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Levantamento contratado pela própria construtora ouviu 360 pessoas, mas pessoas que residem próximo ao local continuam desaprovando megaempreendimento

Foto: Nathan Sampaio/Jornal Opção

Depois de apresentar um Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) falso em 2017, a empresa Consciente JFG Incorporações e Participações Ltda, construtora responsável pelo Nexus Shopping & Business, e a contratada para o trabalho de um novo estudo, Master Ambiental de Londrina (PR), apresentaram um segundo documento. Este, porém, parece não ter ouvido os principais prejudicados pelos impactos negativos: os vizinhos do empreendimento.

Isso porque o EIV apresentou, entre outros pontos, uma Área de Influência Direta (AID) do Nexus com um raio de 2 km e uma pesquisa de opinião formada por um questionário respondido por 360 pessoas. O problema é que, apesar de feitos dentro da lei, o AID e a pesquisa dão abertura para que pessoas que morem longe do empreendimento pudessem ter sido questionadas, minimizando os impactos negativos que o shopping vai causar aos moradores vizinhos do centro comercial.

Além disso, o fato da própria construtora pagar pelo serviço de pesquisa facilita que o resultado seja favorável ao contratante. É para o que aponta a integrante do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (Cau-GO), a arquiteta Maria Ester. Segundo ela, a questão da permissão de construir um empreendimento com tantos impactos negativos é fruto de uma “deficiência no formato da lei maior, a qual autoriza o próprio interessado em elaborar o diagnóstico”.

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De acordo com a arquiteta, é óbvio que a empresa vai buscar respostas positivas. “E mesmo que todas as respostas fossem negativas, ainda seria possível obter da prefeitura um mecanismo para que a construção fosse aprovada”, acrescenta. Ela explica, ainda, que o EIV é consultivo, ou seja, não aprova ou desaprova nada, tendo caráter informativo.

Jornal Opção procurou e entrevistou nesta semana 11 moradores vizinhos da obra e nenhum deles foi ou conhece alguém que tenha sido abordado pela pesquisa de opinião da Master Ambiental. Nove deles se disseram contra a construção do empreendimento, admitindo que os impactos negativos vão ser maiores do que qualquer eventual benefício.

É o caso da médica Juliana Wanderley, que mora e trabalha a poucas quadras do empreendimento. À reportagem, ela conta que já é um problema ir e voltar de carro para o trabalho com a condição atual do trânsito e que sabe que vai piorar muito com mais um shopping na região.

“Não consigo mensurar quão pior a situação vai ficar. O trânsito é o caos, imagina com esse negócio [Nexus] pronto. Aliás, eu chegaria mais rápido ao trabalho indo de bicicleta ou a pé, mas também não me sinto segura para fazer isso na situação atual da cidade”, diz a médica que mora com o marido e uma filha.

Já a gerente de loja Isabela Santos que reside no Setor Marista e trabalha em outro shopping que fica a menos de duas quadras do Nexus, acredita que, além do trânsito, é possível que o movimento comercial local, que já é fraco, piore ainda mais. “Ultimamente as vendas têm caído, vejo menos pessoas pelos corredores e não acho que a situação irá melhorar com a entrega deste centro comercial”, diz.

Vale lembrar que a região onde o empreendimento está sendo construído possui diversos espaços comerciais abandonados ou com placas de “aluga-se”. A reportagem contou 23 lojas, em um raio de 100 metros da construção do centro comercial, à venda ou locação, além de outro empreendimento de grande porte abandonado, o Hospital e Hotel Premium Business & Wellness, da LM Construtora, na mesma quadra no Nexus.

Até mesmo os outros dois moradores favoráveis ao empreendimento e mais três comerciantes encontrados – estes apenas trabalham próximos do local -, admitem que os impactos negativos são maiores. “Pode ser que este shopping traga benefícios como algum mercado, que não tem por aqui, ou mais opções de lazer, mas o trânsito com certeza vai ser ainda pior na região. Além disso, não podemos fazer nada se formos contra”, relata Valter Carvalho, síndico há 17 anos do Condomínio das SQS Alfa e Beta do Setor Marista.

Também têm o mesmo pensamento a secretária Irani Rodrigues e a aposentada Iranildes Braga, que moram no setor onde o empreendimento está sendo construído. Ambas, no entanto, afirmam nem sequer pensam nos impactos negativos do megaempreendimento, já que sabem que, de uma forma ou de outra, ele será erguido.

EIT e RIT

O novo EIV já conta com parecer favorável da Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Habitação (Seplanh). O Estudo de Impacto de Trânsito (EIT) e o Relatório de Impacto de Trânsito (RIT) devem ser apresentados pela Consciente JFG Incorporações em breve.

Todos os estudos integram a lista de exigências presente no Termo de Ajuste de Conduta (TAC) assinado no ano passado entre o Ministério Público de Goiás (MP-GO) a construtora e a Prefeitura de Goiânia.

O acordo permitiu a continuação das obras mesmo após a comprovada falsificação e fraude na aprovação do empreendimento. Na ocasião, foi dado um prazo de seis meses para a apresentação de um novo Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV), o que já foi analisado e aprovado pela gestão Iris. Audiências obrigatórias também foram realizadas.