“Nunca participei de reunião sobre esse tema”, afirma Rueda após aparecer em negociação com grupo ligado a lavagem de dinheiro do PCC

10 outubro 2025 às 09h26

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O presidente nacional do União Brasil, Antonio Rueda, teria intermediado uma negociação para a venda de uma empresa de gás de cozinha ligada a um esquema de lavagem de dinheiro associado ao Primeiro Comando da Capital (PCC). A informação foi relatada por três líderes do mercado de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), que pediram anonimato por medo de represálias, e foi divulgada pelo ICL Notícias.
De acordo com os relatos, em abril de 2024, Rueda convidou um executivo do setor para uma reunião em Brasília com Roberto Augusto Leme da Silva, conhecido como Beto Louco, que se apresentou como investidor da TankGás. Um mês depois, os ativos da empresa foram adquiridos pela Consigaz, distribuidora de São Paulo.
Beto Louco e Mohamad Hussein Mourad (Primo) são apontados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) como líderes de uma rede de lavagem de dinheiro que movimentava recursos do crime organizado por meio de fraudes fiscais e investimentos na Faria Lima. Ambos são foragidos.
Rueda nega ter participado de qualquer negociação relacionada à TankGás e diz desconhecer os envolvidos. Também rejeitou a acusação de ser sócio oculto de aeronaves ligadas à empresa Táxi Aéreo Piracicaba (TAP), mencionada em depoimento de um piloto à PF.
Repudio veementemente essas insinuações levianas e politizadas. Nunca participei de reunião sobre esse tema e não conheço a empresa citada”, afirmou Rueda em nota.
Negócio sob suspeita
A TankGás operava no Paraná e em São Paulo, aproveitando uma brecha na legislação paranaense que permitia o envase de botijões de outras marcas — medida proibida pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). A empresa foi alvo de ações da ANP e de concorrentes por irregularidades no abastecimento e passou a buscar compradores em 2024.
Fontes do setor afirmam que Rueda apresentou um potencial investidor a Beto Louco, que pedia R$ 60 milhões pela operação da TankGás. O executivo convidado para a reunião relatou ter se surpreendido com a presença de Leme da Silva e se recusou a intermediar o negócio.
Em maio, os ativos da TankGás foram vendidos à Consigaz, que afirmou ter adquirido apenas a estrutura operacional, não a empresa em si. Segundo a distribuidora, a negociação foi feita por representantes legais da TankGás e por uma intermediária financeira, a Ruby Capital, ligada ao fundo Altinvest Asset, investigado na Operação Carbono Oculto por suspeita de lavar dinheiro para o PCC.
A Altinvest negou envolvimento com atividades criminosas e afirmou colaborar com as autoridades.
Brechas regulatórias e influência política
A expansão da TankGás ocorreu em meio à discussão sobre uma proposta da ANP para flexibilizar as regras de envase de botijões — medida que, segundo especialistas, poderia facilitar a entrada de grupos criminosos no mercado de GLP.
O relatório que analisou o impacto da proposta foi relatado pelo diretor Daniel Maia, indicado à agência com apoio político de Ciro Nogueira (PP) — um dos articuladores da federação entre o PP e o União Brasil, partido de Rueda.
O Sindigás, que representa as distribuidoras de gás, criticou a proposta e alertou que “baixar a régua” de exigências de controle abriria espaço para lavagem de dinheiro e dificultaria a fiscalização.
Não há justificativa econômica ou de concorrência para flexibilizar o sistema atual. A medida pode ampliar o risco de infiltração do crime organizado”, afirmou o presidente do sindicato, Sergio Bandeira de Mello.
Síntese: o elo entre política, mercado e o crime
O caso expõe como empresas suspeitas de vínculos com o crime organizado se infiltraram no mercado de gás de cozinha, explorando lacunas regulatórias e aproximações políticas.
Enquanto a Polícia Federal e o MP-SP avançam nas investigações sobre o esquema de lavagem de dinheiro via fundos e distribuidoras, o envolvimento de figuras políticas e financeiras amplia o alcance do caso — e reforça o alerta sobre o risco de captura de setores estratégicos por redes criminosas.
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