Flexibilização para alguns setores do comércio trouxe o sentimento, para parte da população, de que a vida voltou ao “normal”. As consequências foram imediatas: o índice de isolamento no estado — que antes era o primeiro do país — caiu para a última posição. A taxa de contágio, antes de 1.1, subiu para 1.6 aumentando a demanda por leitos nos hospitais

Ciencia 16 03 2020 Novo SARS-CoV-2 de Coronavírus Micrografia eletrônica de varredura colorida de uma célula apoptótica (verde) fortemente infectada com partículas do vírus SARS-COV-2 (roxa), isoladas de uma amostra de paciente. Imagem capturada e aprimorada de cores no NIAID Integrated Research Facility (IRF) em Fort Detrick, Maryland. Crédito: NIAID


Desde o início da pandemia do novo coronavírus, a doença que tomou conta do mundo vem provocando intensos debates e grandes polêmicas. A divergência de opiniões sobre a melhor maneira de se enfrentar a Covid-19 levou a uma polarização da sociedade.

De um lado, aqueles que defendem veementemente o isolamento social. De outro, os que defendem reabertura de comércios e a volta das atividades com a adoção de protocolos de segurança que evitem a disseminação do vírus.

Médico, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), saiu na frente adotou duras medidas. No dia 19 de março assinou decreto que permitia apenas o funcionamento de supermercados, farmácias e atividades ligadas à saúde.

Após a medida, os efeitos foram visíveis: Goiás atingiu o maior índice de isolamento social do país, 59,6% registrado no começo de abril; uma das menores taxas de contágio, 1.1 e o consequente achatamento da curva da Covid-19 no estado.

Foi o fôlego necessário para estruturar Goiás para atender a demanda de pacientes vítimas da pandemia. O governo estadualizou cinco hospitais em municípios do interior – quatro após autorização da Assembleia Legislativa e um por força de decisão judicial – que representaram incremento entre 1.300 a 1.500 novos leitos no Estado

O cenário parecia perfeito e chegou-se a acreditar que Goiás passaria pela pandemia com consequências bem menores quando comparado ao restante do país.

Afrouxamento

Foi quando tudo estava “bom demais para ser verdade”  —  ao menos no que tange o controle da doença  —  que o cenário começou a mudar. Movimentos pedindo a reabertura do comércio e a pressão de entidades e representantes do setor produtivo levaram Caiado a flexibilizar as medidas de isolamento.

A decisão, segundo documentos da Organização Mundial da Saúde (OMS) que leva em conta a experiência em países europeus, indica que “o processo de afrouxamento das medidas de distanciamento social é, em muitos aspectos, mais complexo que o endurecimento delas e, por isso, deve ser gradual, priorizado e planejado”.

Não foi o que aconteceu. A flexibilização para alguns setores do comércio trouxe o sentimento, para parte da população, de que a vida voltou ao “normal”. As consequências foram imediatas: o índice de isolamento no estado — que antes era o primeiro do país — caiu para a última posição. A taxa de contágio, antes de 1.1, subiu para 1.6 aumentando a demanda por leitos nos hospitais.

A rede privada de hospitais do estado, que chegou a declarar desocupação de 80% dos leitos no dia 13 de maio, hoje, oito dias depois, anuncia a lotação das vagas destinadas exclusivamente para Covid-19.

Já na rede estadual, a taxa de ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) voltadas para o tratamento da doença chega 59,65%. O índice foi registrado na tarde desta quarta-feira, 20.

O que o futuro nos reserva?


A última nota técnica do grupo de especialistas da Universidade Federal de Goiás (UFG) divulgada no dia 15 de maio sugere que se o índice de isolamento social continuar no nível atual, 37,4%, espera-se um total de até 122 óbitos no final de maio e entre 871 e 1.239 no final junho.