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Campanha de ódio petista pode desengavetar o controle da mídia, colocar em
ação os conselhos sociais e estimular a reforma política em benefício próprio

Miriam Leitão e William Bonner: a imprensa no alvos de Lula da Silva | Fotos: Divulgação
Miriam Leitão e William Bonner: a imprensa no alvos de Lula da Silva | Fotos: Divulgação

A verborreia possessa ou sem pudor com que Lula e a presidente Dil­ma se atiraram na campanha presidencial, nos últimos dias, para abafar a alternância de poder e garantir a continuidade do projeto de dominação do PT sugere que, aprovada ou não a reeleição, teremos, na prática, uma nova forma de governo a partir de amanhã, movida pelo ódio.

Como sintoma de falta de confiança na reeleição, o ódio petista recrudesce nesta coincidência entre a eleição a presidente e as sucessivas denúncias sobre corrupção que envolve a gestão petista desde o mensalão de Lula. Logo no início de seu governo em 2003, quando se iniciou a implantação do projeto de poder permanente pelo partido com os recursos do Planalto.

Em tom de guerra, Lula expôs o ódio à imprensa, na segunda-feira, em São Paulo, em ataque pessoal a jornalistas da Globo. “Daqui para frente, é a Miriam Leitão falando mal da Dilma na televisão; e a gente falando bem dela (Dilma) na periferia”, discursou. “É o (William) Bonner falando mal dela no ‘Jornal Nacional’ e a gente falando bem dela em casa”, falou e arrematou:
— Agora somos nós contra eles.

“Nós contra eles” virou mania. A incitação de massa é corriqueira no discurso de Lula como provocação à luta de classe ou contra entidades e pessoas que contrariam o projeto petista. No caso do jornalista a menção deles agrava aquela acusação de antipetismo feita contra sete jornalistas, há quatro meses, pelo vice-presidente do PT, sindicalista Alberto Cantalice.

Reeleita ou não, Dilma terá respaldo entre os petistas para despertar o projeto de controle da mídia que adormece no Planalto. Seria uma forma de atualizar o governo na sintonia com a onda bolivariana do continente. Se reeleita, poderá se julgar autorizada a executar o domínio da mídia. Se perder a eleição, seria uma forma de consolidar sua obra, ainda que como vingança.

Na mesma situação, a presidente poderá colocar em atividade aquele decreto que assinou na solidão autoritária, mas teve a cautela de ainda não acionar para evitar contestações. Sem levar em conta a oposição do Congresso e da opinião pública, o decreto cria os conselhos populares que poderiam administrar paralelamente à estrutura institucional de governo, desde a municipal à federal.

Os conselhos seriam eminentemente corporativos, a começar pela evidência de que seriam ocupados por movimentos sociais que já operam regularmente numa estrutura anexa ao PT, o único partido que se preocupou com a organização e apoio sistemático deles.

É o mesmo risco de corporativismo que corre uma reforma política conduzida pelo PT mais forte com a reeleição. O tema é recorrente no partido como forma de criar regras que o favoreçam na medida em que dispõe de organização e disciplina superior aos concorrentes. Os outros partidos sabem disso e não deixam o projeto petista avançar no Congresso.

Agora, acuado pelas denúncias de corrupção que financiam partidos desde o mensalão, o PT aproveitou o caráter eleitoral embutido nos saques ao dinheiro público e renovou a circulação da reforma. O tema se intensificou numa forma que mobilizou, na semana que se encerra, a ramificação petista no Supremo Tribunal Federal.

A participação solidária de juízes na mudança político-eleitoral num momento em que o PT se sentiu acuado revela a força com o que o partido, se renovada a presença no Planalto, poderá tocar o assunto desde já de forma prática segundo aquela ideia de constituinte exclusiva. Veremos adiante.