Nova ‘febre’ nas redes sociais, malhar descalço traz dúvidas e especialista explica
10 novembro 2022 às 18h32
COMPARTILHAR
Malhar descalço está em alta na internet, principalmente no TikTok, no entanto, embora os adeptos mencionam benefícios, a prática pode causar riscos graves. Vídeos divulgados na rede social prometem estabilidade, fortalecimento de músculos dos tornozelos e dos pés. Mas, isso tudo, não há comprovação científica.
Pesquisador e professor de Biomecânica da Faculdade de Educação Física e Dança da Universidade Federal de Goiás, Dr. Mário Hebling Campos, indica riscos externos para o exercício com os pés descalços. Entre os quais, perfuração e cortes na sola do pé, dependendo do piso e ambiente em que a pessoa esteja.
O especialista aponta que o ato de correr descalço altera automaticamente a técnica, se comparado com a corrida com uso de tênis. “Algumas pessoas chegam a reduzir o impacto quando correm descalços, por alteração da técnica de forma adequada. Mas, isso não é uma regra. Tem gente que aumenta o impacto ao correr descalço”, pontua.
Sob orientação dele, foi realizada uma pesquisa com pessoas exercitando em uma esteira elétrica. “Através dos dados coletados e da análise realizada podemos perceber que o calçado afeta diretamente a curvatura lombar, amenizando a curvatura principalmente em velocidades elevadas”, conclui. O trabalho de final de especialização teve participação de Vinicius dos Santos Souza, Felipe Arruda Moura e Carlos Alexandre Vieira e será publicado em uma revista científica.
Hebling explica que a lordose lombar aumentou em pessoas que correram descalças e com maior velocidade. “Considerando os resultados apresentados, pode-se sugerir a manipulação das condições de calce e, principalmente, da intensidade de corrida para induzir modificações imediatas na postura lombar”, frisa. Após o estudo, foi possível deduzir o exercício físico com intervalo em alta intensidade, de corrida descalça, para pessoas com hiperlordose adotem uma postura vertebral mais próxima da neutra. “Por outro lado, pessoas com hiperlordose podem se beneficiar ao realizar treinos de menor intensidade, com calçado”, indica.
Calçados
Acerca dos calçados, ele destaca que a utilização protege o atleta de ferimentos por perfuração e cortes. “Existem calçados esportivos que têm sistemas de amortecimento que ajudam a reduzir o impacto que pode ser um fator de risco de lesões nas articulações”, comenta.
Hebling esclarece que o impacto do exercício não ocasiona, necessariamente, lesões. “O impacto gera efeitos imediatos e crônicos no corpo. De forma imediata, o impacto pode gerar microlesões nos ossos, ligamentos e músculos”, afirma. Nesses casos, o pesquisador ensina que é preciso ter descanso entre sessões de treino, para que o corpo possa hipercompensar, gerando hipertrofia dos tecidos corporais. Assim, fortalecendo músculos, ossos e ligamentos.
“Ou seja, uma adaptação benéfica para saúde. Mas, se não for feito um bom planejamento para ter uma relação adequada entre estímulos (exercícios) e recuperação (descansos) pode haver um acúmulo de microlesões e levar a uma lesão de grande porte, impactando negativamente na saúde”, alerta.
O professor faz uma analogia sobre os cuidados para uma boa malhação com a diferença entre o remédio e o veneno, sendo a dose de cada um podendo ser prejudicial. “A dose correta depende da aptidão que a pessoa tem, da sua idade, histórico de treino, fatores genéticos”, pontua. “Um idoso com osteoporose tem bem mais risco do que uma criança ou um atleta ao praticar exercícios descalços”, salienta.