolizando a vida que se renova pela ancestralidade.

“A série traz como poética a manutenção da vida de todas essas mulheres. Por meio do culto e da memória, seus legados nos armam diante do racismo e elas se erguem como um exército de ancestrais intrépidos”, explica Raquel Rocha.

Ela interpreta a arte como território de fissuras e fricções, ligadas às cicatrizes da escravidão. “Essas rachaduras de território, de pertencimento e de memória criam um novo curso d’água que cicatriza feridas e forma rios, lagos e bacias de resistência”, afirma.

As Matriarcas já circularam por importantes espaços culturais, incluindo a Galeria Pretos Novos, no Rio de Janeiro, onde receberam exposição individual em setembro.

Bloco Tambores do Orum: história, estudo e luta nas ruas

O Festival de Artes Negras se articula também com o trabalho do Bloco Tambores do Orum, iniciativa que une música, dança, percussão, pernas de pau e pesquisa histórica. “Não somos um bloco que toca marchinha. Viemos contar histórias pretas”, afirma Marcelo.

A cada ano, o bloco leva para as ruas um enredo fundamentado em autores e referências da intelectualidade negra. Em 2024, o tema foi Exu; em 2025, a Revolta dos Malês; e para 2026, o projeto é abordar o Quilombo dos Palmares.

Ele pontua. “Existe um processo de estudo para que todos entendam a história. O bloco é um mecanismo de luta, um mecanismo de recontar a nossa história.”

Nas apresentações, as obras dialogam com temas estruturais, como o sistema carcerário. “Tem um fato na Revolta dos Malês: o estopim foi a prisão injusta do líder. Hoje temos a quantidade de pessoas negras presas injustamente. Levamos essa discussão para a rua”, diz Raquel.

Serviço

Exposições: “Iyá Agbá – As Matriarcas” e “Entre Olhares, Raízes e Memórias”
Data: 15 de novembro de 2025 (sábado)
Horário: 19h
Local: Museu Antropológico da UFG – Praça Universitária, Goiânia
Entrada: Gratuita
Realização: Orum Aiyê Quilombo Cultural
Financiamento: PNAB – Política Nacional Aldir Blanc, edital nº 05/2024

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