“Número de pessoas com imunidade natural à Covid-19 é desconhecido”, aponta pesquisador da UFG

07 agosto 2020 às 13h12

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Professor Thiago Rangel diz que não é possível afirmar que Goiânia atingiu o pico de transmissão e caminha para o platô

Para o pesquisador e professor Thiago Rangel, da Universidade Federal de Goiás (UFG), não é possível afirmar com certeza que Goiânia atingiu o pico de transmissão da Covid-19 e caminha para o platô, embora seja possível que isso esteja acontecendo. E o motivo é simples, os números de casos confirmados e de óbitos levam um tempo para entrar no sistema.
“Olhar para esses números é olhar para o retrovisor. Embora os dados sejam atualizados diariamente, é preciso aguardar cerca de duas semanas para podermos analisar com mais certeza. Outra saída seria acrescentar 35% no total registrado. E esse atraso não é culpa da secretaria, por exemplo, é da pandemia”, observa Rangel, ao lembrar que as informações em tempo real acontecem dentro dos hospitais.
Após o evento, são coletados exames que são enviados para a confirmação, depois os dados retornam e aí sim são inseridos no sistema. Em relação às informações do Estado, essa sistemática demora ainda mais, já que municípios do interior levam mais tempo para conseguir concluir esse procedimento.
“Imagine se morre alguém na UPA de uma cidade no interior do Estado, quanto tempo demora pra vir o material, entrar na fila do Lacen, retornar ao município e ir para o sistema municipal, que depois será incorporado ao sistema federal e estadual. Isso leva duas semanas”, exemplifica o pesquisador, ao destacar que algumas pessoas fazem a leitura errada das informações e, por isso, atacam as projeções e a universidade.
Toda notificação diz respeito ao passado
Sobre a tendência de subida ou descida de número de casos, que aparece na plataforma da Universidade Federal de Goiás (UFG), Rangel esclarece que é apenas um indicativo sobre a variação da notificação ao longo da semana. “Se você olhar o número de óbitos, os números não mostram as pessoas que morreram naquele dia, mas na semana anterior. Toda notificação diz respeito ao passado”, esclarece.
Ainda sobre os ataques às projeções, o pesquisador afirma que elas não o incomodam, até porque é fato que as projeções vão errar em algum momento. Embora isso ainda não tenha acontecido. “Sabemos que ela irá errar porque existe uma fração da população com uma imunidade natural, que não pode ser detectada pelos exames e pelas projeções”, adianta.
Imunidade natural
“Ninguém no planeta sabe a fração da imunidade natural, isso não é um problema do nosso estudo, mas do conhecimento científico em relação à doença que é nova”, afirma Rangel. Ele explica que o último inquérito feito pela prefeitura apontou que 6% das pessoas tinham entrado em contato com o vírus. “Dentro do nosso modelo teríamos então 94% das pessoas suscetíveis”, analisa.
Segundo o professor, esse número não é exato já que os imunes não são detectáveis pelos testes e não estão contabilizados. Ou seja, não se sabe a proporção da população que não é suscetível ao vírus. E, no momento, apenas o contato com o vírus é considerado como indicativo de imunidade para a doença.
“E as hipóteses para a imunidade natural ainda estão sendo investigadas. Temos algumas hipóteses como células específicas, ou de que a vacina BCG seja responsável por certa imunidade, quem já teve infecção por outros coronavírus também pode ser menos suscetível, assim como quem teve dengue”, aponta o pesquisador e professor da UFG.