Número de mulheres empreendedoras estava em ascensão mas acabou caindo com a chegada da pandemia de covid-19. Líderes de negócios evidenciam os desafios culturais e financeiros que precisam enfrentar todos os dias para manterem suas empresas 

Foto: Pauline Arroyo

Segundo dados divulgados por um relatório especial elaborado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), no ano de 2019, o Brasil era o 7° país do mundo com a maior proporção de mulheres entre os chamados empreendedores iniciais. 

Até o ano de 2018, cerca de 24 milhões de mulheres eram empreendedoras no país, o que representava cerca de 46% do total de indivíduos que tinham um negócio no Brasil. As informações levantadas pelo Monitor Global de Empreendedorismo (GEM, na sigla em inglês), dão conta de que a proporção de mulheres que decidem empreender por uma questão de necessidade é 12%  maior do que a dos homens que fundam um negócio pelos mesmos motivos. 

Em consonância com os dados apresentados até então, a porcentagem de mulheres que são chefes de domicílio cresce a cada ano que passa, saindo de 42% no fim do ano de 2016 e indo para 45% na metade de 2018. Além disso, foi constatado que uma parcela expressiva das empreendedoras do país trabalha em casa, o que configura um cenário que se desenha em torno da necessidade que muitas mulheres têm de arrecadar o sustento necessário e ainda cuidar de casa e dos filhos, conciliando o espaço do trabalho com a vida pessoal. 

Pahola Abadio tem seu próprio negócio há 7 anos e conta que os principais desafios que enfrenta advém do fato de que mulheres empreendedoras não são tratadas da maneira como deveriam em muitos quesitos, como no que tange ao apoio por parte do governo em alguns momentos. “Sou mãe de dois filhos e sei que quando você tem um filho, os 4 meses de licença maternidade que o governo paga para as microempreendedoras que engravidam não é o suficiente.”, ressalta a empreendedora.

Pahola aponta que desenvolver muitas funções como a de mãe, dona de casa e a de empreendedora, é um dos maiores desafios para muitas mulheres. “É humanamente impossível desenvolver todas essas funções com excelência. Precisamos de uma rede de apoio. Eu tenho o privilégio de ter pessoas que me ajudam com os meus filhos e com a minha empresa e isso é essencial.” destaca. 

Marlei Tavares, dona de uma confeitaria há quase 2 anos, conta que enfrenta os desafios de precisar conciliar as diversas funções da casa, das suas finanças e de sua família, precisando ainda ajustar tudo isso a um outro emprego, o de advogada. “Acredito que as mulheres tudo podem em questão de igualdade com os homens. No meio do empreendedorismo, é importante que saibamos lidar com nossas limitações não nos cobrando tanto e por fim, sendo nossa própria referência de melhoria.” , ressalta Marlei. 

Marlei Tavares concilia as demandas de sua confeitaria com a sua vida de advogada. | Foto: Arquivo pessoal.

As irmãs Bruna, Maria Fernanda e Vitória Morais Bonfim, contam que o desejo de empreender surgiu da necessidade que sentiam de terem o seu próprio dinheiro, levando-as a abrirem uma loja online mesmo em meio à pandemia de covid-19. Elas ressaltam que ainda precisam enfrentar questões como a subestimação por serem mulheres à frente de um negócio. “Somos subestimadas em muitos aspectos e muitas vezes até quando vamos conversar com nossos fornecedores. Nos subestimam por sermos muito jovens e principalmente por sermos mulheres.”, ressalta Vitória. 

“O meio do empreendedorismo ainda é bastante voltado para os homens, principalmente no nosso ramo, o da moda. Nós mulheres estamos conquistando espaço nesse meio, mas isso não está se dando de forma tão rápida.”, ressaltam as irmãs. Bruna Bonfim afirma ainda que  a ascensão de outras mulheres como líderes de negócios no Brasil e no mundo, acaba por impulsionar outras pessoas que tenham o mesmo desejo. 

Negócios na pandemia

Vitória Bonfim aponta também para o fato de que a pandemia gerou um momento de cautela em todo o mundo no que diz respeito ao gasto com itens considerados não essenciais. “Muitas pessoas se encontram em momentos instáveis, estão desempregadas e acabam optando por não comprar coisas que não sejam de extrema importância. Isso acaba nos afetando de alguma forma.”, reitera ela. 

Pahola Abadio ressalta que manter uma empresa neste momento não tem sido tarefa tão fácil. “O supérfluo vem sendo cortado por muitas pessoas. Precisamos ter muito jogo de cintura para entender que isso vai passar. Precisamos nos ater à contenção de gastos, à criação de produtos mais certeiros e ao desenvolvimento da nossa criatividade para nos mantermos vivos. O momento é muito crítico, são muitas as empresas que estão fechando.”, reitera a empreendedora. 

Dados divulgados pelo Sebrae no ano de 2021 evidenciam que a pandemia de covid-19 acabou por afetar negativamente a participação das mulheres no empreendedorismo no Brasil. Cerca de 1 milhão de mulheres deixaram de estar à frente de um negócio entre os anos de 2019 e 2020. Estudos apontam que isso aconteceu graças ao fato de que muitas precisaram passar a se dedicarem mais às tarefas domésticas, passando a ter menos tempo para seus empreendimentos. 

Especialistas no assunto ressaltam que os cuidados com as crianças que estão fora das escolas e com os idosos que demandam ainda mais atenção durante esse período de pandemia, acabaram recaindo sobre as mulheres, graças a motivos culturais, os quais fazem com que esse tipo de serviço seja visto como algo que deve ser feito pelas mulheres.