O populismo é o grande vencedor das eleições em Nova York
05 novembro 2025 às 14h37

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A eleição de Zohran Mamdani à prefeitura de Nova York é um marco na política americana, que acena para tempos de mudanças. A vitória do candidato democrata de extrema-esquerda anuncia um período de turbulência na cidade e ainda sinaliza um momento perigoso para Israel, assim como para os judeus americanos.
A capital financeira do planeta e símbolo da liberdade ocidental — a cidade que sofreu o maior ataque terrorista da história — elegeu um prefeito islâmico. Mamdani ergueu sua plataforma política a partir de críticas ferrenhas à Israel e o apoio violento por uma “Intifada Global”. Intifada é o nome árabe que os palestinos usam para qualificar uma grande revolta contra Israel. Ao estimular uma Intifada global, Mamdani tem consciência de que este é um slogan que vai muito além de um “jingle” eleitoreiro. Suas intenções não estão restritas à administração municipal da Big Apple, seu objetivo é desafiar a legitimidade do estado judeu e o direito de auto-determinação de Israel. Não é coincidência que isso esteja acontecendo na cidade que abriga uma das maiores comunidades judaicas do mundo.
Logo que o resultado emergiu das urnas, Zohran declarou, em discurso, a intenção de cancelar a parceria acadêmica entre a Cornell University e o Technion (Universidade de Tel Aviv), um projeto estabelecido entre as duas instituições há décadas para acelerar o estabelecimento de startups em Nova York. O novo prefeito também disse que vai cortar os investimentos da cidade em fundos israelenses e fechar as unidades municipais criadas para combater o antissemitismo em nome de “expandir o combate contra a islamofobia”. O novo prefeito prometeu ainda mais ações extremistas que parecem preocupadas com a repercussão internacional, e não com os caminhos que vai tomar no comando da zeladoria de Nova York.

Além da posição radical sobre Israel, a eleição de Mamdani reflete um fenômeno que vai além fronteiras. Afinal, o prefeito de Nova York detém um dos cargos políticos mais influentes dos Estados Unidos. A cidade, direta e indiretamente, emprega milhares de trabalhadores e seu orçamento supera o de muitos estados. Quando um cargo tão importante cai nas mãos de alguém que, até então, atuava como um legislador do baixo clero, sem nenhuma experiência administrativa ou política para lidar com sistemas de alta magnitude, o resultado pode ser catastrófico.
Mamdani apresentou durante a campanha propostas irreais e um discurso populista. Prometeu, entre outras coisas, transporte público de graça, subsídios públicos para a compra de casas próprias e a abertura de uma rede de supermercados gerenciados pela prefeitura que deverão garantir o custo baixo dos alimentos. Ele planeja financiar essas iniciativas taxando os mais ricos e cortando orçamentos que considera desnecessários; medidas que podem afugentar o mercado e os moradores mais abastados de Nova York.
O presidente Donald Trump já anunciou sua intenção de cortar drasticamente os fundos federais que anualmente são repassados à Nova York. A fórmula deverá repetir na Quinta Avenida o que os britânicos vivenciaram anos atrás, quando os impostos explodiram em Londres: um êxodo rumo à Dubai.
O ano que vem será marcado pelas eleições parlamentares (midterm elections). Os democratas certamente estão se regozijando com o resultado do pleito em Nova York, mas a vitória de Mamdani pode ser o anúncio de uma divisão ainda maior e, talvez, até mesmo um rompimento entre os dois partidos. Enquanto Trump continua sua “pegada” à extrema-direita, os democratas dão sinais que também estão indo rumo ao extremismo.
Na eleição presidencial de 2024, Trump conseguiu o apoio de 49 dos 50 estados americanos. Até mesmo em Nova York a aprovação do republicano subiu 11 pontos percentuais. Mesmo assim, o resultado do pleito para a prefeitura de NY retrata uma nova fase da política americana, agora, recheada de ideias socialistas e flertes com o comunismo que, nos últimos anos, vem formatando uma geração de jovens passionais que decidiram levar seus questionamentos políticos e existenciais às urnas. Um sinal de que o populismo, seja de direita ou de esquerda, funciona.
A eleição de Mamdani para prefeito de Nova York também é uma clara mensagem à Israel. Diferente das campanhas passadas, as questões relacionadas à Jerusalém vão, gradualmente, se tornando discussões domésticas por toda América — assunto capaz de causar rupturas internas na sociedade que agora busca resoluções imediatas. Há pouco, o apoio dos americanos à causa israelense era praticamente unânime, hoje é um assunto que gera debates.
O que aconteceu noite passada em Nova York acendeu a luz amarela em Jerusalém e em toda comunidade judia americana. O ano que vem será um teste, não somente para a América de Donald Trump e a Nova York de Mamdani, mas, também, para a relação entre Israel e seu aliado histórico: laços de amizade que já não são tão garantidos.
