A posse de Sandro Mabel como prefeito de Goiânia, marcada para o dia 1º de janeiro de 2025, simboliza o fim de um ciclo de instabilidade política e administrativa que permeou os últimos quatro anos na capital goiana. Sob a administração anterior, Goiânia enfrentou desafios que testaram os limites de sua resiliência: uma crise na saúde pública, descontrole financeiro e uma desconexão visível entre o governo e os anseios de seus cidadãos. Agora, com a promessa de uma gestão experiente e resolutiva, o novo prefeito carrega as esperanças de uma cidade que anseia por normalidade e progresso.

Os últimos quatro anos foram marcados por episódios que evidenciaram o desgaste da máquina pública em Goiânia. Problemas endêmicos, como a dívida crescente da saúde — que atualmente alcança quase R$ 300 milhões, com cifras atribuídas à Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc) —, levaram a uma situação de colapso operacional em áreas essenciais. Além disso, a gestão da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) revelou falhas na prestação de serviços básicos, como a coleta de lixo e a manutenção urbana, ampliando o desconforto de uma população que se viu negligenciada.

Essa combinação de crises financeiras e operacionais culminou em uma insatisfação generalizada que ecoou nas urnas. A vitória de Mabel no segundo turno, com 55,53% dos votos válidos, reflete mais do que uma aprovação à sua proposta política; é um manifesto de desapontamento e a vontade de mudança.

Uma promessa de transformação

Desde sua eleição, Sandro Mabel tem enfatizado a necessidade de devolver a funcionalidade à administração pública. Com experiência tanto na política quanto no setor privado, Mabel acena com a promessa de governar com pragmatismo, adotando medidas que priorizem eficiência e transparência. Entre as primeiras ações anunciadas estão auditorias e revisões contratuais, como as relacionadas à Fundahc, e um esforço concentrado para regularizar os pagamentos atrasados aos fornecedores, especialmente os da área da saúde.

A equipe escolhida para compor seu secretariado reflete essa ênfase na tecnocracia e no profissionalismo. Nomes como Valdivino de Oliveira, na Secretaria de Finanças, e Luiz Gaspar Pellizzer, na Secretaria de Saúde, apontam para um perfil técnico voltado à resolução de problemas estruturais. Essa composição, aliada à promessa de uma “faxina” administrativa, alimenta expectativas de uma gestão que buscará corrigir as disfunções herdadas.

Desafios 

No entanto, as dificuldades que aguardam Mabel são inúmeras e complexas. Administrar uma cidade com déficits, tanto financeiros quanto de credibilidade pública, exige mais do que discurso; requer habilidade política e execução eficiente. Entre os maiores desafios está o de restaurar a confiança nas instituições municipais. A tarefa vai além de equilibrar as contas e retomar a prestação de serviços. É preciso reconstruir a narrativa de Goiânia como uma cidade funcional e inovadora, capaz de atender aos seus cidadãos em suas necessidades mais básicas e oferecer perspectivas de futuro.

Além disso, a transição de gestão traz consigo o risco de disputas internas e resistências burocráticas, especialmente diante de auditorias que possam expor falhas e irregularidades do passado. Navegar por essas águas exige diplomacia e rigor ético, qualidades que o novo prefeito precisará demonstrar desde os primeiros dias de mandato.

Um novo começo ou mais do mesmo?

Para além das expectativas, a posse de Sandro Mabel suscita uma reflexão sobre o papel da liderança pública em momentos de crise. Goiânia, em muitos aspectos, tornou-se um caso do que ocorre quando a má gestão administrativa encontra a pressão crescente de uma sociedade conectada e exigente. O prefeito eleito assume sob uma pressão histórica e em um momento de intenso escrutínio público.

É inegável que o contexto de sua eleição carrega elementos de otimismo. Sua experiência como empresário e gestor oferece ferramentas importantes para enfrentar os desafios à frente. No entanto, a eficácia de sua administração dependerá da capacidade de conciliar diferentes interesses e implementar mudanças estruturais que, inevitavelmente, incomodarão grupos estabelecidos.

Sandro Mabel traz consigo uma promessa clara: transformar Goiânia em uma cidade que funcione. Suas declarações até agora, que enfatizam a negociação com fornecedores e a retomada de serviços essenciais, oferecem um vislumbre de como ele pretende abordar seu mandato. Porém, como em qualquer transição, palavras devem ser seguidas de ações concretas.

Um dos grandes desafios que Mabel enfrentará será a articulação política necessária para implementar suas propostas. O apoio do governador Ronaldo Caiado e do governo estadual será crucial para garantir recursos e parcerias que viabilizem projetos importantes para Goiânia. O governador já se manifestou sobre a importância da nova gestão: “A cidade carecia de uma pessoa que estivesse capaz de articulação política e de gestão”, ressaltou Caiado.

No entanto, a recente cassação do registro de Mabel pela Justiça Eleitoral devido a acusações de abuso de poder político levanta questões sobre sua governabilidade futura. Apesar dessa situação legal pendente, especialistas afirmam que ele pode assumir o cargo enquanto recorre da decisão.

A cidade, que se viu acuada pelos traumas de uma administração que falhou em corresponder às expectativas, clama por liderança e resultados. Resta saber se o novo prefeito conseguirá alinhar pragmatismo e inovação em prol de um governo eficiente e transparente.

No dia 1º de janeiro, quando Sandro Mabel assumir formalmente a Prefeitura, Goiânia verá o início de um capítulo potencialmente transformador de sua história política. O peso desse momento não reside apenas nos desafios, mas nas oportunidades.

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