A noite em que a candidata assimilou a palavra corrupção em relação ao seu governo
04 outubro 2014 às 11h38
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De tanto ouvir falar em corrupção no governo, a presidente Dilma Rousseff (PT) incorporou a palavra ao vocabulário de referência a obras da própria gestão. “Todo mundo pode cometer corrupção”, respondeu Dilma ao ser questionada sobre os escândalos na Petrobrás e ação eleitoral dos Correios a favor de sua reeleição, na noite do debate da TV Globo, iniciado na quinta-feira, 2.
A corrupção não é novidade, mas chama a atenção o fato de que Dilma abandonou, naquela noite, o uso do eufemismo malfeito quando se refere a roubo de dinheiro público na era PT. “Não quero no governo quem esteja comprometido com malfeito’”, prometeu demitir pessoas delatadas pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa como membros de corrupção na Petrobrás.
No contexto de uma entrevista exclusiva em oito de setembro, a presidente incluía o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, teoricamente gestor da Petrobrás e que sumiu de circulação há um mês, desde que vazou a delação de Costa ao Ministério Público e à Polícia Federal. Talvez ele apareça hoje para votar em Edison Lobão Filho (PMDB) ao governo do Maranhão.
“Eu demiti esse ex-diretor que agora está envolvido”, repetiu Dilma, na Globo, a mentira sobre Paulo Roberto Costa, que propalou antes em outro debate na TV Record. Na realidade, Costa pediu demissão da diretoria de Abastecimento da petroleira, como consta de registro em ata de uma reunião do conselho administrativo da empresa. A anotação inclui elogios do conselho a Costa.
Afastou-se em abril de 2012, mas continuou a participar do cotidiano da Petrobrás, no governo Dilma. Mesmo sem operar formalmente, Costa, amigo de Lula desde que o petista passou a trabalhar no Planalto em 2003, recebeu pelo menos 228 telefonemas da empresa. A informação consta de relatório sobre a quebra de seu sigilo bancário.
Às vésperas da eleição de hoje, surgiram informações que comprometem o esquema empresarial de Lula e o PT. Uma delação de Costa indicou que, entre 2010 e 2011, recebeu depósito de 23 milhões de dólares (R$ 57 milhões) em sua conta na Suíça. O dinheiro saiu das empreiteiras OAS e Odebrecht, sócias na montagem da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
Outro vazamento da Polícia Federal informou que a empreiteira Camargo Corrêa pagou R$ 40,9 milhões a duas empresas controladas pelo doleiro Alberto Youssef para lavar dinheiro arrecadado na corrupção da Petrobrás, GFD Investimentos e MO Consultoria. A manobra incluiria uma triangulação com a empresa Sanko Sider.
O doleiro Youssef seguiu o exemplo de Paulo Roberto, conterrâneo paranaense, e aderiu, na quinta-feira, à delação premiada para reduzir a pena de punição pelos rombos na Petrobrás, inclusive com a devolução de dinheiro. Os vazamentos da fala de Youssef prometem irrigar a campanha da oposição num provável segundo turno da eleição presidencial.