Por casos de violências estar partido de agentes da Polícia Rodoviária Federal, até integrantes da corporação citam como atípicos

No momento em que agentes reivindicam reajustes salariais, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) se autogolpeia com a abordagem trágica a um homem em Sergipe, na quarta-feira, 25. Um dia antes, na última terça-feira, 24, a mesma corporação integrou a operação da Polícia Militar do Rio de Janeiro, na Vila Cruzeiro, onde resultou em mais de 20 mortos. Com prerrogativas de atuação nas rodovias federais, o Ministério Público daquele estado questiona porque os agentes atuaram fora das jurisdições.  

Ressalvadas comparações, a morte de Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, ocorreu na mesma data que marcou o assassinato de George Floyd, por policiais nos Estados Unidos, há dois anos. Os dois episódios citados acima envolvendo agentes surgem na sequência de uma fatalidade que vitimou dois PRFs no último dia 18. Quando durante uma abordagem a uma andarilho, esse conseguiu tirar a arma de um dos policiais e os alvejaram a queima roupa. O homem foi morto na sequência por PMs. 

Mas casos como esses envolvendo a PRF não são muito comuns, ao menos no noticiário. Essa constatação também é percebida por quem atua na instituição. Inspetor Newton Morais, há décadas integrando a corporação, salienta que nunca viveu algo semelhante. “Não é uma situação recorrente e corriqueira”, destaca. No entanto, o que estaria ocorrendo, uma expansão da truculência praticada por outros policiais e a impunidade em relação a isso? Para o Advogado e professor e mestre em Direito, Alan Kardec Cabral Jr., a explicação para o que ocorre no Brasil é muito complexo.

“O Brasil, sem dúvidas, tem uma herança advinda da ditadura militar, herança do treinamento dos nossos policiais. Infelizmente, no curso de formação já são abordadas algumas técnicas truculentas – policial aluno, depois se ele quiser seguir para as unidades especiais, há os treinamentos de abordagens mais truculentas. Não estou falando que são todos os policiais, sempre gosto de ressalvar isso, mas desde o curso de formação, e no dia a dia de patrulhamento, os policiais são incentivados para o confronto”, tenta resumir o especialista.

Ele destaca que “não tem como atribuir a culpa só ao policial. Há uma frase do professor Orlando Sacon que fala: ‘O policial mata, mas não mata sozinho’. Então acho que é bem por aí. No Executivo, no Legislativo, no Judiciário e na população, para 57%, ‘bandido bom é bandido morto’. O Ministério Público que não faz um controle externo da polícia, que sua missão constituição”.   

“A truculência vem desde a época do Império. O poder de polícia sempre foi em prol do poder elitista. Então foi sempre para resguardar um poder elitista. Então temos registros a bastante tempo, que a polícia sempre foi seletiva, basta ver nossas prisões, que mais de 70% são negros. As mortes, por ações policiais, mais 75% são de negros, jovens da camada inferior da nossa população”, pontua Kardec.