Considerada “variante de preocupação”; classificação refere-se a cepas mais transmissíveis e com risco maior de letalidade

Notícias sobre a nova variante da Covid-19 espalha novo temor mundo afora. Detectada inicialmente em Botsuana, no sul do continente africano, e depois em maior número de casos na África do Sul, a cepa batizada de Omicron ainda se assenta sobre muitas dúvidas. Na última sexta-feira, 26, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou-a como “variante de preocupação”.

Ainda é cedo para entender seus efeitos sobre o contágio, a gravidade da doença ou a eficácia da vacina, mas, como ela apresenta muitas mutações, governos preferiram se antecipar enquanto forças-tarefa de cientistas trabalham 24 horas por dia para entendê-la.

O primeiro caso de que se tem conhecimento, segundo a OMS, é de uma amostra de vírus coletada em 9 de novembro. Houve também quatro casos em Botsuana e um em Hong Kong, diretamente relacionado a uma viagem à África do Sul. Na Europa, o primeiro caso foi confirmado na Bélgica, em um paciente que havia chegado do Egito no início de novembro.

Em uma entrevista coletiva, o professor Tulio de Oliveira, diretor do Centro para Resposta Epidêmica e Inovação da África do Sul, disse que foram localizadas 50 mutações no total, e 32 na proteína spike — “chave” que o vírus usa para entrar nas células e alvo da maioria das vacinas contra a covid-19.

Tulio Oliveira, que é brasileiro, disse que a variante carrega uma “constelação incomum de mutações” e é “muito diferente” de outros tipos que já circularam.

Preocupação

Um dos primeiros virologistas a alertar para a variante, Tom Peacock, do Imperial College de Londres, ressaltou que as mutações feitas na proteína S eram as “mais horríveis” já vistas, e que era a primeira vez que ele via não uma, mas duas mutações “no local de clivagem da furina”.

Túlio de Oliveira, afirmou que a variante surpreendeu os virologistas, porque “deu um grande salto na evolução e tem muito mais mutações do que se esperava.

Se sua estrutura é muito alterada em relação à usada para a produção de vacinas contra Covid, há preocupação de que os imunizantes percam eficácia contra a variante.

Transmissão

Ainda não se sabe se a nova cepa é mais contagiosa. Túlio de Oliveira afirmou que a variante “tem potencial para se espalhar muito rapidamente”, e que os cientistas estão trabalhando para entender os efeitos da nova variante em cinco pontos: 1) transmissibilidade; 2) efeito das vacinas; 3) possibilidade de reinfecção; 4) severidade da doença, e 5) diagnóstico.

Vacina é eficiente contra a nova cepa?

Não há pesquisas suficientes ainda sobre como a variante atua nem como reage às vacinas e anticorpos de quem desenvolveu imunidade natural. A OMS afirmou que pode levar algumas semanas até que se entenda melhor o impacto da nova variante.

África

O  Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis da África do Sul, em comunicado, informou que o número de casos detectados e o percentual de testes positivos estão aumentando rapidamente, em especial na província mais populosa de Gauteng, onde estão as cidades de Pretória e Johannesburgo.

As estruturas de saúde devem esperar uma nova onda de pacientes nos próximos dias ou semanas, alertaram os cientistas. A África do Sul, oficialmente o país mais afetado pelo vírus no continente, vem registrando novo aumento de infecções nas últimas semanas.

Atribuído primeiramente à variante Delta, o aumento “exponencial” das infecções foi provocado por esta nova variante, o que representa “uma grande ameaça”, segundo o ministro da Saúde, Joe Phaahla. “Este inimigo invisível com o qual lidamos é muito imprevisível”, acrescentou Phaahla.

A África do Sul tem quase 2,9 milhões de casos de covid-19 e 89,6 mil mortes em decorrência da doença. Mais de 1,2 mil casos novos, em um período de 24 horas, foram contabilizados na quarta-feira (24), contra cem no início do mês.

As autoridades temem uma nova onda de pandemia até o final do ano, pois apenas 35% dos adultos com os requisitos necessários estão totalmente vacinados.

Mundo

Globalmente, a Europa voltou a ser o epicentro da pandemia. A Áustria impôs recentemente novo confinamento, a França anunciou reforço das medidas sanitárias, e a Alemanha ultrapassou os 100 mil óbitos.

O sars-cov-2 já matou mais de 5,16 milhões de pessoas em todo o mundo desde seu aparecimento na China, no final de 2019.

A OMS estima que, considerando-se o excesso de mortalidade direta e indiretamente ligado à covid-19, o número de vítimas da pandemia pode ser de duas a três vezes superior.

Brasil

O Ministério da Saúde informou na sexta-feira, 26, que não foi identificado nenhum caso da variante B1.1.529 do novo coronavírus no Brasil. “A pasta está em constante vigilância e analisa, de forma conjunta com vários órgãos do governo federal, as medidas a serem tomadas”, acrescentou, por meio de nota.

Ainda de acordo com o comunicado, o governo brasileiro solicitou à Organização Mundial da Saúde (OMS) mais informações sobre a nova variante. “Além disso, o ministério já enviou um comunicado de risco à Rede de Vigilância, Alerta e Resposta às Emergências em Saúde Pública no Sistema Único de Saúde a estarem alertas para qualquer mudança no cenário epidemiológico”.

Com agências