Mostra competitiva do 16º Fica tem mais de 4h de documentários, animações e ficção nacionais e estrangeiros
30 maio 2014 às 08h50
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Produções alemãs, dinamarquesas, argentinas, brasileiras e de outros países foram exibidas em duas etapas na tarde de ontem. O destaque foi para curtas Wind e Inercia
*Enviado a cidade de Goiás
O primeiro dia da mostra competitiva do 16º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica) da cidade de Goiás, iniciado na tarde de quarta-feira (28/5), mostrou a densidade dos discursos presentes nos enredos e a diversidade de filmes que abordam temáticas ambientais do evento. Foram cinco documentários, duas animações e uma ficção que somaram 296 minutos de maratona (4h56min) no Cine Teatro São Joaquim.
Na parte inicial, que começou e terminou pontualmente às 15h e às 17h30, o primeiro filme exibido foi o longa-metragem Ekspeditionen Til Verdens Ende (Expedição para o Fim do Mundo, de 2013). O vídeo de 1h30 minutos é uma produção feita entre a Alemanha, Dinamarca, Noruega, Reino Unido e Suécia, e foi escrito e dirigido por Daniel Dencik, com direção de fotografia de Per Bak Jensen.
Na sequência, outra produção estrangeira: o média HaEmek HaNe’elam (O Desparecimento de um Vale), de Israel, com direção de Irit Gal. Em seus 54 minutos de duração, são mostradas contradições em um ambiente onde se disputa um recurso vital, a água. O conflito entre palestinos e israelenses se dá no vale do rio Jordão, na Cisjordânia.
Enquanto o Exército diz que a área é militar e proíbe o trânsito de pessoas que buscam o líquido –– inclusive destruindo assentamentos ––, do outro lado da divisa é possível ver condomínios e plantações que abusam do uso da água. Lá, eles regam jardins e bananeiras, ao passo que outros não têm uma gota para molhar a soja ou hidratar seus animais.
Passado o discurso trágico, em seguida veio uma produção goiana, último filme da primeira sessão da mostra. Não menos intrigante, o vídeo experimental Ainda Que se Movam os Trens (2013) tem 10min, com direção e montagem dos irmãos Henrique e Marcela Borela e de Vinícius Berger. Gravado em três dias em Pirenópolis, durante o mês de agosto do ano passado, o enredo se passa no meio da Serra dos Pirineus, de onde são extraídas pedras, conhecido como Lajão.
Com o argumento de que 90% da economia da cidade gira em torno da atividade, os realizadores fizeram uma intervenção artística no local, sob a perspectiva de que os trabalhadores protegidos por máscaras arriscam suas vidas entre explosões de dinamite, o sol escaldante e a fuligem das pedras.
O que instiga é a atuação dos artistas, que têm os rostos cobertos e carregam em suas costas pedras e uns aos outros. Em entrevista ao Jornal Opção Online Marcela, que é jornalista e especialista em História Cultural pela Universidade Federal de Goiás (UFG), pontuou que o filme tem como pano de fundo uma discussão sobre trabalho e morte, além da imobilidade humana. Revelando que a locação ocorreu logo após as manifestações de junho, a realizadora, também mestre em História, comentou que o uso das máscaras no vídeo teve influência pelo auge dos protestos, em que a mídia sempre se referia aos manifestantes como um grupo de mascarados.
A segunda parte da exibição foi iniciada pouco depois das 18h30 com o documentário Refugiados em su Tierra (2013), produção argentina liderada por Fernando Molina e Nicolás Bietti. Com 1h36 minutos de duração, o filme gravado no ano de 2009, em Chaitén, no Sul do Chile, apresenta um cenário devastador após a erupção do vulcão homônimo à cidade, um ano antes. Após retornarem ao local depois da tragédia, moradores se mostram desolados pela situação dramática em que se encontram. Com o rio seco e as casas em ruínas, eles tentam recuperar suas identidades. Parte da comunidade tenta se manter na região enquanto o governo chileno tenta removê-los de lá.
O próximo filme foi Inercia (2013), para quebrar o gelo. De curta duração, mas de discurso afiado, a animação é argentina e tem 4 minutos. Mariano Bergara, o Mab, que o dirigiu juntamente com Becho Lo Bianco, listou ao Jornal Opção Online que cerca de 30 pessoas participaram da produção, iniciada em junho de 2010 e finalizada no segundo semestre do ano passado. Ganhador de premiação honrosa em festival de animação em Córdoba, na Argentina, ele afirma que se fossem usados personagens humanos em seu filme, o recado não seria repassado com a mesma intensidade ante o uso de massinhas de modelar.
Os cenários da cidade por onde percorre um homem de nariz engraçado que se vê atolado em anúncios de compra e do estresse cotidiano por toda parte foi feito com papel comum e pintado detalhadamente. O personagem sonha em fugir daquele cenário utilizando uma bicicleta e viaja em seu pensamento, inclusive conquistando uma garota, na cena em que voa rumo à lua pedalando, em referência ao filme E.T.
No entanto, em um lapso de tempo, acorda e se vê na garagem de casa, pensando –– por muito tempo –– se larga a chave do carro ou se sai com magrela. Após quase 20 segundos, a bicicleta é largada e o personagem continua transitando com seu quatro rodas, se mantendo na inércia. “É o que diz a teoria, temos a incapacidade de tomar outra trajetória”, refletiu Bergara, em pesado sotaque castelhano.
Depois, foi exibido mais um goiano, Dergo!, de 10min, filmado com celular e que mostra de forma impactante a situação de crianças e jovens usuários crack no Terminal do Dergo, por onde passa o Eixo Anhanguera, em Goiânia. Dirigido e filmado no período em que Ricardo Alvez trabalhou como cobrador na estação, o vídeo fez muitos presentes se contorcerem e se ajeitarem nas poltronas devido a algumas cenas de agressão física. Impressiona também a fala de um garoto sob efeito da droga. Quando perguntado os motivos que o levaram a entrar no mundo do vício, mal consegue responder: “Uso porque é bom.” Ele disse ainda que começou a fumar a pedra aos 10 anos.
O curta foi seguido pela engraçadíssima Wind (Vento), animação do alemão Robert Löbel, que apresenta, em 3 minutos, a vida de protagonistas que lutam não contra o tempo, mas sim contra vento.
A mostra foi encerrada com Erntefaktor Null (veja trailer), da alemã Helena Hufnagel, de 28min, feito em 2012. O cenário é Zwentendorf, na Áustria, onde funciona a usina nuclear mais segura em todo o mundo, onde é descrito a vida de pessoas que vivem e trabalham próximo ao local. Existe uma escola instalada lá e ativistas do Greenpeace fazem treinamento.
Na tarde de quinta-feira (29) estão sendo exibidas mais oito produções de países como Bélgica, Irlanda, Holanda, Alemanha, Argentina, Itália e Dinamarca, além do Brasil.