O tratamento que está devolvendo a visão a pessoas com danos nos olhos
24 novembro 2024 às 14h31
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Pela primeira vez na história, cientistas conseguiram reverter a cegueira de pacientes com danos severos na córnea utilizando células-tronco. O feito inédito, realizado por um grupo de pesquisadores japoneses da Universidade de Osaka, marca um avanço significativo na medicina regenerativa e pode abrir portas para terapias que transformarão o tratamento de deficiências visuais.
O estudo, publicado na prestigiada revista The Lancet, utilizou células pluripotentes induzidas – um tipo de célula-tronco reprogramada a partir de células adultas, uma técnica que rendeu o Prêmio Nobel de Medicina a Shinya Yamanaka e John Gurdon em 2012. A pesquisa focou em quatro pacientes (dois homens e duas mulheres, com idades entre 39 e 72 anos) que sofriam de lesões na córnea e estavam com a visão gravemente comprometida.
O olho humano possui um reservatório natural de células-tronco em uma região da córnea chamada limbo. Quando essa área é danificada, como no caso de doenças genéticas, queimaduras ou infecções, o processo de regeneração natural é interrompido, resultando na formação de cicatrizes que afetam a visão. Embora os transplantes de córnea sejam uma opção, eles nem sempre têm sucesso, especialmente em casos mais graves. A abordagem japonesa, no entanto, superou esse desafio ao usar células sanguíneas de um doador saudável para gerar as células-tronco, uma técnica que mostrou resultados promissores.
Após a modificação das células sanguíneas, os pesquisadores realizaram o procedimento de transplante em 2019. Em 2021, dois anos depois da intervenção, três dos quatro pacientes apresentaram uma recuperação significativa da acuidade visual, com os olhos que antes estavam opacos voltando a brilhar e permitindo uma visão clara. Esses resultados abrem novas possibilidades para o tratamento de doenças oculares graves, e os pesquisadores agora planejam expandir o estudo para um número maior de voluntários.
A pesquisa japonesa se insere em um contexto global de esforços para combater a cegueira, uma condição que afeta cerca de 2,2 bilhões de pessoas no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Desses, cerca de 1 bilhão têm problemas de visão que poderiam ser prevenidos ou tratados. Além dos avanços com células-tronco, outras inovações, como o chip óptico da empresa Neuralink, de Elon Musk, também buscam soluções para diferentes tipos de deficiência visual, como a perda de função no nervo óptico.
A oftalmologista Myrna Serapião, diretora médica da rede Vision One, destaca que os estudos para a recuperação da visão são uma das áreas mais promissoras da medicina moderna. “Diversas frentes de pesquisa estão em andamento, com o objetivo de minimizar os impactos da cegueira, que ainda é um estigma para muitas pessoas”, afirma ela.
Embora os avanços sejam notáveis, obstáculos como o alto custo das novas tecnologias ainda precisam ser superados para que esses tratamentos sejam acessíveis a uma maior parte da população. No entanto, a evolução das terapias para a recuperação da visão está se mostrando mais próxima do que nunca. “Nos próximos anos, podemos esperar uma revolução no combate à cegueira”, prevê Serapião.
Esse estudo japonês, ao demonstrar que é possível restaurar a visão por meio de células-tronco, representa uma grande esperança para milhões de pessoas ao redor do mundo. A ciência continua a avançar, e os próximos passos podem levar a uma verdadeira revolução nas terapias oftalmológicas, mudando o futuro para aqueles afetados pela perda de visão.
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