Mulheres e Poder V: empreendedoras enfrentam jornadas duplas e montam negócios de sucesso

15 abril 2024 às 20h25

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Colaboração de Júnior Kamenach
Esta é a quinta reportagem de uma série especial intitulada “Mulheres e Poder” sobre o valor da participação feminina na economia, política, cultura e sociedade.
Em Goiás, mais de 371 mil mulheres são donas dos próprios negócios. Esse número cresce ano após ano desde a década de 80, aponta estudo feito em parceria da Universidade Federal de Goiás (UFG) com o Sebrae. O perfil da empreendedora goiana é de mulheres entre 30 e 39 anos, com ensino superior. Apesar disso, um grande contingente de mulheres entre de 40 e 49 e entre os 19 e 29 anos também comandam as próprias empresas.
No Estado, 50,5% da população é formada mulheres, o que representa um total de 3,7 milhões de pessoas, ou seja, 10% das mulheres no Estado são empreendedoras. Além de empreender, a metade delas também são chefes de família.
Elas enfrentam, além do desafio de empreender, as jornadas duplas e triplas, preconceito e a cultura do descrédito. Essas empreendedoras tem um rendimento médio abaixo dos homens, mas o levantamento mostrou uma evolução significativa ao longo dos últimos 2 anos.
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No Brasil, elas são 29% das micro e pequenas empreendedoras em atividade no País. Em relação aos MEIs (micro empreendedores individuais, as mulheres representam 47% dos 8,7 milhões.
De 27m² para uma loja de luxo
Um exemplo de sucesso em Goiás é de Danila Guimarães. Ela começou sua jornada empreendedora após se formar em administração pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), à época Universidade Católica de Goiás (UCG), em 2007.
Naquele momento, ela disse que percebeu a necessidade de ingressar no mercado de trabalho e cuidar de seus próprios interesses, pois sempre almejou administrar seu próprio negócio.
“Vi uma oportunidade de ir pra São Paulo e comprar mercadorias lá para vender aqui. No começo eu comprava na 25 de Março e trazia no ônibus e assim eu fiquei por algum tempo. Eu não trabalhava com roupa no começo, era óculos, bolsa, carteira, relógio, acessórios, e fui fazendo uma clientela. Nessa época, a rede social que a gente tinha era o Orkut. Eu comecei a usar ele como forma de divulgação dos meus produtos, fazia fotos, na época ainda no apartamento e o negócio deu um boom muito grande”, explicou.
Em 2010, Danila Guimarães disse que abriu sua primeira loja, chamada Showroom Danila Guimarães, em um prédio comercial, onde começou em uma sala de 27m² e expandiu para várias outras salas.
“Aconteceu muito rápido, por conta de rede social e do boca a boca. Consegui trabalhar certo, descobri que tinha uma visão de negócio muito boa, um olhar comercial muito bom, de comprar certo e ter a venda, fui crescendo, formando equipe, melhorando e procurando. Eu comecei a vender roupa assim que eu abri o Showroom, parei de vender acessórios e comecei a vender roupa e vi que era melhor, porque a mulher gasta mais dinheiro com roupa do que com acessórios”, disse.
Sucesso é visão
Para ela, seu sucesso se deve à sua habilidade empreendedora, visão comercial e à capacidade de adaptar-se ao mercado, como quando migrou de acessórios para roupas, percebendo que havia uma demanda maior.
“Eu costumo dizer que eu tenho um olhar de quem quer comprar, como se eu fosse cliente, como já fui há muito tempo antes de ter minha loja. O que eu gostaria naquela loja? Como que eu gostaria de ver o produto? Qual a apresentação? Eu sempre usei a minha imagem e acho que foi um acerto também, na época para criar esse relacionamento com a minha cliente. Elas me acompanham desde sempre, desde 2007. Hoje eu atendo as filhas das minhas clientes”, conta.
Danila ressalta que seu sucesso também é resultado do amor pelo que faz, destacando que parte do êxito reside em sua capacidade de entender as necessidades das clientes, algo que ela mesma valorizava quando era consumidora.
A empreendedora mencionou que colocou marcas bem renomadas em sua loja, que é multimarca, e que vende marcas de diversas regiões do Brasil, como Goiânia, São Paulo e Sul do país. Ela ampliou o nicho de produtos em sua loja, que inicialmente era apenas casual, para incluir uma linha festa para formandas, casamentos, madrinhas e mães de noivos.
Cosméticos
“Lancei a DNL Beauty, que é uma linha de cosméticos com perfume e um gloss. Às vezes você pensa, está tudo muito parado. Deixa eu inventar outra coisa aqui. Eu gosto, sou uma pessoa muito ativa. Apesar de ter diminuído um pouco a questão de estar à frente das fotos, que agora eu tenho modelo que faz as fotos pra mim, porque eu tive minha família, meus filhos, dei uma desacelerada para ter mais tempo com eles. Graças a Deus eu formei uma equipe muito boa, uma equipe profissional mesmo, que sabe exatamente os valores e princípios da cultura organizacional da minha empresa”, argumentou.
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Depois do Orkut, veio muitas outras redes sociais e Danila destaca a importância disso em sua jornada empreendedora, mencionando que foram essenciais desde o início, embora hoje em dia seja mais desafiador devido à alta concorrência e à diminuição da entrega orgânica.
“É o que me alavancou e até hoje eu acho que todo empreendedor, que tem loja física ou loja só online, a rede social é o que ajuda a gente, com certeza. Assim, na época era mais fácil, tinha uma entrega maior. Hoje não tem uma entrega tão orgânica como era antigamente. Então, eu sinto saudade de quando era lá no começo do Instagram, entregava muito. Hoje a gente tem que trabalhar mais, gerar mais conteúdo para as pessoas que realmente queiram ver o seu conteúdo”, pontuou.
Para Danila, o momento mais marcante na carreira empreendedora foi quando inaugurou a sua loja no Setor Nova Suíça. Ela contou que um ano depois estava alugando mais duas salas.
“Tinha sido um crescimento muito grande. De uma sala eu passei para três. Eu sempre fui uma pessoa muito pé no chão, sempre fui aos poucos, passo por passo, degrau por degrau. Esse foi um grande marco da minha vida, de ver que em um ano eu consegui triplicar o tamanho da minha loja. Por tanta procura, não cabia as clientes dentro da sala”, relembra.
Outro momento que marcou Danila foi a pandemia. Ela acredita, assim como 100% dos empresários, foi o maior desafio da vida.
“A gente sente até hoje, trabalha muito mais para ter os resultados que a gente tinha facilmente antes da pandemia. Graças a Deus nós conseguimos passar e fizemos um trabalho de venda virtual muito forte através do site. Fui atrás de fábricas que estavam entregando o tipo de roupa que a gente precisava usar naquele momento, roupa mais confortável para ficar bem em casa. Na pandemia a gente trabalhou muito, mesmo com a loja fechada eu ia para a loja todos os dias para fazer provador, entregar na casa do cliente, com toda a segurança”, citou.
Um terceiro desafio que ela também elencou foi a chegada dos seus filhos, já que precisou se ausentar mais e teve que se reinventar. Ela conta que trouxe modelos que tivessem a sua cara, para que os clientes não estranhassem por estarem muito acostumados com ela fazendo as fotos de divulgação dos produtos.
“Eu lembro que o primeiro modelo que fez para mim, os clientes não compravam. E agora o que eu faço? Preciso acertar, e elas sempre falaram abertamente que não gostou do modelo. Foi muito desafiador para mim. Tive que procurar, encaixando modelos com o mesmo perfil de corpo que o meu, expressão, pose. Achei, graças a Deus, e até hoje eu tenho modelos para fazer as fotos”, afirmou.
Ela refletiu que o momento em que se considerou uma empreendedora de sucesso e sentiu-se realizada pelo progresso quando mudou sua loja de lugar, saindo da sala comercial do prédio para o atual Centro Amaril.
“Foi quando eu mudei minha loja de lugar. Saí da sala comercial do prédio e fui pra onde é hoje, no Centro Amaril, uma loja grande, um prédio. Foi quando eu falei: deu muito certo mesmo, olha onde eu estou, nunca imaginei estar no lugar onde estou hoje. E olhar assim tanto de família que depende desse negócio, foi esse o momento”, disse.
Amor pela leitura e pelo empreendedorismo
Natália Costa Garcês uniu a paixão pela leitura e o gosto pelo empreendedorismo para assumir livraria Palavrear. “Trabalhei por anos em uma livraria de shopping em Goiânia, até que fui para a Palavrear. Os antigos sócios não tinham mais intenção de continuar e me ofereceram para comprar a livraria”, lembra.
Natália encorpou o negócio com a inclusão de um café no local. No comando da Palavrear desde 2020, a empreendedora acredita que hoje seu principal desafio é concorrer com grandes varejistas do e-commerces, como a Amazon. “É muito difícil manter uma livraria, principalmente uma livraria de rua, no setor Universitário e distante dos bairros de shopping. Então a gente tem um café que ajuda demais na manutenção da livraria, mas mesmo assim, é um trabalho de formiguinha”, relata.
A estratégia de ‘combate’ ao modelo de modelo de negócio virtual é o contato com o cliente e as indicações dos livros. “Eu gosto de falar sobre os livros, de recomendar, dizer “olha, você vai adorar” e a pessoa ler e dizer que sua indicação foi essencial”, relata.
Para a empresária, o principal papel de uma mulher na liderança de um negócio é a visibilidade de que elas podem mais. “É mostrar que a gente pode tanto quanto eles, ou até mais. Tenho visto muitas mulheres indo empreender por questões de disparidades salariais, que decidiram abrir e manter o próprio negócio por causa disso. Eu vejo o feminismo por esse lado, de ocupar outros espaços”, finaliza Natália.
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