O caso da fosfoetanolamina: o que fazer quando a esperança é um remédio que acham que não precisa ser testado?
12 abril 2016 às 09h18
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Será que mudando o nome de medicamento para suplemento as células agiriam diferentemente? Os riscos seriam minimizados? Será que existe uma forma de negociar com o metabolismo celular e politicamente mudar as regras do jogo, ou seja, da vida, como acontece no Congresso Nacional?
Colocando mais um pouquinho de água nesse mingau que não ganha consistência devemos perguntar: que novela é essa da fosfoetanolamina?
Por que existem tantas opiniões e diversos argumentos a favor e contra seu uso? Quantas vertentes delineiam essa questão que é de grande impacto para a saúde pública?
Há em tudo uma certeza, a “fosfo”, como é chamada por alguns dos poucos usuários que conseguiram a liberação por determinação judicial, reflete, mais uma vez, o despreparo do governo e o que há de obscuro nas pesquisas científicas, entre outros tanto interesses.
E o caos já começa quando uma decisão judicial “força” a liberação do uso de um suposto medicamento. Que tal se um pesquisador da área pudesse determinar à Justiça que liberasse mais verba para que as investigações se desenrolarem ao ponto de dar identidade, atividade, qualidade, pureza e a inocuidade necessária para essa substância?
Se neste País existe sempre uma confusão de poderes, o que um juiz entende de farmacologia está diametralmente oposto ao que um pesquisador em ciências biológicas entende sobre códigos do Direito Penal ou Civil. Não é o apelo da população e da mídia que pode simplesmente estreitar os longos anos de observação para que uma droga seja inserida no mercado.
Ainda que os resultados tenham sucesso em alguns casos, muita coisa ainda precisa ser esclarecida. A gente até espera, mas de repente, na contramão do filosofo Tiririca, para quem o ruim que aí está não tem como piorar, vem o anúncio de que a “fosfo” poderia ser liberada como suplemento. Aí eu fiquei pensando nas artimanhas que os políticos fazem para ludibriar o povo: tipo votar aumento de salários na época do carnaval, ou eleger como ministro um ex-presidente a título de salvar o Brasil…
Me ajudem: será que mudando o nome de medicamento para suplemento as células agiriam diferente? Os riscos seriam minimizados? Será que existe uma forma de negociar com o metabolismo celular e politicamente mudar as regras do jogo, ou seja, da vida, como acontece no Congresso Nacional? Será que o câncer é a corrupção do universo celular?
Só de criar a especulação em torno do tema, as entidades responsáveis revelam um descuido. Afinal, há ou não critérios bem estabelecidos para se liberar um medicamento? Há!
Muitos interesses se diluem e se camuflam em torno dessa molécula. Será que interessa pra alguns a cura do câncer? Será que o objetivo da divulgação prévia de resultados não testados em longo prazo teve como propósito salvar vidas? E o câncer, só existe um mecanismo para deflagrá-lo? Ou seria razoável pensar em controle uma vez que a desprogramação celular está registrada também no código genético?
Essas dúvidas podem ser sinalizadoras, assim como a fosfoetanolamina, para possíveis e parciais respostas. O que grita dentro de todos é o sonho de que todas essas polêmicas tivessem como mote, realmente, o bem-estar das pessoas fragilizadas com a doença. Essas, sim, merecem o respeito e a consideração, não merecem ficar no meio de tantos interesses éticos ou não, comerciais ou não.
Por enquanto, a esperança é um remédio que não precisa ser testado. É isso?