ERRATA:

Na quinta-feira, 17, publicamos a matéria intitulada “Mulheres compram ovos de tênia na deep web em busca de perda de peso”. Após uma investigação mais aprofundada, constatamos que a história não tem base em fatos verídicos e circula apenas como boato em plataformas digitais e redes sociais.

A origem da desinformação está ligada a um vídeo publicado em 27 de agosto de 2024 por um canal estrangeiro (Chubbyemu), que dramatiza a suposta experiência de uma mulher que ingeriu cápsulas com ovos de tênia adquiridos na “dark web”, resultando em sérias complicações de saúde. No entanto, não há nenhuma evidência ou fonte confiável que comprove a veracidade da história.

Além disso, a notícia reproduzida por outros veículos, incluindo uma matéria no Brasil, utilizou erroneamente imagens de um relato de caso de 2021, que tratava de uma mulher na China que ingeriu ovos de tênia, mas em um contexto completamente diferente e sem qualquer ligação com a deep web.

Reforçamos nosso compromisso com a apuração rigorosa dos fatos e pedimos desculpas aos leitores pelo erro.

Matéria veiculada:

Médicos emitiram um alerta sobre o crescente número de mulheres que estão comprando e ingerindo ovos de tênia adquiridos pela deep web como uma maneira perigosa de tentar perder peso rapidamente. Essa prática pode ter consequências graves para a saúde, incluindo danos cerebrais e riscos de convulsões fatais. O comportamento, embora raro, reflete uma preocupação alarmante em relação à busca por soluções rápidas para emagrecimento em um ambiente digital.

As tênias, parasitas intestinais, normalmente entram no organismo humano através da ingestão de carne mal cozida. Uma vez no intestino, elas consomem parte do alimento ingerido pelo hospedeiro, levando à perda de peso, além de sintomas como vômitos, diarreia e cólicas abdominais. No entanto, o que inicialmente pode parecer uma solução para emagrecimento esconde consequências sérias, principalmente quando os ovos do parasita chegam à corrente sanguínea e, eventualmente, ao cérebro.

Um caso alarmante foi relatado por médicos nas redes sociais, envolvendo uma jovem de 21 anos identificada apenas como “TE”. A jovem comprou uma caixa de pílulas contendo ovos de tênia na deep web. Inicialmente, ela obteve os resultados esperados, perdendo peso, mas logo começou a sentir cólicas estomacais, que foram ignoradas. Semanas depois, ela notou fragmentos estranhos em suas fezes, mas continuou a desconsiderar os sinais de alerta.

O quadro da paciente começou a se agravar quando ela percebeu um caroço em seu queixo, seguido de intensas dores de cabeça e lapsos de memória. Ao buscar atendimento médico, os profissionais detectaram inchaço cerebral e pressão elevada no líquido cefalorraquidiano, sugerindo a presença de uma infecção grave. Após exames e questionamentos, a jovem confessou ter ingerido ovos de tênia como parte de um método para perder peso.

A análise dos parasitas revelou que a paciente havia ingerido ovos de duas espécies de tênias diferentes: Taenia saginata, que costuma se desenvolver em bovinos, e Taenia solium, encontrada principalmente em carne de porco. Esta última foi a responsável pela infestação cerebral, uma condição conhecida como cisticercose, quando os ovos do parasita se espalham pelo corpo, incluindo músculos e cérebro, formando nódulos semelhantes a cistos.

Os médicos que trataram “TE” afirmaram que os cistos no cérebro podem causar desde alterações cognitivas até convulsões e falência orgânica, dependendo da gravidade da infestação. “Quando os ovos atingem o cérebro, o resultado pode ser devastador. Além de dores de cabeça severas, pacientes podem ter convulsões que, em alguns casos, levam à morte”, explicou Bernard Hsu, especialista que fez o alerta inicial nas redes sociais.

A cisticercose é uma condição conhecida principalmente em regiões de baixa renda, onde o controle sanitário é mais precário. Estima-se que cerca de 2,5 milhões de pessoas sejam infectadas anualmente por Taenia solium no mundo. Embora no Brasil o número de casos seja inferior a 150 mil por ano, a prática deliberada de ingestão de ovos de tênia por razões estéticas preocupa as autoridades de saúde.

Um dos maiores riscos da cisticercose é que, em muitos casos, os sintomas demoram a aparecer, podendo levar meses ou até anos para se manifestarem. Quando os cistos começam a morrer no corpo, o tecido ao redor pode inchar, o que causa a maioria dos sintomas graves, como dores de cabeça intensas, convulsões, alterações na visão e dificuldades motoras.

Especialistas alertam que, além dos danos físicos, o comportamento de buscar soluções rápidas e perigosas na internet para emagrecimento reflete uma pressão social crescente para atingir padrões corporais muitas vezes inalcançáveis. “A perda de peso saudável requer tempo e mudanças sustentáveis na dieta e nos exercícios físicos. Ingerir organismos parasitas para acelerar esse processo é um risco desnecessário com consequências imprevisíveis”, comentou Hsu.

O tratamento para a infestação por tênia inclui o uso de medicamentos antiparasitários, que atuam paralisando os vermes e impedindo sua nutrição no organismo humano. No caso de “TE”, os médicos também prescreveram esteroides para reduzir a inflamação no cérebro, mas alertam que o tratamento não garante a eliminação completa dos ovos, que podem permanecer no corpo por meses.

Casos como o de “TE” destacam a importância de uma vigilância mais rigorosa sobre o acesso a produtos e substâncias nocivas disponíveis na deep web. As autoridades de saúde alertam que essas plataformas clandestinas representam uma ameaça não apenas pela facilidade de obtenção de produtos perigosos, mas também pela disseminação de práticas autodestrutivas e não regulamentadas.

Embora a jovem tenha recebido alta após três semanas de internação e pareça ter se recuperado, os médicos alertam que muitas outras pessoas podem estar expostas aos mesmos riscos, sem saber das consequências que enfrentarão a longo prazo. “O caso de TE é um alerta para a sociedade sobre os perigos de seguir métodos não convencionais e não aprovados cientificamente para emagrecimento”, concluiu Hsu.

A cisticercose, embora seja mais comum em áreas empobrecidas, deve ser um ponto de preocupação também em países desenvolvidos, especialmente com o aumento do acesso à deep web. Esse comportamento evidencia uma combinação de vulnerabilidade social, pressão estética e o fácil acesso a produtos perigosos, que coloca em risco a saúde de milhares de pessoas.

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