O uso excessivo de telas pode desencadear impactos severos na saúde mental e física dos indivíduos. Nesse sentido, vivemos em uma era digital em que o uso de telas se tornou parte inseparável da rotina. Seja por trabalho, lazer ou socialização, estamos constantemente conectados a celulares, computadores e televisores. Embora a tecnologia tenha ampliado nossas possibilidades, especialistas ouvidos, nesta quarta-feira, 13, pelo Jornal Opção alertam para os riscos do uso excessivo desses dispositivos, especialmente no que diz respeito à saúde mental, física e ao desenvolvimento cognitivo.

O psicólogo William Nascimento, pós-graduando em psicologia organizacional e do Trabalho, destaca que o uso de telas é natural e até necessário nos dias de hoje. No entanto, quando feito em excesso, pode se tornar prejudicial. Segundo ele, a busca por satisfação imediata, o desejo de estar sempre atualizado e o entretenimento constante são fatores que contribuem para esse comportamento compulsivo.

“Diversos estudos apontam correlação entre exposição prolongada a dispositivos eletrônicos e problemas como ansiedade, depressão e dificuldades de regulação emocional”, afirma William. Além disso, ele chama atenção para o afinamento do córtex cerebral, que é a área responsável pela memória, tomada de decisões e resolução de problemas, como uma das consequências mais preocupantes da superexposição digital.

Embora o especialista não classifique as telas como causadoras diretas de vício, William ressalta que seu uso excessivo pode atuar como um ‘facilitador’. Um exemplo é a síndrome de FOMO (Fear of Missing Out), que gera ansiedade por sentir que se está perdendo algo importante ou popular. “O mundo não para de mudar, e essa necessidade de acompanhar tudo pode gerar ansiedade, impulsividade e até gastos financeiros desnecessários”, explica. Tendências virais, redes sociais e jogos online alimentam esse ciclo de compulsão, levando o indivíduo a buscar constantemente pertencimento e validação.

William também destaca o impacto das redes sociais na autoestima. O Brasil, terceiro país que mais consome redes sociais no mundo, é palco de uma constante exposição a “vidas perfeitas” e padrões inalcançáveis. “As plataformas estimulam versões idealizadas do outro, levando à comparação desfavorável e à sensação de insuficiência”, alerta. A busca por curtidas, comentários e seguidores transforma métricas digitais em indicadores de valor pessoal, deslocando o eixo da autoestima de critérios internos, como habilidades e valores, para padrões externos e muitas vezes inatingíveis.

Crianças e adolescentes

O psicólogo Celmo José Caetano reforça que os efeitos negativos são especialmente graves em crianças e adolescentes. Entre os principais impactos, ele destaca o aumento da obesidade, problemas de sono, sedentarismo, sintomas depressivos e ansiosos, além de dificuldades de atenção e queda no desempenho escolar. Segundo ele, os efeitos variam conforme a idade, o tipo de tela e o conteúdo consumido, sendo fundamental estabelecer limites saudáveis e incentivar atividades físicas e sociais.

Efeitos neuroquímicos

A psicóloga e psicoterapeuta de adolescentes, adultos e casais, Amanda Vaz, aprofunda os efeitos neuroquímicos e fisiológicos do uso excessivo de telas. Ela explica que a claridade das telas ativa a produção de cortisol e adrenalina, hormônios ligados ao estresse, além de hiperestimular a dopamina, neurotransmissor do prazer. “Essa hiperestimulação pode prejudicar a capacidade de sentir bem-estar em atividades que exigem mais esforço”, diz Amanda. Ela também alerta para problemas oculares, como vista cansada e ressecamento, além de consequências graves como nomofobia (medo de ficar longe do celular), diminuição precoce do QI, baixa autoestima e perda de prazer em atividades cotidianas.

Caminhos para o equilíbrio

Apesar dos riscos, os especialistas são unânimes em afirmar que o uso consciente das telas é possível e necessário. Estabelecer limites, buscar atividades offline, valorizar interações reais e desenvolver critérios internos de autoestima são passos fundamentais para preservar a saúde mental e física. Em tempos de hiperconexão, talvez o maior desafio seja justamente desconectar, não por completo, mas o suficiente para reconectar com o que realmente importa.

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