Revelações foram feitas em depoimento à Comissão da Verdade do Rio de Janeiro e divulgadas em reportagem do O Globo

Local clandestino do Exército para torturar presos políticos durante a ditadura | Foto: Reprodução/O Globo
Local clandestino do Exército para torturar presos políticos durante a ditadura | Foto: Reprodução/O Globo

O repórter Chico Otávio, do Jornal O Globo, faz uma revelação chocante em reportagem publicada nesta sexta-feira (21/3) sobre o período ditatorial. Tendo por base relato do oficial do Exército e coronel reformado Paulo Malhães (foto abaixo) à Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, é revelado que presos políticos mortos sob tortura tinham os dedos das mãos cortados e a arcada dentária e as vísceras arrancadas.

Malhães pertencia ao grupo que realizava este “trabalho” antes de jogar os corpos em rios da Região Serrana, próximo ao distrito de Itaipava, para que jamais fossem encontrados. O objetivo era dificultar a possível identificação das vítimas, sendo que os órgãos eram retirados para evitar que o defunto viesse a boiar, o que era difícil, já que os corpos eram ensacados junto a pedras.

torturador paulo malhaes mmO coronel reformado refere-se às mortes de presos políticos ocorridas numa residência chamada de Casa de Petrópolis ou “casa das mortes”, em que funcionários do Centro de Informações do Exército prendiam, torturavam e assassinavam aqueles que se opunham à ditadura.

Em seu depoimento, Malhães não deixou transparecer arrependimento, chegando a explicar didaticamente os motivos pelos quais se abria a barriga das vítimas e a dizer, ironicamente, que ninguém em sã consciência pode ter esperança de encontrar esses corpos. Em determinado trecho do interrogatório ele chegou a afirmar que gosta de decaptar bandidos da região em que vive, a Baixada Fluminense. “Eu gosto de decapitar, mas é bandido aqui”.

Se faz necessária a reprodução, na íntegra, destes dois trechos de seu testemunho presentes na matéria de Chico Otávio:

1) “Jamais se enterra um cara que você matou. Se matar um cara, não enterro. Há outra solução para mandar ele embora. Se jogar no rio, por exemplo, corre. Como ali, saindo de Petrópolis, onde tem uma porção de pontes, perto de Itaipava. Não (jogar) com muita pedra. O peso (do saco) tem que ser proporcional ao peso do adversário, para que ele não afunde, nem suba. Por isso, não acredito que, em sã consciência, alguém ainda pense em achar um corpo.”

2) “É um estudo de anatomia. Todo mundo que mergulha na água, fica na água, quando morre tende a subir. Incha e enche de gás. Então, de qualquer maneira, você tem que abrir a barriga, quer queira, quer não. É o primeiro princípio. Depois, o resto, é mais fácil. Vai inteiro.”