Um relatório divulgado nesta sexta-feira, 22, pela Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC), órgão ligado à ONU, declarou que há fome generalizada na Faixa de Gaza, o primeiro caso registrado no Oriente Médio. O documento afirma que a situação foi provocada por ações do governo de Israel. A administração de Benjamin Netanyahu rejeitou as conclusões e classificou o relatório como “falso e distorcido”.

De acordo com a ONU, a fome atinge principalmente a Cidade de Gaza, alvo de ofensiva terrestre do Exército israelense, e pode se expandir para todo o território nos próximos meses caso não haja mudanças. O subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Tom Fletcher, afirmou que o quadro é uma “fome promovida como arma de guerra” e defendeu a abertura imediata das fronteiras para a entrada de ajuda humanitária.

“O que vemos é uma fome causada pela crueldade, justificada com vingança, habilitada pela indiferença e sustentada pela conivência”, disse Fletcher.

Segundo a ONU, mais de 500 mil palestinos vivem em situação de fome extrema, e pelo menos 132 mil crianças com menos de cinco anos correm risco de morrer de desnutrição aguda — número que dobrou desde maio. Mais de 200 pessoas já teriam morrido de inanição desde o início da guerra.

O governo de Israel contestou os dados e afirmou que “não há fome em Gaza”. Netanyahu chamou o relatório de “mentira descarada”, e o Ministério das Relações Exteriores acusou a IPC de atuar como “ferramenta de propaganda do Hamas”.

Em nota, o governo israelense afirmou que mais de 100 mil caminhões de ajuda humanitária entraram no território desde o início do conflito — número considerado insuficiente pela ONU, que estima necessidade mínima de 400 a 500 caminhões por dia.

O Alto Comissário da ONU para Direitos Humanos, Volker Turk, alertou que as mortes por fome podem gerar acusações de crimes de guerra. Já o secretário-geral, Antonio Guterres, disse que “o desastre da fome produzida pelo homem em Gaza não pode ficar impune”.

A guerra em Gaza começou após os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023, que deixaram mais de 1,2 mil mortos em Israel. Desde então, segundo o Ministério da Saúde do enclave, controlado pelo Hamas, mais de 61,5 mil palestinos foram mortos na ofensiva israelense.

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