Morre Hilary Mantel, a rainha do romance histórico, aos 70 anos
23 setembro 2022 às 13h46
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A escritora inglesa Hilary Mantel, ás do romance histórico, morreu na quinta-feira, 11, em Exeter, na Inglaterra, aos 70 anos. Ela estava trabalhando — escrevendo — quando sofreu um AVC. Foi levada a um hospital, mas não resistiu. “Ela tinha tantos grandes romances à frente. É uma perda enorme para a literatura. Sua sagacidade, ousadia estilística, ambição criativa e visão histórica fenomenal a marcam como uma das maiores romancistas do nosso tempo”, afirma agente literário Bill Hamilton.
Primeira mulher a faturar duas vezes o Man Booker Prize, Hilary Mantel é autora de “O Livro de Henrique” (primeira parte da trilogia sobre Cromwell, eminência parda de Henrique VIII), que rendeu peças de teatro e uma série da BBC de Londres.
“Tragam os Corpos”, de 2012, trata diretamente de Ana Bolena. O último volume da trilogia, “O Espelho e a Luz”, de 2020, conta os últimos dias de Cromwell. Só com a trilogia Hilary Mantel vendeu 5 milhões de exemplares. O livro foi traduzido para 41 idiomas. No Brasil, a autora tem sido publicada pela Editora Todavia.
Hilary Mantel escreveu outros livros requestados, como “A Sombra da Guilhotina” (a respeito da Revolução Francesa), de 1992, e “O Assassinato de Margaret Thatcher” (contos), de 2014 (o livro sobre a primeira-ministra britânica provocou polêmica). Saíram pela Editora Record.
A escritora, pesquisadora infatigável — tanto que é vista como uma romancista-historiadora —, publicou 17 livros. Deixou também as memórias “Giving up the Ghost”.
Aos 27 anos, pesquisando sem parar e planejando escrever o livro “A Sombra da Guilhotina”, começou a frequentar um psiquiatra. Este lhe disse que seu problema era o “excesso de ambição”, não necessariamente financeira. Sua ambição era ser reconhecida como uma escritora poderosa, o que acabou acontecendo. Leitores comuns e historiadores apreciam suas histórias, bem urdidas e rigorosas no trato do fato histórico. Uma endometriose não permitiu que fosse mãe.
“Cromwell e eu chegamos muito longe, se levarmos em conta onde começamos. Gosto de escrever sobre pessoas ambiciosas porque sei o que as move. Cromwell confiava nos seus sentidos, no seu corpo sólido. Eu vivo dentro da minha cabeça e às vezes me esqueço de manter os pés no chão. Portanto, somos opostos em alguns aspectos, e isso dá à minha imaginação de escritora um grande desafio a cumprir”, afirmou Hilary Mantel ao jornal “O Globo”.
Formada pela prestigiosa London School of Economics (onde José Guilherme Merquior defendeu seu elogiado doutorado), Hilary Mantel, antes de se consagrar como escritora, atuou, como assistente social, num hospital geriátrico. Ela era casada com o geólogo Gerald McEwan.
Hilary Mantel acreditava na vida pós-morte? A escritora disse ao “Financial Times” que acreditava, mas não ousava sugerir como era o “além”. “Entretanto, o universo não se limita ao que eu posso imaginar”, sublinhou.