A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) repudiou duas questões presentes na provado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste domingo, 5. Segundo a FPA, as perguntas tinham “cunho ideológico” e não apresentavam “critério científico ou acadêmico”.

Em nota publicada no site oficial, a frente disse que aguarda “urgentemente posicionamento do governo federal” sobre o tema. [Confira a nota na íntegra abaixo da matéria]

Ao Jornal Opção, o deputado federal Daniel Agrobom (PL), disse que as questões foram desrespeitosas com o agronegócio e exigiu a tomada de medidas por parte do Ministério da Educação (MEC).

“É um desrespeito com o agro, que mais gera emprego e renda. A FPA tem toda razão, o agro merece mais respeito, não era momento disso”, disparou.

Em nota enviada ao Jornal Opção, o MEC disse que as questões do Enem são feitas por professores independentes, que são escolhidos por um edital para colaboradores do Banco Nacional de Itens (BNI). [Veja nota na íntegra ao final do texto]

Polêmicas

As questões que a FPA se refere são as 70 e 89. Nelas, o enunciado traz dados sobre desmatamento e faz ligação da atividade com a plantação de soja.

Na questão 70, por exemplo, o cabeçalho cita que “é evidente que o crescimento do desmatamento tem a ver também com a expansão da soja”. A afirmação é um trecho do artigo A Amazônia e a nova geografia do veículo Terra Livre, de autoria de Ariovaldo Umbelino de Oliveira, professor de geografia da USP.

Já na questão 89, o enunciado afirma que “no Cerrado, o conhecimento local está sendo cada vez mais subordinado à lógica do agronegócio”. Trata-se de uma citação do artigo Territorialização do agronegócio e subordinação do campesinato no Cerrado, de Manoel Calaça, Edson Batista da Silva e José Novais de Jesus, publicado na Revista de Geografia da Universidade Estadual de Goiás (UEG).

Agrobom criticou diretamente essa relação entre o desmatamento e o agro. Segundo o deputado, o cenário é o inverso do que os enunciados traziam.

“Quem está desmatando não é o produtor de soja, pelo contrário. É a pessoa que mais cuida do meio ambiente. Algo tem que ser feito”, exige.

Além de Daniel Agrobom, os deputados Adriano do Baldy (pP-GO), Célio Silveira (MDB-GO), Dr. Zacharias Calil (UB-GO), Flávia Morais (PDT-GO), Glaustin da Fokus (PSC-GO), Gustavo Gayer (PL-GO), José Nelto (pP-GO), Lêda Borges (PSDB-GO), Magda Mofatto (PL-GO), Marussa Boldrin (MDB-GO), Professor Alcides (pP-GO), Silvye Alves (UB-GO) são os outros parlamentares por Goiás membros da FPA.

No Senado, Jorge Kajuru (PSB-GO), Vanderlan Cardoso (PSD-GO) e Wilder Morais (PL-GO) também fazem parte da frente.

Nota da FPA sobre as questões do Enem:

“A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) aguarda posicionamento urgente do governo federal brasileiro sobre questões de cunho ideológico e sem critério científico ou acadêmico dispostas no Exame Nacional do Ensino Médio, prova de admissão à educação superior, aplicada pelo Ministério da Educação no último domingo (5).

O ENEM é um exame de avaliação do conhecimento. As perguntas são mal formuladas, de comprovação unicamente ideológica e permite que o aluno marque qualquer resposta, dependendo do seu ponto de vista. Anulação já!

  1. Negacionismo científico contra um setor que, além de trazer a segurança alimentar ao Brasil e ao mundo, é massificação de mentiras. O setor agropecuário representa toda a diversidade da agriculta: pequenos, médios e grandes. Somos um só e não aceitaremos a divisão para estimular conflitos agrários;
  2. É inacreditável o governo federal se utilizar de desinformação em prova aplicada para quase 4 milhões de alunos brasileiros que disputam uma vaga nas universidades do Brasil;
  3. A anulação das questões é indiscutível, de acordo com literaturas científicas sobre a atividade agropecuária no Brasil e no mundo, em respeito à academia científica brasileira;
  4. Este é o único país do globo em que o seu próprio governo federal propaga desinformação sobre a principal atividade econômica e de produção de riqueza, renda e empregos. A serviço dos brasileiros? Vincular crimes à atividade legal é informação?;
  5. A ineficiência do Estado Brasileiro está exposta. A vinculação de crimes à atividade legais no Brasil é um critério de retórica política para encobrir a ausência do Estado no desenvolvimento de políticas públicas eficientes e de combate a ilegalidades. Não permitiremos que a desinformação seja propagada de forma criminosa entre nossa sociedade, como foi feito durante os anos anteriores do governo atual;

a) Requerimento de convocação do Ministro da Educação, Camilo Santana, para audiências na Câmara dos Deputados e Senado Federal;
b) Requerimento de informação ao Ministério da Educação sobre a banca organizadora do ENEM 2023 e referências bibliográficas utilizadas para a construção do exame;
c) Anulação das questões 89, 70 e 71 do ENEM 2023.

A cadeia produtiva no Brasil movimentou R$ 2,63 trilhões em 2023, cerca de 24,4% do Produto Interno Bruto (PIB) Nacional (CEPEA/CNA);

Superávit de emprego e renda para 28 milhões de brasileiros, apenas no 1º trimestre deste ano, representando cerca de 27% do total de empregos no país. (CEPEA/CNA);

Sustentabilidade brasileira: território nacional possui 66,3% de áreas preservadas e de proteção à vegetação nativa, desses, 33,2%, ou seja, a metade, estão nas propriedades privadas brasileiras. Área de propriedades rurais é de 30,2%. (EMBRAPA).”

Nota do MEC na íntegra:

“As questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) são elaboradas por professores independentes, selecionados por meio de edital de chamada pública para colaboradores do Banco Nacional de Itens (BNI). O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) não interfere nas ações dos colaboradores selecionados para compor o Banco. O processo envolve as etapas de elaboração e revisão pedagógica dos itens, além de validação pelo trabalho de uma comissão assessora. Os itens selecionados para a edição de 2023 passaram pelo fluxo estabelecido nas normativas do BNI.”

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