Na última rodada das pesquisas de intenção de voto para prefeito de Anápolis, divulgada nesta sexta-feira, 4, o Opção Pesquisas mostrou, pela primeira vez desde que deu início às coletas de dados e entrevistas no município, o candidato do PL, Márcio Corrêa (39,3% na estimulada), à frente do candidato do PT, Antônio Gomide (35,9%). A virada do bolsonarista sobre o petista confirma não só a tendência de crescimento e de consequente virada de Corrêa, pressentida pelos levantamentos dos últimos meses, mas também a força da polarização ideológica que, à exceção de eleições municipais tradicionais, parece ter moldado os rumos em Anápolis.

Atualmente deputado estadual, Gomide foi vereador e duas vezes prefeito de Anápolis (na reeleição, foi, proporcionalmente, o prefeito mais bem votado do Brasil em cidades onde há segundo turno). No entanto, como é sabido, político não é profissão. Gomide é odontólogo. Formou-se em odontologia pela Faculdade de Odontologia João Prudente, em Anápolis, e especializou-se em Dentística Restauradora, Odontologia em Saúde Coletiva e em Educação em Saúde Pública.

Do outro lado, com ideologia, partido e discurso totalmente opostos ao de Gomide, está Márcio Corrêa. Ele compartilha, contudo, a mesma formação de Gomide. Além de empresário do ramo imobiliário, Corrêa é suplente de deputado federal e, por formação, cirurgião dentista. Foi professor da rede estadual de ensino entre 2003 e 2004, dando aulas de Química e Biologia para alunos do Ensino Médio, e atuou no município anapolino como cirurgião dentista por 19 anos. Uma vida.

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Quis o destino que dois profissionais da mesma área, com bagagens de experiência invejáveis e capacidade de gestão fossem adversários na mesma eleição. Mas, aparentemente, um deles soube analisar melhor o ambiente para acertar a estratégia.

Desde que deixou o MDB e se filiou ao PL, no início de abril deste ano, sagrando-se o candidato da base bolsonarista em Anápolis, Márcio Corrêa, muito atrás de Antônio Gomide nas pesquisas de intenção de voto que já circulavam na cidade, reivindicou para si o título de representante original da direita e investiu em polarizar a disputa com o oponente petista, elevando o discurso ao patamar nacional. Termos como “petismo, Lula, esquerda e direita” ganhou espaço amplo nos debates, para a infelicidade de Gomide.

Anápolis é conhecida como uma das cidades mais bolsonaristas de Goiás. A se ter uma ideia, no segundo turno das eleições presidenciais de 2022, os anapolinos deram mais de 70% dos votos para o então candidato à reeleição Jair Bolsonaro, enquanto Lula – que saiu vitorioso na disputa no Brasil, mas derrotado em Anápolis – teve menos de 30%. Corrêa leu nas entrelinhas que era, sim, possível usar o cenário ideológico a seu favor, e conseguiu.

Colando a sua imagem à de Bolsonaro, que, inclusive, participou presencialmente de atos eleitorais com Márcio Corrêa em Anápolis, o candidato do PL saiu da posição de segundo lugar (5 pontos abaixo de Gomide) em agosto deste ano, conforme levantamento do Opção Pesquisas, para o primeiro lugar, com três pontos à frente do ex-prefeito petista.

E leia-se: como dito, foi a exceção da regra. Em Goiânia, o discurso ideológico não colou. Fred Rodrigues, candidato do bolsonarismo que tentou emplacar exatamente a mesma estratégia de Corrêa em Anápolis, hoje amarga em quarto lugar na pesquisa mais recente de intenção de votos, com 15%.

É tecnicamente certo que Anápolis terá segundo turno, mas ainda é cedo para cravar qual dos dois dentistas levará a eleição. Pelo sim ou pelo não, o cenário anapolino mostrou, na prática, que na política não há regras que não levem com elas inusitadas exceções.