Novo EIV do Nexus ignora moradores vizinhos e minimiza impactos negativos
24 maio 2018 às 08h20

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Levantamento contratado pela própria construtora ouviu 360 pessoas, mas pessoas que residem próximo ao local continuam desaprovando megaempreendimento

Depois de apresentar um Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) falso em 2017, a empresa Consciente JFG Incorporações e Participações Ltda, construtora responsável pelo Nexus Shopping & Business, e a contratada para o trabalho de um novo estudo, Master Ambiental de Londrina (PR), apresentaram um segundo documento. Este, porém, parece não ter ouvido os principais prejudicados pelos impactos negativos: os vizinhos do empreendimento.
Isso porque o EIV apresentou, entre outros pontos, uma Área de Influência Direta (AID) do Nexus com um raio de 2 km e uma pesquisa de opinião formada por um questionário respondido por 360 pessoas. O problema é que, apesar de feitos dentro da lei, o AID e a pesquisa dão abertura para que pessoas que morem longe do empreendimento pudessem ter sido questionadas, minimizando os impactos negativos que o shopping vai causar aos moradores vizinhos do centro comercial.
Além disso, o fato da própria construtora pagar pelo serviço de pesquisa facilita que o resultado seja favorável ao contratante. É para o que aponta a integrante do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (Cau-GO), a arquiteta Maria Ester. Segundo ela, a questão da permissão de construir um empreendimento com tantos impactos negativos é fruto de uma “deficiência no formato da lei maior, a qual autoriza o próprio interessado em elaborar o diagnóstico”.
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De acordo com a arquiteta, é óbvio que a empresa vai buscar respostas positivas. “E mesmo que todas as respostas fossem negativas, ainda seria possível obter da prefeitura um mecanismo para que a construção fosse aprovada”, acrescenta. Ela explica, ainda, que o EIV é consultivo, ou seja, não aprova ou desaprova nada, tendo caráter informativo.
O Jornal Opção procurou e entrevistou nesta semana 11 moradores vizinhos da obra e nenhum deles foi ou conhece alguém que tenha sido abordado pela pesquisa de opinião da Master Ambiental. Nove deles se disseram contra a construção do empreendimento, admitindo que os impactos negativos vão ser maiores do que qualquer eventual benefício.
É o caso da médica Juliana Wanderley, que mora e trabalha a poucas quadras do empreendimento. À reportagem, ela conta que já é um problema ir e voltar de carro para o trabalho com a condição atual do trânsito e que sabe que vai piorar muito com mais um shopping na região.
“Não consigo mensurar quão pior a situação vai ficar. O trânsito é o caos, imagina com esse negócio [Nexus] pronto. Aliás, eu chegaria mais rápido ao trabalho indo de bicicleta ou a pé, mas também não me sinto segura para fazer isso na situação atual da cidade”, diz a médica que mora com o marido e uma filha.
Já a gerente de loja Isabela Santos que reside no Setor Marista e trabalha em outro shopping que fica a menos de duas quadras do Nexus, acredita que, além do trânsito, é possível que o movimento comercial local, que já é fraco, piore ainda mais. “Ultimamente as vendas têm caído, vejo menos pessoas pelos corredores e não acho que a situação irá melhorar com a entrega deste centro comercial”, diz.
Vale lembrar que a região onde o empreendimento está sendo construído possui diversos espaços comerciais abandonados ou com placas de “aluga-se”. A reportagem contou 23 lojas, em um raio de 100 metros da construção do centro comercial, à venda ou locação, além de outro empreendimento de grande porte abandonado, o Hospital e Hotel Premium Business & Wellness, da LM Construtora, na mesma quadra no Nexus.
Até mesmo os outros dois moradores favoráveis ao empreendimento e mais três comerciantes encontrados – estes apenas trabalham próximos do local -, admitem que os impactos negativos são maiores. “Pode ser que este shopping traga benefícios como algum mercado, que não tem por aqui, ou mais opções de lazer, mas o trânsito com certeza vai ser ainda pior na região. Além disso, não podemos fazer nada se formos contra”, relata Valter Carvalho, síndico há 17 anos do Condomínio das SQS Alfa e Beta do Setor Marista.
Também têm o mesmo pensamento a secretária Irani Rodrigues e a aposentada Iranildes Braga, que moram no setor onde o empreendimento está sendo construído. Ambas, no entanto, afirmam nem sequer pensam nos impactos negativos do megaempreendimento, já que sabem que, de uma forma ou de outra, ele será erguido.
EIT e RIT
O novo EIV já conta com parecer favorável da Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Habitação (Seplanh). O Estudo de Impacto de Trânsito (EIT) e o Relatório de Impacto de Trânsito (RIT) devem ser apresentados pela Consciente JFG Incorporações em breve.
Todos os estudos integram a lista de exigências presente no Termo de Ajuste de Conduta (TAC) assinado no ano passado entre o Ministério Público de Goiás (MP-GO) a construtora e a Prefeitura de Goiânia.
O acordo permitiu a continuação das obras mesmo após a comprovada falsificação e fraude na aprovação do empreendimento. Na ocasião, foi dado um prazo de seis meses para a apresentação de um novo Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV), o que já foi analisado e aprovado pela gestão Iris. Audiências obrigatórias também foram realizadas.