Morre o notável historiador Manolo Florentino

12 março 2021 às 12h57

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O pesquisador teve uma parada cardiorrespiratória e faleceu aos 62 anos. Era professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro
A historiografia sobre a escravidão no Brasil é de excelente qualidade. As pesquisas são bem fundamentadas e inovadoras. E entre os grandes historiadores do tema está Manolo Florentino, que morreu, aos 62 anos (nasceu no Espírito Santo, em 1958), de parada cardiorrespiratória na sexta-feira, 12. Ele era professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Além da pesquisa rigorosa, Manolo Florentino escrevia muito bem. Era, como historiador, um escritor consumado. Mas, acima de tudo, era um grande intérprete da escravidão. Sob seu olhar e crivo, os documentos (novos ou já examinados), depoimentos e histórias já contadas ganhavam nova coloração e dizem mais do que pareciam sugerir (o que não significa que “forçava” os dados). Era um intérprete brilhante.
Numa entrevista, Manolo Florentino disse: “A escravidão era a alma do sistema político imperial e sem ela a monarquia não poderia perdurar”. Doutor em História, é autor de um clássico: “Em Costas Negras — Uma História do Tráfico de Escravos entre a África e o Rio de Janeiro (Companhia das Letras, 1997). Trata-se de um livro que tem de ser apontado como “imperdível”.
Numa rede social, o historiador João Fragoso (tão notável quanto Manolo Florentino) escreveu: “Nestes tempos tão difíceis, hoje tivemos mais uma perda: Manolo Florentino faleceu de parada cardiorrespiratória. Por razões que todos sabemos a Historiografia está de Luto. Manolo, como docente, consegui algumas proezas em sua geração: mudou a historiografia brasileira, a do tráfico atlântico de escravos e foi um dos mais importantes e formadores de africanistas do país. Com ele deixamos de ser um simples canavial exportador na colônia e conhecemos mais a razão de sermos o segundo maior país com população de origem africana (o primeiro é a Nigéria, se não estou errado). Como gestor universitário, na condição representante de História junto à Capes, incentivou a obrigatoriedade da existência dos bancos de repositórios digitais de teses e dissertações nas Pós-Graduação. Fato esse que todo, mestrando, doutorando, pesquisador profissional e, portanto, a sociedade em geral sempre lhe será grato. A nossa ainda tão jovem historiografia profissional brasileira perdeu um dos seus”.
Currículo de Manolo Florentino
“Graduado em História pela Universidade Federal Fluminense (1981), mestre em Estudios Africanos – El Colégio de México (1985) e doutor pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense (1991). Professor concursado em 1988 do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro, vinculado à área de História da América. Desenvolve [desenvolvia] pesquisas sobre escravidão nas Américas, África e Brasil. Recebeu a Comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico (2009) e foi presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa de fevereiro de 2013 a fevereiro de 2015. Aposentou-se voluntariamente no Instituto de História da UFRJ a partir de 21 de agosto de 2019”.